O torcedor misto não merece ser desrespeitado por sua escolha

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Publicado em 17 de outubro de 2019 às 09:37

- Atualizado há um ano

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O Fortaleza lançou uma ação ousada nesta semana em que o time enfrentou o Flamengo ontem à noite, pela 26ª rodada do Brasileirão. Em uma campanha de marketing que vai além da linha da provocação e provoca um debate sobre uma situação de raízes históricas no Nordeste, o time cearense se posicionou de forma tão firme quanto polêmica sobre os torcedores “mistos” na região.

Por misto, entenda-se aquele que gosta de mais de um time: um local e outro quase sempre do Rio de Janeiro ou de São Paulo, geralmente o Flamengo no caso nordestino - daí a ação ter sido lançada na véspera do jogo contra o rubro-negro carioca, cuja torcida é a maior do Nordeste (e também do Norte e do Centro-Oeste) e está em polvorosa com a alta probabilidade de ser campeão brasileiro.

Para se ter ideia, uma pesquisa feita pelo Datafolha em agosto e divulgada em setembro apontou que o time do Rio é o preferido de 27% das pessoas na região, mediante apenas 4% do Bahia e do Sport, os primeiros nordestinos da lista - que ficam atrás também de Corinthians (9%), São Paulo (6%), Palmeiras (5%) e Vasco (5%). Essa última pesquisa não detalhou, mas no caso específico da Bahia, o número de flamenguistas aparece maior até que o de torcedores do Vitória nos levantamentos anteriores registrados nesta década.

De volta à campanha do Fortaleza: o tricolor cearense retirou a pizza de queijo e presunto do cardápio da Cantina 1918 - nome do restaurante do clube. No vídeo da campanha, espalhado nas redes sociais, o narrador explica que “Em homenagem aos torcedores de verdade, vamos tirar o sabor misto do cardápio nesta semana. As demais pizzas continuam a partir de R$ 19,18 porque você pode torcer para quem quiser, até para o rival (Ceará), mas que seu coração tenha um único dono”.

Obviamente, a campanha gera diferentes reações. De um lado, quem apoia o Fortaleza por estar brigando por uma demarcação de espaço vista como correção histórica. Explica-se: por ter maior torcida, o Flamengo gera mais audiência e, como consequência disso, recebe cotas mais volumosas pela cessão dos direitos de transmissão de TV, que são a maior fonte de patrocínio do futebol no país. É um sistema que se retroalimenta. Afinal, a influência da mídia com sede no Rio de Janeiro, primeiro com as transmissões da Rádio Nacional na era do auge radiofônico (até os anos 1950) e depois da TV Globo (que no passado penetrava nas cidades do interior através da antena parabólica e exibia a programação da matriz, não da afiliada), é considerada um fator relevante para a formação da maioria flamenguista nos estados do Nordeste.

Por outro lado, o torcedor misto não merece ser desrespeitado por sua escolha. Cabe a ele, e somente a ele, decidir para quem vai torcer e isso não o faz um torcedor de mentira. Portanto, a campanha do Fortaleza também pode ser vista como intolerante e preconceituosa.

Antes de lançar a provocação, o Fortaleza disponibilizou 14.200 ingressos para a torcida do Flamengo, o equivalente a 27% do total de 52 mil colocados à venda para o jogo no Castelão – muito mais do que os 10% de praxe. A carga visitante foi esgotada na véspera. Pelo visto, o torcedor misto não é bem-vindo, mas o dinheiro dele é.