O Carnaval de 1919, de mascarados a espaço para o povo

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  • Nelson Cadena

Publicado em 1 de março de 2019 às 15:01

- Atualizado há um ano

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O Carnaval de 1919 - cem anos transcorridos -  foi o primeiro realizado depois da guerra, as consequências para as festas de Momo foram impactantes em função do desabastecimento das fantasias e alegorias importadas da Europa, assim como de outros produtos de farto consumo, a exemplo dos lança-perfumes fabricados na Alemanha, epicentro do conflito armado. Não podemos afirmar que os anos de guerra tenham ameaçado a não realização do Carnaval. A festa apenas se empobreceu. Os grandes clubes (Fantoches, Cruz Vermelha e Inocentes em Progresso) perderam brilho, luxo, em plena crise econômica não cabia mais o critério de ostentação. Os dois primeiros chegaram a suspender seus desfiles.

Mas, se a guerra mundial deixou de ser o bicho papão, a guerra interna entre as forças políticas dos sertões e da capital chegou a assustar a população. Os jornais oposicionistas falavam em invasão sertaneja de mascarados assassinos, o que não ocorreu e, no ano seguinte, o assunto foi requentado, as diferenças políticas tinham se acentuado; confiados nos boatos, alguns clubes suspenderam a sua programação. Terrorismo da mídia apenas.

O que de fato se viu de mascarados no Carnaval de 1919 foi a preponderância da fantasia do Tio Sam, também popular no Carnaval de 1918. Representava o herói que ajudara a derrotar o Kaiser. A grande novidade do Carnaval do século passado foi a tentativa de se criar um grande clube da mesma estirpe dos três acima referidos, foi denominado de Tenentes do Diabo, homônimo da tradicional agremiação do Rio de Janeiro. Desfilou com fantasia nas cores vermelho e preto. 

O Carnaval de 1919 foi o Carnaval dos cordões e dos bailes de mascarados nos clubes e também da afirmação da Baixa dos Sapateiros como o espaço preferencial para o Carnaval popular, do Zé Povo, como se dizia naquele tempo, com apoio do comércio local e cujo ponto de referência - digamos que a passarela oficial -  era o Largo de São Miguel. Entre os cordões, os maiores destaques ficaram com os Filhos da Candinha; Geishas em Folia; A Censura; Elite Carnavalesca; Corcundiários em Folia; KaKaRaKá; Maricota Sai de Chuva; Bloco dos Promovidos; Repenica; Camponesas em Folia; Zíngaros Carnavalescos; Baratas em Folia; Bloco do Garcia; Pierrettes em Bincadeira; Mata Borrão; Os Africanos; Cais do Ouro em Mudança; Damas de Ouro; Costureiras em Progresso...

Ao contrário do que se consolidou na memória do Carnaval, a festa na Baixa dos Sapateiros não era tão excludente assim como alguns afirmam. No espaço também desfilavam blocos de elite como Inocentes em Progresso e os Tenentes do Diabo. E desfilavam corsos, os mesmos que se exibiam na Rua Chile; os carros com originais decorações como os de Henrique Lanat, Rafael Avena e Teófilo Vasconcelos, dentre outros. No Carnaval do ano referido, Lanat venceu o concurso da categoria e levou o prêmio de um porta-cartões de prata.

Nos clubes sociais e bailes de salão, a animação correu por conta do Cassino Espanhol, Euterpe, Politeama, Cine Jandaia, Cine Olímpia, Teatro São João, Café Suíço e em alguns hotéis. O Carnaval de 1919 foi um divisor de águas, assimilando as lições da guerra: menos luxo e menos influência europeia. E mais criatividade com o auge das pranchas de bonde, uma invenção baiana, verdadeiros camarotes com grupos de foliões e uma banda em cima, que se deslocavam de um lugar a outro, pelos trilhos da Companhia Circular.