Novo protesto acontece após crime no Dois de Julho: 'Matou ontem e está solto hoje'

Idoso de 98 anos alegou legítima defesa e foi liberado pela polícia

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  • Da Redação

Publicado em 23 de agosto de 2021 às 12:02

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO
. por Arisson Marinho/CORREIO

Moradores do Dois de Julho fecharam no final da manhã desta segunda-feira (23) o acesso ao bairro na Rua Carlos Gomes em protesto após a morte de Welton Lopes Costa, 34 anos, ontem, no bairro. O idoso de 98 anos acusado pelo crime, identificado somente com Tzeu e também morador do local, foi ouvido e liberado pela polícia. "Matou ontem e está solto hoje. Ele é um monstro!", dizia uma manifestante.

O grupo saiu da casa da vítima caminhando e fechou a via usando materiais como madeiras, pneus, garrafões e objetos de plástico, ateando fogo no local, Uma viatura da Transalvor foi para o local, assim como uma equipe da Polícia Militar. Tudo ficou parado - somente motos conseguiam passar no local inicialmente.

"Ele matou Welton por nada. Matou um pai de família, do nada e alega legítima defesa?", questionou uma das manifestantes. "Não adianta parar a gente. Vão mandar a gente apagar. A gente apaga e faz em outro lugar. O que não pode é esse crime ficar sem punição", disse outro, falando sobre o fogo ateado no local.

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Amigos mostravam cartazes pedindo justiça e a prisão do idoso."Ele deu sorte que não houve tempo de linchá-lo. Ninguém gosta dele aqui. Um idoso que vive armado e atirando nas pessoas", disse outra manifestante, falando sobre o histórico conturbado do idoso no bairro.

Após negociação, uma das três faixas foi liberada. Cerca de meia hora depois, o protesto acabou. A PM usou baldes de água para extinguir o fogo. 

Crime Um homem de 34 anos foi morto a tiros na tarde do domingo (22) no Largo Dois de Julho, em Salvador. Welton Lopes Costa foi baleado durante uma discussão com um idoso de 98 anos. Um vídeo feito por uma testemunha flagrou o momento do crime. Outro registro mostra o momento em que o irmão da vítima e outras pessoas impedem o idoso de sair do local.

"Por que o senhor fez isso com meu irmão? É um pai de família, trabalhador. Você vai ficar aqui. Você está preso em flagrante", diz o irmão de Welton nas imagens. O filho de 14 anos e a esposa da vítima também presenciaram o crime - ela também ficou ferida.

Segundo moradores, Welton comprou um carro novo ontem e estava celebrando. Todos os envolvidos moram na região. A esposa dele, Jennifer, que trabalha em uma padaria da região, demorou para voltar para casa e ele acabou indo até o local para buscá-la porque os dois filhos estavam com fome. Na volta para casa, os dois começaram a brigar. 

O suspeito, um idoso identificado como Tzeu, que é policia militar aposentado, segundo os moradores, estava bebendo em uma churrascaria próxima desde cedo. Ele viu a discussão e se aproximou. O vídeo mostra que ele seguiu o casal, mas foi ignorado pelos dois. O idoso é conhecido como uma pessoa temperamental e agressiva pelos moradores da região, que dizem que é normal ele andar armado. As imagens não mostram nenhum tipo de agressão - a cena sai de foco, mas logo é possível ouvir os disparos. (Foto: Divulgação) Testemunhas contam que ouviram ele dizer: "Olha para cá, seu filho da puta!". Welton chega a virar - momento em que o idoso atira três vezes. Dois tiros atingiram Welton no peito e o terceiro atingiu Jennifer no pé. O filho adolescente, que tinha acompanhado o pai, se afastou ao notar a presença de Tzeu, justamente por saber do histórico dele, mas voltou ao ouvir a confusão e viu o pai ser baleado. Welton chegou a ser socorrido ao Hospital Geral do Estado (HGE), mas não resistiu. Jennifer foi levada para a mesma unidade.

Logo depois do crime, o idoso é dominado pelos moradores. Levado para a delegacia, ele alegou que agiu para se defender após ser agredido no braço, de acordo com as testemunhas. Também contou que Welton estava agredindo a mulher, o que não aparece nas imagens. Os moradores dizem que a lesão no braço dele foi do momento após o crime, quando parte das pessoas tentou linchar o idoso e outra parte impediu. Uma equipe do 18º Batalhão da Polícia Militar foi até o local após o crime.

"Ficamos sabendo na delegacia que o assassino disse que atirou porque Welton teria agredido ele primeiro. Isso é mentira. Todos viram que isso não aconteceu e as imagens mostram também que ele é mentiroso, que a todo momento era ignorado por Welton e a mulher. Depois que ele matou Welton, as pessoas queriam linchar ele, por isso ele ficou com uma marca no braço", contou um comerciante.

Em nota, a Polícia Civil diz que o caso é investigado pela 3ª Delegacia de Homicídios (DH/BTS). O idoso foi ouvido e liberado, mas continua sendo investigado, informa a instituição. A arma, um revólver calibre 32, foi apreendida e imagens de câmeras de segurança serão analisadas. O suspeito poderá ser indiciado por homicídio e tentativa de homicídio.