O povão na Fonte Nova é um bom negócio para todos

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Publicado em 31 de maio de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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A nova categoria de sócio lançada pelo Bahia na terça-feira (29) é a melhor notícia da semana no futebol baiano. Enfim, o futebol moderno abre espaço para o povão. Percepção tardia a que se chegou cinco anos depois da inauguração da Arena Fonte Nova, que incluiu a Bahia nesse processo de elitização que o Brasil mergulhou de cabeça no período de preparação para sediar a Copa do Mundo de 2014 e segue até hoje.

Em nome do conforto e da segurança, os estádios passaram a ser espaços desconexos da realidade do país, com preço do ingresso nas alturas. Em algumas arenas de Copa, o clube não tem sequer autonomia para baixar o valor do bilhete porque há uma conta alta para pagar, a da operação do espaço, que é feita por um consórcio privado – e com dinheiro público cobrindo eventual prejuízo na gestão, como ocorre aqui.

Por outro lado, o futebol profissional se tornou um esporte caro, e os clubes também alegam que não dá para montar time bom com ingresso a preço popular, o que em parte é verdade, embora a receita de bilheteria já tenha deixado de ser a principal fonte de grana há quase duas décadas.

Fato é que saímos do oito para oitenta. Se o ingresso a R$ 10 não sustenta arenas do porte das que foram construídas, a R$ 50 não contempla grande parte do público que ia ao estádio antes do padrão Fifa. Esse é um dos problemas que vêm minando o futebol no país (alguns outros não estão ao alcance dos clubes, como a saída precoce dos craques para o exterior e a violência nas ruas). E foi aí que o Bahia finalmente percebeu que precisa se reaproximar do torcedor povão.

O novo plano de sócio custa R$ 45 ao mês, restrito a quem ganha até R$ 1.500. Considerando a quantidade de partidas em casa neste ano, de janeiro a dezembro, o ingresso para cada jogo fica, em média, por R$ 15,88 para o associado “bermuda e camiseta”, como o Bahia batizou.

Chego a esse número considerando que, até o fim de 2018, o tricolor fará, no mínimo, 19 jogos como mandante pela Série A, sete no Baiano, cinco na Copa do Nordeste, dois na Sul-Americana e um na Copa do Brasil. Total de 34 jogos, podendo aumentar caso a equipe avance nas competições que têm mata-mata, como Nordestão, Copa do Brasil e Sul-Americana.

A conta serve de parâmetro e, na prática, é aberta a pequenas variações para os associados, já que o time pode se classificar ou não para a Sul-Americana de 2019 ou ser eliminado na primeira fase do Nordestão do ano que vem, por exemplo. Em 2017, o Bahia fez 32 jogos em casa. Em 2016 também. Nos dois casos, o valor médio do ingresso sai por R$ 16,87.

Não é caridade. Pelo contrário, é negócio. Um filão inexplorado que dá oportunidade para o clube aumentar sua renda fixa, já que a inclusão do torcedor mais pobre, fidelizado em um programa de 12 meses que dá camisa oficial de brinde para evitar inadimplência, não exclui o torcedor que continuará pagando o preço padrão Fifa. Ainda gera um público que, reintegrado à rotina do clube, pode se tornar consumidor dos outros produtos e serviços do Bahia e da Fonte Nova.

O Bahia está aproveitando os espaços vazios da Fonte Nova (mais de 50% por jogo) para fazer uma jogada que é boa para todo mundo: para quem voltará a frequentar o estádio e para quem vai ganhar dinheiro com isso.

*Herbem Gramacho é editor do Esporte e escreve às quintas-feiras