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Nelson Cadena
Publicado em 30 de julho de 2020 às 05:00
- Atualizado há um ano
Em março de 1943, o jovem paraibano Celso Furtado, então residindo no Rio de Janeiro, era convocado para a reserva da Aeronáutica, e, logo mais, alistado para compor as fileiras do exército brasileiro junto ao exército aliado que combateria na Itália, durante a II Guerra Mundial. Findo o conflito e, após o seu retorno ao Brasil, Furtado lançava o livro “De Nápoles a Paris. Contos da Vida Expedicionária”. Foi a primeira obra e, única no estilo romance, do economista que produziu 34 livros e ensaios e que nestes dias é celebrado pelo transcurso de seu centenário de nascimento.
O romancista Celso Furtado, na sua estreia nas letras, era também o jornalista Celso Furtado, redator da prestigiada Revista da Semana que, na década de 1940, dividia com O Cruzeiro a preferência dos leitores. Escrevia crônicas, artigos e reportagens e representava a publicação em solenidades públicas. Também redigia publicidade. Em maio de 1942, publicou uma bela página sobre o Mahatma Ghandi que vale a pena rever e, em 1947, uma reportagem no estilo New Journalism, sobre os efeitos do pós-guerra nas montanhas da Bósnia. Pincelava notas sobre economia, já se revelava o futuro economista que teria grande influência na política brasileira. Foi redator, ainda, do Correio da Manhã.
Furtado não foi o único brasileiro a deixar registros da guerra. Rubem Fraga publicou “Com a FEB na Itália-crônicas, reportagens, literatura da notícia””, um conjunto de crônicas escritas, como correspondente de guerra, para o Diário Carioca, algumas tinham sido censuradas pelo Departamento de Imprensa e Propaganda-DIP. O livro de Celso Furtado tinha também o objetivo de apresentar uma narrativa do ocorrido no campo de batalha, ele muito mais próximo dos acontecimentos na sua condição de pracinha com patente de tenente.
“De Nápoles a Paris”, edição da Livraria Zélio Valverde, é uma coletânea de contos que o autor definiu como “substancialmente verdadeiros”, uma maneira de dizer que os fatos romanceados se inspiraram em episódios reais por ele observados e vividos. Definiu sua narrativa como “fatos gerais... experiências gerais que couberam a todos nós”. Uma frase chama a atenção no início da obra: “Em toda a solidão humana que foi o torvelinho da guerra, o brasileiro não esteve só. Acompanhou-o sempre, gentil e terna, a mulher italiana”.
A seção de livros do Jornal das Moças descreveu a obra como “contos de um tom romanesco, nos quais se narram, com viveza de graça e estilo, aventuras galantes e sentimentais, pondo em nítido relevo os tesouros da bondade, as riquezas da ternura acumuladas no coração das mulheres Italianas”. A crítica especialista da revista Letras e Artes” considerou “fraco” o conto “José e Maria”, mas fez a ressalva, o autor tinha jeito para escrever e senso de observação, “qualidade essencial no ficcionismo”.
A obra não deve ter agradado muito o Celso que nunca mais escreveu esse gênero de literatura. Seu segundo livro, publicado em 1954, versava sobre economia: “A economia brasileira” e logo (1956) lançava “Uma Economia dependente” e, em 1958, “Perspectivas da economia brasileira”. E no ano seguinte, a sua obra prima, ”Formação econômica do Brasil”. Furtado presidiu o BNDES, criou e presidiu a Sudene, foi ministro do Planejamento no governo João Goulart e da Cultura, no governo Sarney, no tempo em que para o cargo eram nomeados homens de cultura. E Celso era um intelectual, já consagrado no Brasil e respeitado e admirado no exterior.
* Nelson Cadena é publicitário e jornalista, escreve às quintas-feiras