O ‘selfismo’, a doença infantil do narcisismo

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  • Da Redação

Publicado em 30 de junho de 2019 às 04:55

- Atualizado há um ano

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Já fui crítico ferrenho do ‘selfismo’. Vez em quando ainda me pergunto se o ser humano não teria coisas mais edificantes a fazer – e levanto questões em relação a esse fetiche exibicionista:  1. A quem interessa ver as zilhões de selfies veiculadas nas redes sociais? Meu palpite: a ninguém – com as exceções de praxe, familiares, namorados/as, amigos – na verdade + interessados em produzir  as próprias selfies – e as pessoas que se ‘selfizam’ – [terceira pessoal do plural do presente do indicativo do verbo reflexivo ‘selfizar-se’, ainda não dicionarizado]. 2. Por que as pessoas gostam tanto de se expor de maneira tão desabrida? Meu palpite: narcisismo – ao qual não faço nenhum juízo de valor. Ponto.

[Apesar de o narcisismo – a depender do grau de intensidade no qual se manifesta – ser considerado por experts da psiquiatria sinal revelador de algum tipo de psicopatologia – eu, escritor compadecido com as criaturas sobre as quais escrevo, eu incluso, não acho que essa característica da personalidade humana deva ser execrada].

Olhar-se no espelho e refletir sobre o que vemos e a vida que levamos é salutar. O busílis: detonados por traumas e acidentes de percurso, essa autoavaliação poderá nos levar a constatações extremas: a de nos vermos, e de nos sentirmos, super-homens – ou supervermes. Ambas as situações devem ser monitoradas por psiquiatras, mas nesta terra-de-ninguém-que-nos-pariu, salve-se quem puder – e  alguma criatura cretina ainda poderá esbravejar: - Isso é coisa de viado!].

[O Dicionário Houaiss é conciso ao definir o narcisismo: ‘Amor pela própria imagem’. A psiquiatria de raiz dedica centenas de milhares de páginas ao tema, capitaneadas pelo general da banda, o genial Sigmund Freud, um dos meus heróis de cabeceira]. 

Prefiro fazer blague – o narcisismo usado com moderação não é prejudicial à saúde – e contar história: no começo dos anos 1990, convenci a querida e saudosa jornalista Regina Lemos – então diretora de redação da Marie Claire, onde eu atuava na função de jornalista-colaborador – a escrever perfil da comediante Zezé Macedo (1916-1999). [Depois de constatarmos, com bom humor, que a atriz fugia aos padrões de beleza das celebridades perfiladas pela revista, voei de São Paulo para o Rio de Janeiro, onde, em pitoresco apartamento no Mourisco, em Botafogo, a comediante me recebeu].

Zezé Macedo, casada com o mesmo marido havia décadas, era magrela, baixinha e dona de rosto caricatural. Falava pelos cotovelos e contava vivências espetaculares. Ao final de horas de conversa, disparei: - Você se acha feia? Ela gargalhou, e disse sem afetação: - Meu querido, eu me acho lin-da! [Imaginei que não estivesse sendo sincera. Mas ao olhar ao redor, pude constatar a elevada autoestima da comediante: paredes e teto da sala do apartamento onde morava eram completamente forrados por espelhos]. [Detalhe que me entristece: o perfil nunca foi publicado – mas, meno male, recebi o cachê combinado. Pior: não guardei nenhuma cópia do texto].