O professor  e a pandemia

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  • D
  • Da Redação

Publicado em 8 de julho de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Como humanos, nossa história é construída por narrativas passadas, mas potencialmente abertas às narrativas do presente e aquelas que serão construídas no futuro. Ao tempo que chegamos em 2020 com notáveis avanços tecnológicos e científicos, nos damos conta da tamanha imaturidade política e social dos últimos anos, gritantes nos posicionamentos evidenciados em nossos governantes e em nós mesmos no exercício de pouca cidadania.

Nunca fomos tão desafiados de viver voltados para a coletividade. Até então, acessamos as tecnologias contra a morte, contra o sofrimento, contra quase tudo, mas continuamos incapazes, na maioria das vezes, de lidar com a dor de uma parcela esquecida da população. Incapazes de exercitar o senso de justiça e equidade, de conviver com a percepção de sermos todos um só, de respeitar a natureza, evitando destruir o lugar que nos acolhe e do qual dependemos para estar vivos.

É nesse contexto que vemos a importância da função exercida pelo professor. Um profissional tão pouco valorizado e cuidado pela sociedade, que, definitivamente, não ousou compreender ainda o seu real valor.Um professor se faz no chão da escola. É lá, entre corpos suados, olhares cruzados, gestos fluidos da criança e outros entrecortados, que o professor media a aprendizagem entre pessoas que estão se constituindo como sujeitos. É lá, olhando nos olhos de cada um, que ele acolhe, impõe limites, faz crescer, inserindo a criança na coletividade, fazendo-a parte de um todo, construindo a verdadeira humanidade no momento mais importante de formação da vida.Esse desafio, de repente, com a pandemia que nos espreita, ficou ainda maior. Os professores se viram construindo velozmente estratégias e pontes para que não abandonassem seus pequenos e seus propósitos no meio do caminho. Nunca se reinventaram tanto, pois não há mais os entreolhares, o toque, o sentir de corpos suados, mas fragmentos desses mesmos corpos, rostos enquadrados por uma tela de computador ou celular, dificultando o acolher sentimentos, as experiências próprias daquele convívio tão salutar do dia a dia. 

Em meio a tudo isso, há o fantasma dos possíveis desempregos, a ameaça do fechamento de escolas, espaços responsáveis pela função de inserir os pequenos sujeitos na sociedade. Restou ao professor o medo do futuro, a decepção por não poder dar tudo de si para mediar saberes fora do habitual espaço físico da escola, a dificuldade em poder garantir laços afetivos nesse inesperado ambiente virtual, a impossibilidade de realizar efetivamente aquilo para o qual foi formado, que é poder dar sua contribuição, na imensidão do seu potencial junto a crianças e jovens, para criar pontes para a vida.

Walkyria Rodamilans é membro do Conselho Municipal de Educação e diretora pedagógica da Escola Lua Nova