O Vitória e a mitologia da culpa alheia

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  • Da Redação

Publicado em 10 de agosto de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Quando este texto estiver impresso no papel jornal ou disponível na internet, o Vitória, por mérito próprios, ainda será o último colocado da segunda divisão do Campeonato Brasileiro. Talvez anestesiadas pelo duradouro vexame, muitas pessoas ainda não conseguiram cristalizar a medida do buraco, por isso é preciso sempre enfatizar.

Quando este texto estiver circulando, a defesa (?) rubro-negra ainda será uma lástima, o elenco fraco e o caixa, por motivos óbvios, seguirá esvaziado. Quando este texto for publicado, o Vitória estará concentrado para, na condição de lanterna, enfrentar o Paraná. Ah, e a comunicação institucional do clube continuará risível.  

Todos esses são fatos dos quais ninguém pode escapar e que precisam de imediatas ações da diretoria. Acontece que a pessoa que deveria estar agindo para evitar que a agremiação se arruíne ainda mais parece estar mais preocupada em procurar conflitos, talvez achando que assim pode camuflar a própria ineficiência.

Paulo Carneiro assumiu a presidência rubro-negra sustentando o discurso de que somente ele teria capacidade para resolver os problemas do Vitória. Como os problemas do Vitória só fazem se avolumar, existem duas conclusões possíveis, de acordo com a lógica ocidental: ou os problemas do Vitória são insolúveis ou Paulo Carneiro não tem capacidade de resolvê-los – muita gente vislumbrou a segunda opção lá atrás.

O jogo contra o Paraná será o primeiro de Carlos Amadeu no comando técnico. Afinal, depois de claramente errar na escolha e não dar o braço a torcer, Paulo Carneiro finalmente percebeu (ou foi impelido a perceber) quanto tempo foi desperdiçado com Osmar Loss.

Esta segunda troca de treinador num período tão curto de mandato é só um exemplo explícito de como a gestão rubro-negra segue sem rumo e sem prumo, igualzinha às anteriores, mudando somente o tom.

Fazendo jus ao próprio histórico, Paulo Carneiro segue buscando o embate e caçando culpados. Esses dias, resolveu proibir duas equipes de imprensa de entrar na Toca do Leão, como se os profissionais que vão lá diariamente para reportar a situação do Vitória à sua torcida fossem responsáveis pela situação que reportam. Há outros exemplos em voga de quem, por não gostar da mensagem, tenta eliminar o mensageiro – dificilmente dá certo.

Como se não bastasse, volta e meia o presidente tentar empurrar para torcedores que não se associam, veja só, a culpa pelo fraco desempenho do time em campo. Pra completar, insiste em usar seus perfis pessoais em redes sociais para tratar de questões do clube, demonstrando, pelo conjunto da obra, que, institucionalmente, conduz o Vitória apressadamente ao passado.

Um amigo esses dias fez um chiste interessante (não sei de autoria própria): não demora, o Vitória proíbe a torcida de ir ver os jogos no estádio. Só vão entrar os seguidores de Paulo Carneiro.   

Completei: se o time continuar péssimo, a escala de proibições pode ir evoluindo, até chegar ao ponto de os jogos só serem transmitidos pelo Twitter do presidente. Assim, com pouca gente vendo, a ruindade seguirá a mesma, mas com menor alcance.

Quando não restar mais ninguém para apontar o dedo, talvez Paulo Carneiro bote a culpa nas redes da trave – ou no alambrado do Barradão.

Esse é o problema dos mitos: eles são criados em universos de fábula.  

Victor Uchôa é jornalista e escreve aos sábados.