Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Ivan Dias Marques
Publicado em 18 de junho de 2019 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
Nesta terça-feira (18), Daniel Alves voltará ao estádio em que atuou pela primeira vez como profissional. Se a Fonte Nova está bem diferente, remodelada em relação ao local onde aquele jovem lateral estreou pelo Bahia contra o Paraná, pelo Brasileiro de 2001, o mesmo pode-se dizer do jogador.>
No entanto, em sua essência, Daniel não deixa seu passado para trás. Faz dele um impulso para seguir buscando novos desafios. O lateral-direito é diferenciado, seja no campo, na personalidade ou, principalmente, na atitude.>
Por mais que tenha uma coleção de títulos e a situação financeira compatível com o sucesso que possui, o juazeirense não esquece de onde veio, algo essencial para que pessoas como ele não percam o fio de humanidade, algo cada vez mais raro em celebridades do mundo da bola.>
Duas vezes por ano, Daniel vai para sua terra. Lá, fortalece seu passado na busca da construção do seu futuro. Sem camisa, de tênis, corre pelo barro, em meio a árvores retorcidas da caatinga baiana na zona rural de Juazeiro, no distrito do Salitre. Reencontra o que o impulsionou a ser jogador e dar um futuro digno à sua família.>
O que mantém Daniel ainda em alto nível, além do cuidado com o próprio corpo, seu instrumento de trabalho, é a sede por desafios. Como ele mesmo disse, não é o futebol que vai levá-lo para casa, é sua vontade.>
Se muitos tricolores se decepcionaram com o fato dele dizer que voltaria ao Bahia apenas por um mês ou dois, após tantas vezes que o lateral falou em retornar ao Esquadrão, eu vejo isso como um sinal de maturidade maior ainda.>
No mundo do futebol, o mais usual é o jogador querer agradar a todos, não querer causar antipatia ou discórdia. Com o perdão do trocadilho, “jogar para a torcida”. Daniel não tem receio de ser sincero, de dizer o que seu coração e sua cabeça mandam.>
O tempo o fez assim. Não é simples sair de um Bahia destroçado por péssimas gestões e, dosi meses depois, praticamente, estar enfrentando Zidane e o Real Madrid pelo Campeonato Espanhol. Um impacto gigante para um jovem de 19 anos, saído do interior baiano.>
No Sevilla, Daniel evoluiu por conta própria, sem mídia, sem seleção brasileira. Sozinho, contando apenas com sua família e as boas energias de parte dos tricolores que torciam pelo seu sucesso. A ponto de que, quando foi entrevistado por um programa do Sportv que rodava a Europa acompanhando os atletas brasileiros, já algum tempo após sua transferência, o juazeirense misturava português com espanhol.>
Imagino que quando se dirigir à Fonte Nova nesta terça, quando passar pelo Bonocô, descer ladeiras, visualizar o entorno do estádio e entrar no campo, muitas memórias ressurgirão na cabeça de Daniel, o que o fortalecerá ainda mais. E digo mais: se você afasta a possibilidade de vê-lo nos gramados catarianos na Copa do Mundo de 2022, realmente, você não conhece Daniel Alves. >
Ivan Dias Marques é subeditor de Esporte e escreve às terças-feiras>