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Da Redação
Publicado em 8 de outubro de 2019 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
Até recentemente a avaliação geral de boa parte da imprensa de economia e especializada em negócios era de que o IPO da WeWork poderia alcançar a trepidante soma de 47 bilhões de dólares.>
A empresa, vamos lembrar, se dedicava ao negócio de co-sharing de espaços comerciais, mas tinha ambições maiores, de "elevar a consciência do mundo" e promover o ideal de que "viver uma vida consciente significa escolher viver de forma proativa e com propósito". Através de sua holding We Company, e de diversas extensões de marca, como uma escola elementar chamada WeGrow, o hotel butique WeSleep, um sistema de serviços financeiros chamado WeBank e um iate charter conhecido como WeSail. Mas no fundo, se tratava de um negócio de aluguel de escritórios.>
No final, dois ou três artigos bem colocados de críticos desse processo alucinado que gera os "unicórnios" eviscerou a realidade de que a empresa fazia 200 mil dólares por hora de prejuízos e precisava levantar rapidamente de 3 a 4 bilhões de dólares para cobrir o buraco aberto por suas maluquices. Seu fundador, Adrian Neumann afastou-se da empresa e a situação agora é de ver onde tudo isso vai dar.>
Estranhamente, pelo que se sabe, o que havia de sólido no negócio, que eram algumas valiosas propriedades imobiliárias em cidades como Londres ou Nova Iorque na verdade pertencia à rica família de Neumann.>
Essa é uma situação limite, de fato, mas expressa bem o fenômeno da criação de valor descolado da realidade, no qual muitas organizações entraram, em busca do pote de ouro de um IPO milionário, que deixa seus fundadores, primeiros investidores e executivos igualmente ricos, mas no fundo reparte sonhos mal construídos com uma massa de investidores que apostam em fórmulas disruptivas.>
Algumas, como se sabe, deram muito certo e estão mudando o mundo. Caso da Amazon, Google e SalesForce, que demoraram para dar lucro mas, quando deram, criaram um universo à parte. Outras, como o Facebook, aparentemente estão dando muito certo, mas carregam tantos problemas que talvez não resistam às ondas e vendavais que estão se abatendo sobre elas. Há as que, apesar de seu sucesso de uso e "audiência", como o Twitter, ainda não encontraram uma fórmula de monetizar esse sucesso.>
Há casos muito falados mas ainda pouco ou nada rentáveis e que estão navegando em mares revoltos e instáveis, como a Netflix, que está no topo da onda do streaming, ao custo de uma dívida de 12 bilhões de dólares, que sua receita simplesmente não tem como pagar e na iminência de entrar na maior batalha de marketing de todos os tempos; ou a Uber, que desde seu IPO em maio último, está sendo negociada 30% abaixo do preço; ou a Lyft, que caiu mais de 40% desde março.>
Tem também a Airbnb, que continua sendo uma promessa maior que a realidade e ainda não fez seu IPO; e a Tesla, que como empresa de carros e de sonhos maiores, caso de sua divisão aeroespacial, no fundo é uma excelente empresa de geração e armazenamento de energia.>
Ou, até, o nosso maior "unicórnio", o Nubank, que não pára de buscar recursos no mercado, para sustentar os negócios com 13 milhões de pessoas em todo o Brasil, sendo 70% delas com menos de 36 anos - o resultado é que seu prejuízo subiu para R$ 139,5 milhões no primeiro semestre de 2019, bastante superior aos R$ 50 milhões no mesmo período de 2018; mas a receita bruta, em compensação, dobrou, para R$ 1 bilhão.>
O que esses casos têm em comum é a promessa de revolucionar completamente seus mercados. O que tem sentido, maior ou menor, dependendo da situação, é sua capacidade de dar uma nova visão a velhas práticas e saber como tecer a modernidade entremeada com o tradicional.>