O Bahia está cada vez maior

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  • Miro Palma

Publicado em 19 de abril de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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A relação do futebol com a sociedade em que está inserido vira e mexe aparece por aqui. Pra mim, é impossível ler qualquer esporte descolado da realidade social a qual ele faz parte. E por isso, é muito fácil ver nos esportes, especialmente no futebol quando falamos de Brasil, os reflexos do que costumamos ver em nosso dia a dia, sejam eles bons ou ruins. Não economizo linhas quando é preciso falar de episódios negativos, que não são poucos, infelizmente. Mas, também, abro espaço para iniciativas positivas como foi a última campanha lançada pelo Bahia.

Intitulada Não tem jogo sem demarcação, a ação apoia a demarcação de territórios de povos indígenas. Divulgado na última terça, o vídeo integra uma série de ações que celebram não só o dia - que é hoje -, mas o mês dos índios. Ontem, na véspera, os jogadores entraram em campo na partida contra o Londrina, pela Copa do Brasil, com nomes de personalidades indígenas como Mário Juruna, cacique xavante e primeiro deputado federal indígena do Brasil,  Sônia Guajajara, coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e Mané Garrincha, ex-jogador que era descendente de índios fulniôs.

Os nomes como homenagens nas camisas tricolores se tornaram recorrentes em períodos comemorativos. Uma ação simples, porém muito importante para resgatar a memória daqueles que fizeram e fazem a diferença em diferentes âmbitos da sociedade. No entanto, o que chamou a atenção foi o carro-chefe da campanha: o vídeo.

 Por que chamou tanta atenção? Talvez porque um grande clube do Brasil nunca tenha se posicionado com relação ao tema. Ou ainda, talvez, porque em tempos de tantas tensões sociais, falar sobre um conflito de terras através de um time de futebol seja algo - no mínimo - inusitado. O fato é que o Bahia chamou a atenção de todos para a causa e para si mesmo também.

E aí entra o que eu vou chamar de “x” da questão. Desde a criação do Núcleo de Ações Afirmativas, o tricolor baiano vem colecionando iniciativas de sucesso. Golaços, melhor dizendo, porque é óbvio que o resultado positivo dessas campanhas impactam diretamente na imagem do Bahia. E isso é bom. Ter o nome e a marca do clube vinculados às repercussões positivas é muito importante.

No entanto, mais importante do que “lacrar” é ver que todo esse movimento tem criado marcas significativas no time, em sua torcida e no esporte. O Bahia se consolida como um clube democrático. Um clube disposto a representar toda a diversidade da sua torcida. E, principalmente, um clube que entende a sua relevância política. E não me venham pra cá falar de partido daqui, de partido de lá. Isso não tem nada a ver com o posicionamento tomado pelo tricolor. Isso não tem nada a ver com essa análise que já chega perto do fim. 

A simples existência de um clube de futebol - ou de qualquer outro esporte - já é uma manifestação política. É só lembrar do Bangu e os primeiros atletas negros a ingressar em um time de futebol brasileiro, do futebol feminino por si só, dos atletas assumidamente LGBTQI+ em diversas modalidades, das faixas pretas nos braços, dos minutos de silêncio, de hinos não cantados, de atletas de joelho… O esporte é um ato político, especialmente por aqui.

Miro Palma é jornalista e subeditor de Esporte. Escreve às sextas-feiras.