O ressurgimento do cacau

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  • Armando Avena

Publicado em 24 de maio de 2019 às 05:03

- Atualizado há um ano

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A produção e exportação de cacau, que por muito tempo foi a base da economia baiana, está ressurgindo e, por conta de uma pesquisa inovadora, pode tornar-se, novamente, um dos principais produtos da nossa pauta de exportação. O cacau sempre foi o símbolo da economia baiana e,   até meados do século passado, os investimentos, a ação do governo estadual e até  o pagamento do funcionalismo público dependiam da safra de cacau. Mesmo com a implantação da Petrobras e o início do processo de industrialização, a produção cacaueira manteve-se dinâmica e em 1970 foi responsável por 60% das exportações baianas. A produção de cacau quase chegou as 400 mil toneladas anuais, gerando uma receita cambial de quase 1 bilhão de dólares e, por conta disso, o Brasil liderava a produção mundial.   (Foto: Arquivo CORREIO) O cacau fazia milionários, era palco da bela literatura de Jorge Amado e tinha no eixo Ilhéus e Itabuna um contraponto à riqueza e a cultura de Salvador. Tudo isso acabou em meados dos anos 90 com a praga da Vassoura de Bruxa, que fez a produção desabar e cair a menos da metade. O cacau, que liderava a pauta de exportações da Bahia, viu a receita cambial com o produto despencar e o Brasil, que representava cerca de 30% da produção mundial, hoje participa com menos de 5%. O desemprego e a falta de perspectiva econômica desencadearam uma crise de grandes proporções  na região Sul do estado, crise que permanece até hoje, e a maior região exportadora de cacau do país tornou-se importadora do produto. A região jamais se recuperou, mas,  a partir do ano 2000,  houve a introdução de mudas resistentes à praga e técnicas de clonagem e a produção de cacau “cabruca” reagiu ligeiramente, num patamar três vezes menor que o verificado no início dos anos 90.  

Em 2018, a produção baiana de cacau foi cerca de 125 mil toneladas, gerando uma receita cambial de 200 milhões de dólares, cinco vezes menos do que no auge da colheita. As técnicas para o manejo do cacau e para convivência são fundamentais e devem ser mantidas, mas o que vai tornar a produção novamente competitiva é a pesquisa levada a cabo por um baiano que descobriu com sua equipe o complexo mecanismo de ataque do fungo e drogas que podem eliminar a Vassoura de Bruxa.

 A equipe do pesquisador Gonçalo Amarante Guimarães, professor titular do Instituto de Biologia da Unicamp, estudou o fungo da Vassoura de Bruxa, descobriu que seu funcionamento é baseado num inibidor da enzima oxidase alternativa e a pesquisa foi publicada em revista internacional. A novidade é que agora a equipe desenvolveu e testou uma molécula fungicida capaz de combater o fungo.  A molécula se mostrou eficiente, mas é preciso que empresas interessadas ou mesmo o governo disponibilizem recursos para que o experimento saia do método experimental e torne-se um fármaco com produção em escala industrial. 

O professor Amarante é um entusiasta do projeto, tanto que comprou uma fazenda de cacau no Sul da Bahia, e afirma que é indispensável o plantio sustentável no sistema “cacau-cabruca”, mas que a introdução de fungicidas seria capaz de, no curto prazo, recuperar a produtividade dos cacaueiros. Se isso acontecer, será o ressurgimento do cacau e do dinamismo econômico da região Sul da Bahia.

O CACAU E O PIB Se for encontrado um fungicida para o cacau, a produção poderá voltar rapidamente às 300 mil toneladas ou mais, pois a área plantada ainda é grande. Se isso acontecer, o cacau se tornará, em poucos anos, o 4º  maior produto de exportação da Bahia e 50 mil pessoas ou mais serão reabsorvidas pela cultura que é fortemente absorvedora de mão de obra. O impacto no PIB pode chegar a 0.5% ou mais. Será que ninguém nas secretarias de Agricultura e Planejamento percebeu isso?RECEITAS DO GOVERNO E PREFEITURA O governo do estado e a prefeitura de Salvador não têm do que se queixar, pelo menos do lado da receita. A arrecadação de ICMS no estado atingiu R$ 5,8 bilhões no 1º trimestre de 2019, um crescimento de quase 10% em relação ao ano passado. As transferências do Fundo de Participação dos Estados (FPE) atingiram R$ 2,6 bilhões, um aumento de 9,5% em relação ao mesmo período do ano passado. Já na prefeitura de Salvador, a arrecadação do Imposto Sobre Serviços cresceu mais de 20% no 1º quadrimestre, e a arrecadação de IPTU elevou-se em 11%. As transferências do  Fundo de Participação dos Municípios (FPM) cresceram 9%. Em suma: a recuperação da economia, ainda que lenta, está aumentando a arrecadação de impostos. Os dados são do portal de transparência da prefeitura, do IAF e da Receita Federal.

A PONTE E OS CHINESES Esta coluna sempre ficou com um pé atrás em relação à viabilidade econômico-financeira da ponte Salvador-Itaparica. Mas não há dúvida que a disposição do governo de colocar R$ 1.6 bilhão no projeto deu mais envergadura à engenharia financeira da obra. Mas, ainda assim, ficou pendente a questão da taxa de retorno, já que o pedágio é incapaz de propiciar rentabilidade ao empreendimento. Agora, no retorno da viagem que fez à China, onde se reuniu com investidores,  o governador Rui Costa verbalizou o que esta coluna vem afirmando:

“Nós precisamos entender o seguinte. Existe uma previsão de movimentação de carros na ponte nos primeiros anos de funcionamento. Essa movimentação tem que pagar a conta para o chinês. Caso não pague, eles querem uma garantia de subsídio do estado”, disse o governador. Ou seja: não existe viabilidade econômica para a construção e concessão da ponte Salvador-Itaparica sem que o governo do estado coloque anualmente subsídios para viabilizar o lucro das empresas chinesas nos primeiros anos de operação. Simples assim.

OS CHINESES VEM AÍ Mas se o investimento dos chineses na ponte ainda parece um sonho de uma noite de verão, nas outras áreas a intenção de investimento é concreta. Esta semana, o governador Rui Costa assinou o termo de unificação dos terminais privado e público do Porto Sul. E empresas chinesas e  a Bahia Mineração (Bamin), que vai explorar o minério de ferro de Caetité,  anunciaram a criação de  um consórcio para dar início à construção do  porto no segundo semestre deste ano. Por outro lado, empresas chinesas devem participar do leilão de concessão da Fiol – Ferrovia Oeste-Leste e o governador manteve contatos na China com a Easteel, empresa que manifestou interesse em investir cerca de R$ 7 bilhões para implantar uma usina siderúrgica, uma fábrica de cimento, além de investimentos no Porto de Aratu. 

Também houve contatos  com a empresa chinesa CGN Energy International Holdings que anunciou interesse em investir R$ 1 bilhão em energia solar e eólica. Embora sejam apenas intenções de investimento, demonstram que os chineses estão de olho na Bahia. E estão de olho grande, pois estão comprando terras na Região Oeste e implantando empresas para beneficiamento da soja e outros produtos. A região de Ilhéus e Itabuna também está no radar chinês. A China vê o Brasil como área de expansão econômica e a Bahia é uma das principais portas de entrada.