O que você fazia de extraordinário aos 13 anos?

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  • Kátia Borges

Publicado em 31 de julho de 2021 às 09:00

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O que você fazia de extraordinário na adolescência? A pergunta viralizou depois da prata no Skate de Rua, conquistada pela maranhense Rayssa Leal, a Fadinha, aos 13 anos, nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020. Mais interessante que revolver a memória, à cata de algum feito digno de medalha, são as respostas hilárias que surgiram na sequência, envolvendo todo tipo de banalidade prodigiosa.

Lembro de ter lido toneladas de revistas em quadrinhos nessa idade, o que não configura modalidade olímpica. Aos 13, Cher foi detida pela polícia por dirigir sem habilitação. Eu vivia vidrada nos chevettes de meu pai, paixão platônica. Aos 14, Nádia Comaneci surpreendeu o mundo no campeonato europeu de ginástica artística. Dela se dizia, “não conhece o medo”. Eu nem dormia no escuro.

Aos 13, Glauber Rocha fazia críticas no programa Cinema em Close-up, na rádio Sociedade. Eu? Eu inventava doenças incapacitantes para fugir às apresentações em equipe nos seminários da escola. Bom, ao menos duas pessoas sempre me consideraram um prodígio e nutriram expectativas fantásticas em relação ao meu destino. “Eu sonhava, diz um dos meus amigos de Facebook.

Eu também sonhava, caro amigo de Facebook, eu sonhava muito. Minha cabeça dava um duplo twist carpado no sistema com planos de viagens pelo mundo, vendendo colares e pulseiras coloridos, enquanto não engatava uma carreira de sucesso como... cantora de blues. Aos 13, Janis Joplin encarava um bullyng brutal no ensino médio, aquele velho sentimento de não se encaixar em grupos.

Em 1981, o Brasil estava sob ditadura e o presidente Figueiredo, um general, ainda ficaria no poder por mais cinco anos. Confesso que pouco sabia sobre o que acontecia na política do país, mas lembro de ter presenciado o cerco a um rapaz, que participava de um grupo contrário ao governo e se escondeu num prédio em frente à minha casa, uns anos antes, e das conversas tensas após o atentado no Riocentro.

Eu gostava de filmes, livros e música. E assisti com espanto o fracasso de O homem elefante no Oscar daquele ano. Dos Estados Unidos, chegavam notícias sobre a criação de um novo canal chamado MTV. E eu havia comprado o vinil de Double Fantasy, de John Lennon e Yoko Ono, que uma colega do colegial pediu emprestado e nunca devolveu. Pra compensar, me deu um disco dos Beatles.

Todo mundo lia, ou dizia ter lido, o best-seller da vez, Crônica de uma morte anunciada, de Gabriel García-Marques. E a morte de Bob Marley me deixou mais triste que nunca. Naquele ano também foi lançado o primeiro ônibus espacial, o Columbia. Confesso que não sei se foi o mesmo que explodiu tempos depois. Eu, que sempre fui romântica, assisti ao vivo a cerimônia de casamento de Lady Di e Príncipe Charles.

Como gostava de novelas de TV, lembro da primeira e melhor Helena de Manoel Carlos, interpretada por Lílian Lemmertz em Baila Comigo. E todo mundo pensava que o planeta acabaria definitivamente antes de 82. Afinal, como nas profecias de Nostradamus, o papa João Paulo II havia sofrido um atentado na Praça de São Pedro. Foi bem ali que tudo começou. Aos 13, eu também passei a esperar o meteoro.