Novo vírus ameaça produção baiana de maracujá

Considerado extremamente agressivo, o vírus está presente em pomares do sudoeste da Bahia

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  • Georgina Maynart

Publicado em 24 de abril de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

Depois de sete anos monitorando 57 plantações de maracujá em 10 municípios baianos, pesquisadores da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb) identificaram um vírus que está causando grandes prejuízos em pomares da região.

O vírus é o "PSLDV", sigla que em inglês significa Passionfruit severe leaf distortion virus. Extremamente agressivo, ele é capaz de deformar as folhas e os frutos do maracujazeiro, e já provocou a erradicação de centenas de plantações no interior da Bahia.

"Este vírus se dissemina muito rápido. Depois que aparece na plantação, em menos de 156 dias todas as plantas já apresentam os sintomas. Ele já chegou a prejudicar até 100% da produção em algumas fazendas", afirma a coordenadora da pesquisa e professora Gisele Brito Rodrigues, do Departamento de Fitotecnia e Zootecnia da Faculdade de Agronomia da Uesb.  Vírus causa deformações em folhas e frutos e é capaz de provocar a perda de até 100% da produção de um pomar. (Foto: Ascom Uesb) A identificação do vírus nas lavouras baianas aconteceu por acaso. A professora fazia a pesquisa de doutorado, atrás de uma outra virose já conhecida nos pomares de maracujá, quando diagnosticou o PSLDV. Antes o vírus havia sido visto apenas em laboratório, quando foi identificado pela primeira vez em 2010, por pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa.

Desta vez, o mapeamento genético foi realizado através de uma parceria com a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo. As plantações analisadas estão nos municípios de Barra da Estiva, Brumado, Contendas do Sincorá, Dom Basílio, Ituaçu, Jussiape, Livramento de Nossa Senhora, Manoel Vitorino, Rio de Contas e Tanhaçu. 

A presença do vírus nas lavouras baianas foi registrada na Revista internacional Scientia Agrícola, através de um artigo científico assinado pelos sete pesquisadores que participaram do estudo. De acordo com os cientistas, o vírus pertence ao gênero Begomovirus e tem como vetor a mosca branca. "Os métodos de controle para a begomovirose do maracujazeiro ainda são limitados. Esta mosca branca tem uma capacidade muito alta de infestação. Muitas vezes nem através de controle químico é possível controlar. A nossa orientação é que sejam criadas barreiras de contenção para evitar que o vírus se espalhe por outras regiões produtoras", acrescenta a pesquisadora.A virose impede o crescimento dos frutos e causa deformações extremamente severas. Na região sudoeste da Bahia, muitos produtores rurais estão chamando o vírus de "cara de gato".

Os pesquisadores afirmam ainda que o PSLDV é mais grave do que o CABMV, vírus mais comum, que causa o endurecimento do fruto, mas não chega a provocar perda total para os produtores rurais.  O vírus é causado pela mosca branca, uma das principais pragas presentes na fruticultura brasileira. (Foto: Ascom Uesb) Impacto econômico

O Brasil é o país que mais produz maracujá no mundo. Segundo o IBGE, a Bahia é o maior produtor nacional da fruta, responde por 37,63% da produção brasileira.

Existem mais de 35 mil produtores de maracujá espalhados por todas as regiões do estado. Ano passado, saíram dos pomares baianos mais de 110 mil e 470 toneladas de maracujá.

Não há dados exatos de quantas toneladas do fruto já foram perdidas por causa da virose, nem o volume total de prejuízos. O que se sabe é que o quilo do maracuja está variando de R$ 2,50 a R$ 4,00, de acordo com as tabelas das principais Centrais de Abastecimento. Em pomares sadios, a produtividade média varia de 10,7 a 13,4 toneladas de maracujá por hectare. O que pode representar um rendimento médio, ou prejuízo, de mais de 38 mil reais por hectare. 

A presença do vírus ainda está restrita a região Sudoeste da Bahia, e não há registro em outros estados. 

"O estudo em questão também será de grande importância para a comunidade científica, por se tratar de um vírus novo, até então sem estudos em campo. As informações servirão de base para inúmeros outros estudos relacionados ao entendimento do patossistema maracujazeiro /PSLDV, inclusive para a adoção de medidas de controle", afirma o professor Quelmo Silva de Novaes, orientador da pesquisa.