Obra de Menelaw Sete, painel modernista vira atração visual no Horto Florestal

A obra, que homenageia o paisagista Burle Marx, está localizada na Avenida Santa Luzia

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  • Wendel de Novais

Publicado em 11 de dezembro de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Desde a última sexta-feira (11), a experiência de passar pela Avenida Santa Luzia, localizada no Horto Florestal, não será a mesma. Isso porque, no lugar de uma grande parede branca, está agora a obra modernista Pau-Brasil, que é assinada pelo artista visual baiano Menelaw Sete. Com cores vibrantes, elementos naturais em referência às florestas e traços comuns aos modernistas, a obra já chama atenção. 

Além de carregar os traços característicos de Sete, o painel de 30m² tem a influência do trabalho de Burle Marx (1909-1994), artista brasileiro que inspirou a vocação e a produção de Menelaw ao longo de sua carreira. Reconhecido internacionalmente e até apelidado de Picasso brasileiro, Sete ainda não tinha uma obra de rua permanente em Salvador. Para ele, produzir materiais que permaneçam nas ruas é levar arte para todos: “Produzir na rua é democratizar a arte, é tirá-la de um contexto aristocrata e fazer com que ela chegue a qualquer um, o que é necessário. Ainda mais em um momento difícil como o da pandemia, de redescoberta. Por isso, penso que a arte é cura, ela muda a relação com o espaço”.

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Primeiras impressões

A expectativa de Menelaw Sete se confirmou já no meio do processo de produção do painel. Moradores e pessoas que trabalham na região passavam pelo local reagiam com alegria à notícia de que a intervenção seria permanente. Uma dessas pessoas foi a advogada Michele Gonzalez, 39, moradora do Horto Florestal.  

“Eu tive uma ótima surpresa porque  estava indo para uma consulta quando vi. Parei lá e fiquei contemplando o trabalho dele. Fiquei muito feliz pela beleza do painel e também por presenciar o processo de produção dele. Uma obra alegre que, em um momento difícil como esse, alegra o nosso dia e muda o nosso astral”, diz ela.

Quem também só foi elogios para a intervenção artística foi Manuella Nabuco, 37, administradora que tem um escritório num prédio que fica em frente à obra. Para ela, o painel tem tudo a ver com a característica do bairro, que preserva a visualidade natural. 

“Achei incrível. Ver algo tão vivo e com cores vibrantes que casam tanto com o Horto, que é arborizado e procura manter a presença do que é natural na região. Se conecta muito com a predominância do verde aqui, que é histórica. Ver esse tipo de coisa, ainda mais em um cenário de pandemia, enche nossos corações de alegria. A gente está precisando muito de arte, ainda mais desse jeito, cheia de alegria", afirmou Manuella, se derretendo pela obra de Menelaw Sete. Manuella trabalha em prédio que fica em frente ao painel (Foto: Edgard de Souza/Divulgação) Fábio Jesus, 40, administrador e morador do Horto Florestal, ficou hipnotizado pela obra ao sair para passear com o filho e seu cachorro. Ele concorda com a declaração de Manuella sobre a sintonia entre o visual do bairro e o trabalho do artista, e acredita que mais trabalhos como este deveriam ser espalhados pela cidade.

“Muito legal. Apoio bastante iniciativas como essas, que levam a arte para além dos muros e as espalham pela cidade, deixa tudo mais bonito. Aqui é um espaço privado, mas seria bacana que houvesse oportunidade pra fazer isso em espaço público. Daria a oportunidade de obras como essa, que não só combinam com o bairro como com Salvador e nosso país, tivessem mais espaço”, opina Fábio. Fábio aprovou painel no bairro e ficou hipnotizado pela obra (Foto: Edgard de Souza/Divulgação) Inspiração e homenagem

O alinhamento entre a obra e o ambiente ressaltado pelas pessoas que moram ou trabalham na região não é devido apenas ao fato da predominância da natureza no local, em território soteropolitano e brasileiro. Pintar a natureza e criar a partir dela faz parte da carreira de Sete, que sempre admirou artistas que produzissem com estes elementos.

 “Trazer esses elementos, que fazem referência ao trabalho de manter um bairro com predominância natural, é importante. Na verdade, o meu trabalho atravessa a natureza, conversa sempre com esses elementos e os insere dentro do que eu produzo. A minha arte fala de uma riqueza gigantesca que Salvador e o Brasil têm que é a natureza. Por isso e pela inspiração que tenho em Burle Marx”, explica. Sete é fã declarado de Burle Marx (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Sete é um grande admirador de Burle Marx, artista multi-linguagem reconhecido de maneira internacional por  ter introduzido o modernismo no paisagismo brasileiro. Para dar vida ao painel, pesquisou sobre a trajetória e o trabalho dele. O nome e a inspiração principal do painel estão relacionados à valorização que Burle Marx dava às espécies brasileiras. 

“Ele é uma grande referência para mim. Um artista completo que trouxe, antes de todo mundo, as espécies brasileiras ao paisagismo, quando o que se praticava na área era o modelo francês. Então, é preciso lembrar quem fez história, quem deixou um legado. Burle Marx é uma história, um artista e um dos grandes nomes do ambientalismo também. Faz com que a Bahia continue respirando e transpirando arte”, acredita Sete.

Menelaw Sete

Além dessa arte de rua, o artista soteropolitano possui 33 anos de arte e mais de 50 mostras internacionais no currículo. Entre as obras, diversidade. Sete já produziu esculturas, pinturas, cerâmicas e até álbum de música. Seu trabalho lhe rendeu homenagens como o título de professor ilustre, conferido pela Escola Superior de Belas Artes de São Francisco de Córdoba, na Argentina, a medalha Eugênio Teixeira Leal e a medalha Thomé de Souza, conferida pela Câmara de Salvador. Sete é ainda o único baiano que teve a honraria de ganhar uma sala de museu localizada na Sicília, em território Italiano. Soteropolitano tem trabalho reconhecido no mundo inteiro (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Para conhecer mais sobre Sete, você pode acessar suas redes sociais. No Instagram, ele está como @menelawsetearts.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro