O amanhã, mesmo que demore, sempre chega

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  • Horacio Hastenreiter Filho

Publicado em 21 de abril de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Segundo o físico britânico Stephen Hawking, uma das hipóteses mais prováveis para não recebermos visitantes de outros planetas aqui na terra seria a destruição possivelmente inevitável que quase todas as civilizações inteligentes acabam trazendo para si próprias. Durante o período da Guerra Fria, não foram poucos os que consideraram que a humanidade esteve por um fio (ou por um botão vermelho, metáfora mais utilizada). Estudiosos apresentam a ideia de grandes filtros, concebidos como eventos cataclísmicos que podem ter descontinuado civilizações cosmos afora. 

É natural que a crise epidêmica pela qual passamos nesse momento, nos faça pensar na finitude numa perspectiva que transcende a individual. Não exatamente pela COVID-19, que, apesar do elevado contágio e da preocupante letalidade, não teria, a princípio, o potencial para dizimar a humanidade.  Se as armas nucleares estiveram no cerne das preocupações principais nas décadas de 60 e 70 do século passado, outras ameaças são mais aflitivas nesse momento. Novos vírus tipo Corona vêm surgindo nas últimas décadas e nada impede que futuras gerações aliem elevadas capacidades de sobrevivência e letalidade.  As temperaturas no planeta continuam a subir descontroladamente e já se refletem na incidência crescente de tragédias climáticas, como ciclones, furacões, temporais e secas. As previsões são as mais tenebrosas caso a inação dos líderes mundiais não detenha o aquecimento global, o que permitiria uma elevação de três graus centígrados na temperatura média do planeta ao longo desse século. 

De natureza bastante distinta e talvez mais distante do imaginário coletivo esteja a ameaça trazida pela inteligência artificial. Dentre as diversas preocupações apresentadas pelo historiador israelense Harari para o século atual, nenhuma é superior ao descontrole no desenvolvimento e uso desse tipo de tecnologia, capaz de causar sérios danos ao papel social do homem, para que, 2001 à parte, nos detenhamos apenas nas conjecturas menos desconfortáveis. 

Se algo de positivo pode ser atribuído ao sofrimento contemporâneo imposto à humanidade é o fato de que, na epidemia de coronavírus, a mentira tem perna curta. Líderes mundiais que minimizaram o seu alcance e poder devastador foram desmentidos tragicamente em duas ou três semanas. A maioria deles, vale conferir, também desdenha das mudanças climáticas e se despreocupa com controles mais rígidos aplicados ao processo produtivo, o que permite que a ameaça de uma futura gripe aviária devastadora esteja permanentemente a nos rondar e que o estabelecimento de perspectivas ética e social para a agenda tecnológica permaneça distante da  agenda política. O grande mal de desprezar o amanhã é que, mesmo que demore, ele sempre chega. Pelo menos, enquanto não perecermos como civilização diante do nosso grande filtro.

Horacio Nelson Hastenreiter Filho é professor associado e diretor da Escola de Administração da UFBA

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