Nove famílias tiveram que deixar imóvel vizinho ao que desabou na Soledade

Fachada do imóvel apresenta risco de desabamento

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  • Perla Ribeiro

Publicado em 20 de junho de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Bruno Wendel/CORREIO

Noves famílias que viviam no imóvel vizinho ao que desabou na madruda de quarta-feira (19), na Ladeira da Soledade, no bairro da Lapinha, foram notificadas pela Defesa Civil de Salvador (Codesal) para deixarem o local. A preocupação do diretor geral da Codesal, Sosthenes Macêdo, é que o número 158 possa cair sobre o imóvel vizinho. "Como há possibilidade de ocorrer um tombamento pra lateral, decidimos tirar as pessoas de lá, para não correrem riscos", explica Macêdo.

As famílias serão cadastradas para receber aluguel social. Entre elas está a de Ítalo Correia, que foi buscar abrigo na casa de parantes da esposa, no Subúrbio. "A gente já fez o cadastro e espera receber o auxílio depois do São João", informou.

Durante vistoria, realizada na quarta-feira (19), foi constatada que a fachada do prédio também apresenta riscos de desabamento. A área foi isolada por fita para evitar que haja circulação de pessoas. O casarão não é tombado, mas está localizado em uma área protegida pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural do Estado (Ipac). 

Sosthenes Macêdo informou que os proprietários tinham sido notificados que o imóvel apresentava riscos de desabamento. "Após serem notificados, eles nos procuraram para tomar as providências e foram orientados a se dirigir ao Ipac. Infelizmente, o imóvel desmoronou antes que fosse tomada alguma providência", informou. Segundo ele, nesse momento, a maior preocupação é em preservar a vida das pessoas. "É um lugar que tem escolas por perto, por onde passa o desfile do Dois de Julho, onde vão ter milhares de pessoas passando ao mesmo tempo por ali.

Funcionários da Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedur) foram acionado para fazer a demolição interna das partes soltas da estrutura do imóvel. Ainda não há previsão de quando o serviço será concluído. Agentes da Transalvador desviaram o trânsito na área do casarão. A operação contou ainda com a atuação da Guarda Municipal, para evitar que as pessoas se aproximassem da área de risco e uma equipe da Limpurb cuidou da limpeza dos entulhos. "Esperamos que seja tomada uma providência o mais rápido possível, evitando assim que ocorra uma tragédia", disse Macêdo.

Segundo o filho de uma das proprietárias do imóvel, que pediu para não ser identificado, os herdeiros do prédio decidiram vendê-lo e, em abril, procuraram a Codesal para saber como proceder, já que foram informados dos riscos de desabamento do imóvel.

"Como está localizado numa região tombada, a gente sabia que não podia fazer as alterações na estrutura de qualquer jeito. Na Codesal, nos orientaram que procurássemos o Ipac para ter autorização para demolição. Demos entrada num documento, que foi protocolado no dia 17 de abril, onde a gente pede orientações sobre como proceder para uma possível demolição ou reforma. Nunca fomos procurados por eles. Só hoje que entraram em contato", lamenta o porta-voz da família, acrescentando que tem o documento assinado e protocolado pelo órgão estadual. Ele diz que o prédio pertencia a avó, que faleceu há quatro anos e viveu no local por mais de 80 anos.

"Eu queria que eles explicassem por que nada foi feito até agora, por que não entraram em contato com os proprietários para dizer que providências tomar, para direcionar se deveríamos fazer repatos ou a demolição. Ficamos de mãos atadas, porque não podíamos fazer nada sem o aval do Ipac", ressalta o porta-voz da família, pontuando ainda que aguardam agora que o Ipac se pronuncie sobre o que será feito com o que sobrou da estrutura: "A gente quer que o Ipac se pronuncie se o resto que está lá deve ser demolido e de quem será essa responsabilidade. Só depois é que iremos buscar uma solução jurídica para o descaso para com que o órgão tratou essa questão", diz.

Procurado, o Ipac se posicionou através de nota. No comunicado, o órgão estadual informou que os imóveis da Ladeira da Soledade são de propriedade privada e que se encontram em área de proteção do Estado como conjunto arquitetônico via Decreto nº 28.398, de 10 de novembro de 1981. "O tombamento não significa a desapropriação ou responsabilização integral do imóvel ou da área tombada, mas sim uma tutela", afirma. O Ipac informou ainda que fez uma vistoria no local no dia 16 de abril e que na ocasião foi constatada a situação precária do imóvel de número 158, sendo indicado "reparos gerais, especialmente no telhado e alvenarias, para evitar o colapso da edificação".

Na nota enviada pelo Ipac consta ainda que "com a vistoria e acompanhamento os proprietário não apresentaram, soluções técnicas ou projetuais para sanar os danos, mantendo seu estado de abandono". Já os proprietários alegam que o imóvel não foi  vistoriado pelo órgão estadual, apenas pela Codesal. "Eles informaram que fizeram a vistoria no dia 16 de abril, sendo que foi só no dia 17 de abril que buscamos o Ipac para saber que providência tomar diante da situação do imóvel. Nunca nos procuraram", rebate o porta voz da família.