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Paulo Leandro
Publicado em 20 de novembro de 2017 às 08:00
- Atualizado há um ano
Copa do Mundo de futebol. Definidas as 32 seleções que vão à Rússia em 2018, celebramos, uma vez mais, o que realmente importa: a oportunidade de formarmos um só grupo, acima de etnias, classes, credos, sexos e gostos. O grupo de todos os humanos!
Chamamos humanidade a este grupo único que nos iguala moralmente, pois temos as mesmas condições de disputar, dentro de um regulamento estabelecido em conjunto. Não há maior conquista ética que reunir o mundo inteiro, toda a humanidade, numa Copa.
A Copa seria, assim, uma adaptação da guerra, ou a sublimação dos nossos conflitos, utilizando a bola como paradigma válido para todos e para todas. Qual a importância de lembrar que a Copa do Mundo é a maior realização do conceito ético de humanidade?
É que o conceito de humanidade não nasceu do nada. Foi resultado de uma intensa elaboração planetária iniciada na Grécia Antiga, e remodelado com o pensamento cristão, até chegar à modernidade. É nosso maior patrimônio: dele derivam os direitos humanos.
Até podermos pensar o mundo como formado por um grupo só de humanos, passamos muitos séculos acreditando que só afortunados tinham direito a uma vida boa. Ainda hoje, quando lamentamos a ausência de uma Itália, por exemplo, é este conceito que resiste.
Antes da humanidade como um grupo só (negros, brancos, pardos, lilases, cor-de-abóboras, tudo junto), entendíamos como normal a dominação de grupos sociais, países e nações por outros considerados naturalmente melhores e abençoados pelo cosmo.
O conceito de humanidade está muito nítido nas eliminatórias da Copa, quando aceitamos juntos um regulamento que permite à pequenina Islândia um lugar ao gelo (ao sol não seria apropriado para este país). Imagina, a Islândia vai à Copa e a Itália não vai? Pois é.
A Islândia não nasceu super-dotada para o futebol. Precisou trabalhar muito para alcançar este impressionante resultado. Formada por jogadores amadores e instalada num pedaço de terra bem gelada, esta seleção é uma belíssima prova de dignidade moral.
É no trabalho que está a dignidade moral e não, a priori, de nascença, nas origens. Portanto, quando temos uma seleção viking classificada e uma italiana (além da Holanda) eliminada, é porque o conceito de humanidade está valendo e isto é muito alvissareiro.
Num mundo entristecedor no qual múmias paralíticas saem de seus sepulcros para defender etnias superiores, modos de amar melhores que outros e – pasmem – deuses autorizados e outros interditados, imagina o que é fazer uma Copa de toda a humanidade!
Os africanos estão dentro: Nigéria e Senegal, irmãs de Salvador; Marrocos, Tunísia e Egito. Fazem parte da mesma humanidade da Alemanha, França, Inglaterra e outras fortes. Numa Copa da nobreza, só teriam vez os gigantes europeus, EUA, China e Japão.
O fato de a América do Sul ser respeitada - não apenas tolerada - como um pedaço do mundo importante para o futebol também revela o quanto a Copa do Mundo nos ensina como prova decisiva de que a humanidade já deu certo nem que seja com a bola nos pés.
Os resquícios da aristocracia persistem, mas a hegemonia é do conceito de humanidade como um grupo só - vale repetir - feito de gente de todo jeito, que se encontra para ver quem bate o melhor bolão do planeta: que tal fazermos do mundo uma Copa de todos?
Paulo Leandro é jornalista e prof. Dr. do Centro Universitário Unirb