O Evangelho segundo a inocência do fútil-ball contra os fariseus

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  • Paulo Leandro

Publicado em 15 de julho de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

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- Não ficará pedra sobre pedra.

Os homens insistem em brincar de deus e afrontam a ciência e o valor da vida para voltar às competições de fútil-ball em meio à mais devastadora pandemia desde a peste bubônica do século XIV.

- Não faças aos outros o que não queres que os outros te façam a ti.

Os serviçais dos dirigentes clandestinos decidem em videoconferências, apoiados por empresas e por ventríloquos, quem deve viver ou morrer, pois já há jogadores testando positivo para a covid-19 antes mesmo de entrar em campo, mas é preciso fazer o dízimo entrar na federação e nos clubes.

- O sábio de coração será chamado prudente, e a doçura dos lábios aumentará o ensino.

Não seria mais sensata, e portanto, plena de moderação, a atitude de aguardar, cada qual em sua casa, em sua sede, o momento de cessar o avanço da doença, para só então, seguindo a voz de quem conhece, cientistas e médicos, voltar a disputar as competições, moderadamente?

- O entendimento para aqueles que o possuem é uma fonte de vida, mas a instrução dos tolos é a sua estultícia.

Os países mais ansiosos tentaram conciliar a pandemia com a economia convencional – e dentro dela, os jogos; estes tiveram mais cadáveres a chorar e, se a vida não é o bastante, ganharam menos dinheiro, com o retorno, gradual, às atividades, mesmo assim, parcialmente.

- Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas!

O modelo econômico ruiu nos efeitos da pandemia e, com ele, dentro dele, o fútil-ball, e todos aqueles aproveitadores da credulidade das pessoas: a malícia e a repetição da mentira não serão suficientes para fazer tudo voltar a ser como era, pois o ‘novo normal’ é um engodo.

 - Serpentes! Raça de víboras! Como vocês escaparão da condenação ao inferno?

Arriscais a integridade dos inocentes, mandando a campo e noticiando como banais os confrontos impossíveis, pois o simples contato e a falta de distanciamento, o respirar compartilhado e sem máscaras, poderão trazer a morte pela rápida destruição dos pulmões, antes que a ambulância chegue. Morreremos ainda no vestiário.

- Deixai vir a mim os pequeninos e não os impeçais.

A inocência é a salvação de todo futebolista. O jogador, o torcedor, o cronista e o profissional do fútil-ball em geral carregam em si a alegria do coração de uma criança, exceto quando impõe-se a sagacidade de quem visa apenas lucrar e expandir sua maldade.

- Bem-aventurados os mansos porque eles herdarão a terra.

Aos jogadores, cujos contratos envolvem gordas cifras, distribuídas entre seres midiáticos, patrocinológicos e vendilhões da casa do comércio, competiria apenas aceitar entregar seus corpos sãos para fazer rodar o moinho do dinheiro. Aos de poucos recursos e contratinhos breves, restará o peso da cruz e a coroa de espinhos.

- Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça.

À imprensa resistente, livre e autônoma, com seus cronistas firmes no dever de defender os valores do conhecimento, da moderação e da coragem, é preciso sempre reverenciar, pois as interpelações judiciais de advogados servis às najas são as armas dos maus e dos fariseus.

- Bem-aventurados os que choram porque eles serão consolados.

O retorno irresponsável, em bases econômicas e negacionistas, causará dor e sofrimento, inclusive àqueles que pensam estar imunes à peste junto a seus familiares e entes queridos; basta dar o tempo ao tempo e o mar de lágrimas verterá sobre os estádios e as arenas vazios de vida e amor.

- Não ficará pedra sobre pedra.

Para quem duvida, basta assistir a este clássico, e verá a quem se deve verdadeiramente escutar: 

https://www.youtube.com/watch?v=SSbgwaoq1Yw&t=16s

Paulo Leandro é jornalista e professor doutor em Cultura e Sociedade.