O que você levaria consigo, se fosse necessário fazer uma escolha?

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  • Da Redação

Publicado em 9 de maio de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

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É preciso pôr ordem nos livros, estabelecer critérios. Por exemplo, organizá-los por títulos ou pela primeira letra do sobrenome dos escritores. Talvez seja melhor alinhar por gêneros, localizar os desejos. Poesia próximo a Filosofia, em homenagem a Hilda Hilst. História da Arte e Estética ao alto, quase inalcançáveis.

Sim, é preciso pôr ordem nos títulos, de modo que a biblioteca fique com uma aparência saudável. Nada a ver com forjar cenários para lives e selfies. Só um jeito íntimo de agradecer por hoje. Porque houve um tempo em que os livros estavam sempre empacotados e metidos em caixas, mudando de casa comigo.

A imagem mais romântica que guardo dessa época é a do acolhimento dessas caixas. Os livros abrigados amorosamente, antes do trânsito inevitável a outros nichos. A simbologia desse gesto tão simples. Uma vida inteira de leituras e fetiche sob teto confiável. O peso dos volumes em meus braços. O fascínio eterno pelas capas.

E, então, esse espaço que pede ordem, pequeno bunker pensado para que viessem comigo. Parte da bagagem, a carne sob meu casco. Mãe, cachorro, plantas, livros. Romance e Teoria do Romance bem ao centro e ao alcance do braço. Porque é preciso estar sempre pronto. Clássicos em contraponto a Contos nos extremos da estante.

Amanhecemos zonzos em maio de 2020. Caço equilíbrio ao organizar os títulos dos livros, percorro os nomes dos autores, observo as cores das lombadas que harmonizam. Como parte do que faço quase organicamente, consulto o oráculo. Perdi a conta de quantos quilômetros andamos. Sequer recordo o primeiro encontro.

O mestre que habita o oráculo é como aqueles amigos que sabemos nossos, mas que nunca localizamos precisamente no tempo. A primeira troca de olhares, os primeiros risos, um jogo de sedução quase amoroso. E, então, há o momento exato em que a conexão se estabelece sem ruídos, passado e presente juntos.

Pelos amores e amigos, é preciso pôr ordem nas coisas. Os hexagramas confidenciam sobre como agimos quando somos colhidos pelo Destino. O que você levaria consigo, se fosse necessário fazer uma escolha? Certamente, nem pensaria muito. E talvez ficasse surpreso, quando distante e ileso, olhasse para o que segura nas mãos.