O turismo e as estatísticas

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  • Armando Avena

Publicado em 21 de junho de 2019 às 05:32

- Atualizado há um ano

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Todo cuidado com os números é pouco, pois a estatística, quando torturada, confessa qualquer coisa. E na Bahia a estatística nem sempre é levada a sério, pois alguém chuta um número e ele se dissemina por toda parte como se fosse uma verdade universal.  Aqui disseminou-se, por exemplo,  que para cada emprego direto gerado, são gerados três empregos indiretos e todo mundo faz a multiplicação  para calcular o impacto na economia. Mas isso é uma balela. O número de empregos gerados depende do tipo de investimento, das suas inter-relações, da distância ou proximidade ao mercado e por aí vai.  E é possível até que nesse mundo tecnológico uma empresa gere empregos diretos e nenhum emprego indireto. 

Números são enganadores e, na Bahia, mais que isso, são superlativos. Outro dia, li num jornal que o PIB do setor de publicidade representava 7,5% do PIB baiano. É um número risível, afinal toda a agropecuária baiana não gera mais 7% do PIB. E basta pesquisar em um organismo confiável, como a  Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais (SEI), para ver que os serviços de informação e comunicação geram apenas 1,7% do PIB baiano.

 Aliás, o PIB é um número mágico, tanto assim que cada setor potencializa o seu e de tal modo que todos somados o montante pode chegar a 200%. Os exemplos são muitos, mas é na área do turismo onde as estatísticas são mais torturadas. Há quem garanta, por exemplo, que o turismo responde por mais de 10% do PIB baiano, quando, na verdade, o cálculo do PIB do turismo não existe e o que mais se aproxima dele é o PIB dos serviços de alojamento e alimentação, calculado pelo SEI, e que representa cerca de 3,5% do PIB baiano. E o número de turistas? O governo do estado afirma, por exemplo,  que no ano passado 15 milhões de turistas aportaram na Bahia e a prefeitura diz que Salvador recebeu 9 milhões de turistas. 

Ora, se isso for verdade, o trade turístico não teria do que se queixar, afinal seria como se Salvador recebesse por ano tr ês vezes mais que sua população  e o estado recepcionasse uma Bahia inteira de turistas. Naturalmente esses números não são confiáveis. No caso do governo do estado, a estimativa é feita baseada em uma metodologia de pouca confiabilidade que estima que cerca de 55% dos turistas que visitam o estado são os próprios baianos, sem definir muito bem o que significa ser turista, nem como se fez essa contagem. No caso da prefeitura, o que se calcula não é o número de turistas, mas o número de diárias em unidades de hospedagem e elas se multiplicam para gerar nove  milhões de turistas. 

Em ambos os casos, alguém que more em Lauro de Freitas e venha a Salvador passar a noite  pode ser pego pela estatística e tornar-se turista. Aliás, o secretário de Cultura e Turismo, Claudio Tinoco, reconhece que a estatística se baseia em uma metodologia antiga e questionável e que continua sendo feita para que não se perca a série histórica, e admite, inclusive, estudar uma nova metodologia. 

Na verdade, tanto o governo quanto a prefeitura estão plenos de boas intenções, mas os números são baseados em metodologias questionáveis e não deviam estar sendo divulgados nem ser usados por ninguém. Por isso, está na hora de governo e prefeitura elaborarem estudos capazes de mensurar o verdadeiro tamanho da atividade turística na Bahia.

SAÚDE EM ALTA O setor de saúde privada em Salvador está recebendo novos investimentos. O Grupo Rede D’Or São Luiz, a maior rede de hospitais do Brasil está aumentando a sua atuação na Bahia e, após adquirir o Hospital São Rafael,  comprou, através de uma operação de aumento de capital,  48% das ações do Hospital Cardio Pulmonar. O Cardio Pulmonar, cujas obras ficam prontas este ano, investiu cerca de R$ 200 milhões na sua ampliação, elevando o número de leitos de 76 para 249. Já o Hospital Aliança tem  investimentos previstos da ordem de R$ 25 milhões e o Hospital Santa Isabel já está investindo R$ 45 milhões em modernização e equipamentos. No interior, cidades como Feira de Santana e Vitória da Conquista montaram parques médicos de alto nível, inclusive com serviços de média e alta complexidades. Aliás, os serviços de saúde e educação mercantis já representam cerca de 3,5% do PIB baiano,  segundo o SEI – Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais, e a tendência nesse setor é de franca expansão.

MAIS VOOS PARA A BAHIA E há novidades também no céu da Bahia. O secretário de Turismo do estado, Fausto Franco, lançou no ultimo dia 14 a rota diária entre Salvador e Juazeiro/Petrolina através da Passaredo. Outras rotas importantes já operam como a São Paulo/Vitória da Conquista, pela Gol, ou vão operar como a rota Campinas/Vitória da Conquista pela Azul, prevista para agosto. Já a Cabo Verde Airlines aumentará as frequências entre Salvador e a Europa, oferecendo três voos diretos semanais, a partir desta terça-feira, com uma escala na Ilha do Sal em Cabo Verde.

FORRÓ TAMBÉM É ECONOMIA A festa de São João é um importante evento econômico em vários municípios do estado, mas antes que alguém venha anunciar  que milhares de turistas vieram à Bahia por causa da folia junina, vale lembrar que é fundamentalmente uma festa de baianos para baianos, embora receba alguns turistas de outros estados. Salvador é o principal emissor de turistas no São João da Bahia, estimando-se que quase 400 mil  pessoas  saiam da capital em direção ao interior. 

Mas só isso já dá para criar em torno da festa uma espécie de economia do forró, com impacto no comércio, serviços, nos restaurantes, na hotelaria, no aluguel de casas, na indústria artesanal, inclusive de fogos e bebidas,  e no mercado informal, onde centenas de barracas vendem todos os tipos de produtos. E as prefeituras investem na festa gerando emprego e renda, embora a maior parte dos recursos seja destinada a pagar as atrações artísticas, às vezes, com valores exorbitantes.   Os polos da economia do forró na Bahia são  Cachoeira, Cruz das Almas, Santo Antônio de Jesus, Amargosa, Jequié, Senhor do Bonfim, Lençóis, Mucugê e Piritiba e a geração de emprego, renda e impostos em cada uma delas é expressiva. Em suma: forró também é economia.

CASA DOS AZULEJOS AZUIS A Casa dos Azulejos Azuis, o belo prédio coberto de azulejos portugueses do século XIX no bairro do Comércio, vai abrigar o Museu da Música Brasileira e terá investimentos de US$ 24 milhões, numa parceria da prefeitura de Salvador e do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF). Cláudio Tinoco,  secretário de Cultura e Turismo do município, diz que a previsão é inaugurar o museu até o final de 2020 e esta semana houve um workshop para definir, entre outros aspectos, um concurso internacional de ideias para utilização do espaço que terá mais pavilhões construídos nos fundos do casarão. O casarão colonial formará com o Elevador Lacerda e o Mercado Modelo o trio de ouro do turismo na bela Praça Cairu.