'O São João ocasionou um movimento maior de pessoas', diz prefeito de Cruz das Almas

Orlando Peixoto Pereira Filho conversou com o colunista do CORREIO, Rafael Freitas

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Publicado em 16 de julho de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Prefeito de Cruz das Almas, Orlando Peixoto Pereira Filho (Foto: Divulgação) Tradicional destino para os festejos juninos, o município de Cruz das Almas viu os casos de coronavírus darem um salto após o São João, mesmo com as limitações impostas pelas medidas da prefeitura e do governo do estado para impedir o avanço da pandemia. Com aumento de 247% nas confirmações de covid-19 desde o dia 20 de junho, a cidade acendeu o sinal de alerta e decidiu adotar isolamento social mais intenso, segundo conta o prefeito Orlando Peixoto Pereira Filho (PT), popularmente conhecido como Orlandinho. Na cidade, os casos saltaram de 70 no dia 20 de junho para 243 até esta quarta-feira, 15. 

Ele prefere não chamar a medida de lockdown, mas de "isolamento social rígido", que permite apenas o funcionamento dos serviços essenciais. O prefeito diz que tem bom diálogo com o comércio e que os comerciantes têm respeitado as medidas de isolamento.

Em entrevista ao CORREIO, ele acrescenta que a não realização do São João provocou um impacto estimado de R$ 30 milhões na economia da cidade e que a arrecadação do município caiu em torno de 30% devido à pandemia. Ainda comentou sobre o adiamento das eleições e mostrou preocupação com a falta de medidas em relação à campanha.  Confira abaixo a conversa na íntegra:

Quem é - Filiado ao PT, Orlando Peixoto Pereira Filho tem 60 anos, é engenheiro agrônomo e está em seu terceiro mandato à frente da Prefeitura de Cruz das Almas. Disputou sua primeira eleição em 1998 para o cargo de deputado estadual e, dois anos depois, foi eleito vereador de Cruz. Em 2004, foi eleito para seu primeiro mandato de prefeito e foi reeleito quatro anos depois. Filho do médico Orlando Pereira, renomado na região, o petista voltou à prefeitura nas eleições de 2016.

Mesmo com as medidas para evitar festas juninas, os casos de coronavírus estouraram nas cidades que possuem a cultura do São João, como Cruz das Almas. O senhor esperava que isso fosse acontecer?

Nós fizemos, durante 20 dias, desde o início do mês de junho, várias lives, várias mídias em redes sociais, pedindo às pessoas para não se deslocar para Cruz das Almas, para que não fizessem visitas aos amigos, familiares, para que a gente pudesse proteger a cidade e a saúde das pessoas. Temos duas barreiras sanitárias, mas mesmo assim parece que as pessoas têm na cabeça essa época como um momento para ver a família... E isso fez com que houvesse um fluxo extremamente menor, obviamente, em relação aos outros anos, mas ainda assim teve um fluxo de pessoas vindo para cá. E certamente ocasionou um movimento maior de pessoas. Junto com isso já vinha ocorrendo um processo de interiorização do vírus na Bahia e em outros estados, então acho que junta as duas coisas.

Quais medidas o senhor adotou para impedir que o vírus continue circulando?

A última mudança foi exatamente essa de utilizar um modelo, que não é lockdown, que é um termo que está sendo utilizado de forma inadequada em alguns lugares, porque nele você fecha tudo, não abre nada. Aqui se chama isolamento social rígido, que é esse que, ao invés de abrir comércio em horário restrito, agora somente pode funcionar os itens essenciais e em horários específicos. Nesse modelo, permanecem abertos somente os itens extremamente essenciais, que são os supermercados, hipermercados, farmácias, postos de combustíveis, as oficinas mecânicas para consertos automotivos e borracharias. Esse modelo tem validade até a próxima segunda-feira. Percebo que durante essa semana alcançamos uma média melhor do que a semana anterior.

Como está o diálogo com o comércio? Há alguma revolta em relação às restrições?

Nós estamos dialogando sempre. Agora mesmo nas medidas de isolamento rígido eles estão colaborando bastante, estão cumprindo o decreto. O comércio tem tido uma relação de diálogo boa com a prefeitura.

Quais principais ações o senhor tem determinado para o combate do coronavírus desde o início da pandemia?

Nós mudamos o padrão das ações de acordo com a dinâmica da crise sanitária. Nós estamos fazendo a higienização da cidade, dos principais pontos, das unidades de saúde; fizemos distribuição de máscara para a população, de álcool em gel para os feirantes; fizemos distribuição de máscara para os comerciários, instalamos um Pronto Atendimento para a covid-19, que tem duas alas, uma ambulatorial e uma de internamento semi intensivo e estamos fazendo acolhimento para pessoas em situação de vulnerabilidade social registradas nos cadastros sociais, além das medidas de restrição do funcionamento do comércio de 13h até às 18h.

Qual impacto para a cidade em não ter São João esse ano?

O principal momento da cidade é o São João, não é? A gente começa a planejar a festa em fevereiro, março. O comércio geralmente tem aumento significativo. É uma festa que dura uns 4, 5 dias e passam pela cidade cerca de 80 mil, 100 mil pessoas. Não que permaneçam na cidade, mas fazem bate-volta. Quase 36 mil permanecem nos hotéis e pousadas- então também tem esse impacto que é muito grande. Perde o setor hoteleiro, o comércio, os restaurantes, os próprios ambulantes que montam suas barracas.

O São João costuma movimentar quanto na cidade?

Eu acredito que, envolvendo hotelaria, restaurante, alimentação, quituteira, processo de pessoas da área cultura, serviço, garçom, camareira, tudo isso em torno de R$ 30 milhões mais ou menos. É muita coisa, um impacto grande na cidade. Todas as cidades que tem um São João muito tradicional sofreram muito, além do impacto do dia-a-dia. O comércio deixou de contratar. Essa semana mesmo vimos a notícia de que Salvador, São Paulo não sabem quando vão fazer o Carnaval. Então, todos estão sofrendo com estes impactos.

Qual foi o impacto da pandemia na arrecadação do município?

As principais fontes de recursos que os municípios médios têm são o FPM (Fundo de Participação dos Municípios) e o ICMS, que está tendo recomposição, mas ainda com base no ano anterior. Ainda assim, o Congresso e governo federal não conseguiram chegar a um acordo para que essa recomposição ocorra até o fim da pandemia. A CNM (Confederação Nacional dos Municípios) está prevendo uma queda de arrecadação em torno de 30%, 40% em relação à expectativa que tinha para este ano.

Em Cruz percentualmente a queda está em quanto?

Eu não tenho esses números ainda compatibilizados porque prorrogamos algumas taxas municipais, a principal delas foi o IPTU até dia 31 de julho, então somente a partir do dia 31 de julho que a gente vai ter esse número. A gente acredita que esteja na margem do que está a maioria dos outros municípios, considerando principalmente o ICMS, a defasagem da contribuição do FPM de um ano para o outro, com base do ano passado, acredito que em torno da taxa de 30%. Será ainda maior se não houver essa recomposição do FPM do governo federal até o mês de dezembro. Se não mantiver vai ter uma queda maior.

Nesse cenário as prefeituras tendem a ter muita dificuldade para fechar as contas no fim do ano...

Acho que as dificuldades vão ter. Agora, eu acho que depende muito também do tamanho da dificuldade se maior ou menor vai depender muito do acordo do Congresso Nacional com o governo federal para ver se vai continuar fazendo a recomposição do FPM. Os municípios já estão recebendo a segunda parcela (dessa ajuda). Então, depende muito dessa recomposição do FPM prevista na Medida Provisória, que está acabando agora.

Qual a sua opinião sobre o adiamento das eleições? O senhor acha que a mudança para novembro vai importante ou acredita que há risco de a pandemia apresentar riscos

Isso depende muito. Por isso o Congresso, quando aprovou o adiamento, deixou uma brecha que permite que, se na semana da eleição em novembro, não houver condições sanitárias em alguns estados e municípios, poderá novamente ser prorrogada até dezembro. Então, vai depender muito das condições sanitárias. Eu acho que prorrogar um mês (de outubro para novembro) deve surtir algum efeito, sim. O mais preocupante, e ainda não saiu nenhuma medida em relação a isso, é como serão as campanhas. Vai ser permitido caminhada, comício, carreata? Ninguém sabe bem como vai ser a campanha, se vai ser de rua ou se vamos ter uma campanha mais virtual. Todo mundo está achando que será uma campanha mais virtual do que de rua.