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O verdadeiro Lampião fez aniversário! Entenda por que tenho esse nome e conheça a relação dos cangaceiros com os cães


 

  • Da Redação

Publicado em 09/06/2019 às 06:00:00
Atualizado em 19/04/2023 às 21:17:07
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Lampião, Maria Bonita, Ligeiro (mais claro) e Guarani (escuro) (Foto: Reprodução) No dia 4 de junho, no meio da semana passada, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, completaria 121 anos. Meu xará pernambucano é uma das figuras mais controversas da história do Brasil. Bandido ou herói? Assassino sanguinário ou Robin Hood do Sertão? Há muitas versões sobre sua trajetória. O fato é que Lampião é o meu nome e meu "pai" é frequentemente questionado por isso.

"Como você bota o nome do seu cachorro de Lampião?". "Seu cachorro é tão inofensivo e você coloca o nome de um assassino". "Porque homenagear um sujeito desse?". Até acusado de maus-tratos meu meu pai já foi por causa do meu nome. Imagine! O objetivo dele, seus cabras, não é homenagear um bandido. O objetivo é manter viva a história do Cangaço, é manter aceso o nome de um personagem que se tornou símbolo de luta contra os desmandos do Governo, referência de bravura e coragem! Lampião lado a lado com seu xará: bravura e coragem (Foto: Reprodução) É aí que estão as principais semelhanças entre eu e Virgulino. Sim, sou bravo e corajoso. E não sou tão inofensivo assim. Entrar no território de Lampião, o Rei do Cangaço, não era para qualquer um. Muitas volantes de policiais viviam na sua cola. Era muito difícil captura-lo porque Lampião tinha muitos amigos. Houve época em que Lampião era tão poderoso que chegou a ser denominado "O Governador do Sertão". 

Eu, da mesma forma, sou extremamente territorialista. Especialmente lá em casa, não se entra de peito aberto que eu mostro logo os dentes. Meu pai desenvolveu uma técnica quando recebemos visitas. Primeiro, sou preso nos fundos enquanto o visitante senta no sofá. Em seguida, ele me solta. Com o a pessoa sentada, não há ameaça. Pronto, dali pra frente pode surgir uma grande amizade. 

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Lampião, o bandoleiro pernambucano, também protegia os seus. Mas, não tolerava infidelidade. Seu faro sentia cheiro de traição longe. Bastava a mínima desconfança para ser vítima de seu punhal. Da mesma forma, sou muito fiel às minhas amizades. Mas, se um desconhecido olha estranho, vai sentir o peso dos meus caninos afiados.

Cada vez mais, com a ajuda de treinadores de cães amigos, estou recebendo melhor as pessoas. Toda vez que alguém vai bater na porta lá de casa, meu pai me dá uns petisquinhos. A comida (tem que ser algo que o cabra goste muito), funciona como um tranquilizante. Pouco a pouco, a gente vai ficando mais equilibrado. Igual Lampião quando casou com Maria Bunita. O cabra amansou feito a peste. 

Os verdadeiros cãogaceioros

No final das contas, tudo é uma questão de saber lidar com a gente. Se você tem um cão territorialista, tenha paciência e procure a ajuda de um profissional. No mais, eu e o aniversariante da semana somos dois sertanejos. E o sertanejo, já escreveu o grande Euclides da Cunha, é antes de tudo um forte. Lampião era um forte que amava cachorros. Em muitas fotos históricas ele, Maria Bunita e os outros cangaceiros aparecem ao lado de cães. Esses, sim, os verdadeiros cãogaceiros. Lampião, o cangaceiro que amava os cães (Foto: Reprodução) O primeiro cão de Lampião teria sido Dourado. Segundo conta o blog Direto da Redação, do jornal Diário de Pernambuco, Dourado morreu varado por uma bala de fuzil disparada por um soldado que ele ia atacar ferozmente para proteger o bando. Dourado era um legítimo Boca Preta Sertanejo, raça nordestina criada pelos índios antes da chegada dos portugueses. Segundo o Diário, Dourado “ostentava uma custosa coleira com incrustações a ouro e prata”.

Virgulino Ferreira sempre se sentiu mais protegido ao lado dos cães. "Um ano depois da perda de Dourado, ele foi fotografado e filmado pelo libanês Benjamin Abrahão ao lado de dois cachorros: Ligeiro (mais claro) e Guarani (mais escuro)". Na mesma foto, os cães eram acariciados por Maria Bunita. Ligeiro teria sido morto a bala também. Guarani permaneceu com o bando até Lampião ser assassinado em uma emboscada em Angicos, na divisa entre Sergipe e Alagoas. "Há duas versões para o fim de Guarani: foi morto junto aos cangaceiros ou adotado por um soldado da policia de Maceió". Companheiros de lida dos cangaceiros (Foto: Reprodução) Em dezembro de 1931, em um cerco no Raso da Catarina, na Bahia, Lampião já havia perdido um cachorro atingido na barriga pelas volantes. Outro cãogaceiro morto. O fato é que os cães, conta o Diário, "para os cangaceiros eram companheiros de lida". Então, seus cabras, vamos deixar de ser maniqueístas e de achar que estamos em uma disputa do bem contra o mal. Cangaceiro também era gente (perseguida, pobre e sem oportunidade) e os cachorros deles também eram pets. Não se trata de homenagem. Se trata de história!

Por isso, o meu nome, na verdade, quer despertar algumas reflexões: que país é esse que faz surgir figuras como Lampião? Que país é esse que deixa à míngua uma região inteira atingida pela pobreza e miséria durante séculos?. Que país é esse que precisa que um bandido se torne o "Governador do Sertão" para que o Nordeste seja respeitado?!.

Respeitem o Nordeste! Respeitem o cangaço! Respeitem Lampião!.