Novo arquivo municipal de Salvador começa a ser construído no Comércio

Local terá museu e prédio de 11 andares  

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  • Gil Santos

Publicado em 24 de outubro de 2019 às 21:09

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Betto Jr/ CORREIO

Dois dias depois de a Lei Áurea ser aprovada no Rio de Janeiro, vereadores de Salvador fizeram discursos acalorados na tribuna destacando que a decisão de abolir a escravidão “elevou o nível moral da nação”. Naquele dia, 15 de maio de 1888, eles determinam, através de decreto, que militares saíssem pelas ruas para anunciar a libertação do povo negro ao som de tambores.

Essas e outras histórias estão documentadas no Arquivo Histórico Municipal de Salvador. São diversas prateleiras com livros, decretos, certidões e outros documentos que serão transferidos da Rua Chile, onde funciona a sede do órgão, para um edifício de 11 andares que será construído no Comércio. Parte dos 4 milhões de registros serão expostos no Museu Casa da História, equipamento que será construído em anexo ao prédio e que vai contar a história de Salvador. Perspectiva após a resturação do prédio (Foto: Divulgação) A ordem de serviço para a construção do arquivo municipal e do museu foi assinada na tarde desta quinta-feira (24), pelo prefeito ACM Neto. A obra tem início imediato e 15 meses para ficar pronta, ou seja, até o início de 2021. Ele destacou a importância do equipamento para a história de Salvador e para o turismo da cidade.

“Esse é o mais antigo arquivo público das Américas. Vai ser um espaço importante de visitação cultural e turística da nossa cidade, além de ser um espaço para a educação das nossas crianças e jovens. Essa é mais uma ação importante para a dinamização do Centro Histórico e para a valorização da cultura e do turismo de Salvador”, afirmou. Prefeito assina a ordem de serviço (Foto: Divulgação/ PMS) Ele será construído na praça Cairú e vai funcionar ao lado do Mercado Modelo. A área total incluí um prédio que está em ruínas, e que será restaurado, e dois terrenos que ficam atrás dele, entre as ruas Miguel Calmon e Portugal.

Para a diretora da Associação de Comerciantes do Mercado Modelo, Analu Garrido, o novo equipamento pode ajudar a impulsionar as vendas no comércio da região. Ela acredita que o terraço que será construído no prédio, com vista para a Baía de Todos-os-Santos, vai atrair os visitantes.

“É de estrema importância essa ação porque nós estávamos com esse prédio há muitos anos deteriorado, agora, ele será restaurado para receber o arquivo público e com essa mudança a região vai ficar mais bonita, o que vai atrair mais turistas e aumentar as nossas vendas. Somos a primeira cidade do Brasil. Nossa história é tão bonita e tão rica. Merece ser conhecida”, disse. Cópia da certidão de nascimento de Catarina Paraguaçu (Foto: Gil Santos/ CORREIO)  Diferentemente do arquivo público atual, o novo prédio não será um espaço apenas de pesquisa. O projeto prevê a construção de áreas para oficinas e cursos, salas de audiovisual, biblioteca, um auditório para até 150 pessoas, além de um terraço onde haverá um café com vista para o pôr do sol. O secretário municipal de Cultura e Turismo (Secult), Cláudio Tinoco, disse que a experiência de visitar um arquivo público vai mudar.

“É um acervo de 4 milhões de documentos, escritos e audiovisuais, que contam a história de Salvador. Mais do que melhorar o acondicionamento de todo esse acervo, que é um dos mais ricos das Américas, vamos facilitar o acesso da população a esse material, pesquisadores e estudantes. A perspectiva é de que seja também um atrativo turístico”, contou.

As obras de construção e restauração da Casa da História e Arquivo Público Municipal têm investimento de mais de R$ 27,4 milhões e serão executadas pelo Consórcio Prodetur – Salvador, formado pelas empresas Metro Engenharia e Consultoria e Construtora BSM. Os recursos foram obtidos por meio de empréstimo junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). São 4 milhões de documentos (Foto: Mauro Akin Nassor/ CORREIO) O Arquivo Municipal foi criado em 1931 e mudou de endereço três vezes antes de ser abrigado pela Fundação Gregório de Mattos, em 1986. Atualmente, os arquivos estão distribuídos em três pavimentos e podem ser consultados através de visitas agendadas.

As páginas guardam histórias como a de Eduardo Rodrigues da Costa, 28 anos. Um pernambucano que em 1890, um ano depois da proclamação da república, perdeu o título de eleitor. O documento era bem maior que a versão impressa de hoje. Continha o nome do pai do eleitor e até o estado civil. E, não se sabe como, foi parar no arquivo municipal.

Veja documentos importantes do Arquivo Histórico Municipal de Salvador

Certidão de Catarina Paraguaçu – Uma cópia do documento, datado de 1528, está disponível no arquivo para pesquisa. É um dos poucos que tem pasta própria devido a importância.

Título de eleitor – Existem edições originais dos primeiros títulos de eleitor do Brasil, de cidadão baianos e de outros estados. O documento era bem maior que a versão impressa de hoje. Continha o nome do pai do eleitor e até o estado civil.

Termo de cessão da Câmara de 1808 – Ele que descreve como a população deveria se comportar durante a estadia da Família Real em Salvador, com casas iluminadas e janelas decoradas.

Dois de Julho – Vereadores destacaram a coragem dos combatentes e nomes ilustres do movimento, além de saudar o imperador D. Pedro I.

Decreto de 15/05/1888 – Sobre a aprovação da Lei Áurea. Os vereadores dizem que ela elevou o nível moral da nação e determinam que militares saiam andando pelas ruas para anunciar a abolição ao som de tambores.

Sessão de 16/11/1989 - Narração com os feitos da proclamação da república. Graças ao telégrafo, a novidade chega à Salvador um dia depois do fato. A Câmara Municipal de Salvador apoiou o ato.

Fevereiro de 1824 – Discussão sobre a aprovação da Primeira Constituição Brasileira, aprovada em novembro de 1823. Os moradores de Salvador são obrigados a jurar a constituição.   

Escravidão – Uma série de pastas organizadas em duas prateleiras guardam os documentos de compra e venda de escravos em salvador, com os nomes e endereços dos proprietários e compradores, além da nacionalidade dos negros escravizados.

Decreto de 1716 – Ele que proibia o uso de atabaques e marimbas nas ruas e praças de Salvador.

Década de 1940 – Diversos documentos discutem o termo de contrato do primeiro plano de urbanismo da cidade de Salvador, e os efeitos e peculiaridades.

Sabinada - Vereadores comentando sobre os efeitos da revolta separatista e fizeram até um inventário de tudo que tinha no local para evitar furtos e destruição por parte dos revoltosos.