Obras de arte são entregues depois de seis meses de restauração em Salvador

Telas retratam personalidades importantes do tempo do Império e fazem parte do acervo da Casa Pia

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  • Gil Santos

Publicado em 18 de junho de 2021 às 14:31

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

O escritor irlandês Oscar Wilde afirmou certa vez que o ofício da arte é, a seu modo, uma verdadeira obra de arte. A frase foi dita no famoso livro O Retrato de Dorian Gray, e por falar em retrato, seis pinturas antigas foram restauradas a pedido da Casa Pia de São Joaquim, no bairro da Calçada, e serão colocadas para visitação pública.

O CORREIO fez uma reportagem, em maio, contando os bastidores do processo de restauração de cada obra. Nesta sexta-feira (18), foi apresentado o resultado para os integrantes da Casa Pia e para a imprensa. Nada escapou aos olhos dos restauradores e dos visitantes, desde as cores vibrantes, os detalhes na roupa de cada personalidade no retrato até a paisagem em que elas estavam envolvidas. José Dirson Argolo, o responsável pela restauração (Foto: Arisson marinho/CORREIO) O processo de recuperação dos retratos começou em janeiro e foi finalizado no começo de junho. O artista plástico e restaurador responsável pela equipe que realizou o trabalho, José Dirson Argôlo, contou que as obras estavam com tecidos rasgados e roídos por cupins, que a madeira da moldura estava destruída, com fungos, descolamento da pintura e atos de vandalismo provocados pelas crianças que frequentavam o orfanato.

“Os inimigos das obras de arte são sempre os agentes atmosféricos, que são a chuva, a humidade e a luz. A gente mora em uma cidade de clima quente e húmido e existe o salitre das proximidades. Além disso, tem os insetos que são muito comuns nos climas tropicais, como fungos e cupins. E ainda existe o elemento humano, como a falta de verba para fazer a manutenção permanente do acervo. Isso contribui para que as obras de 100 e 200 anos fiquem estragadas”, contou.

A maioria dos quadros mede 2 metros de altura, foram pintados entre os séculos XVIII e XIX, e retratam personalidades influentes da época, como o irmão Joaquim Francisco do Livramento, fundador do Colégio dos Órfão, hoje, Casa Pia, feito por José Teófilo de Jesus.

Se na obra do irlandês Oscar Wilde o jovem Dorian Gray cobria o retrato com um tecido e o escondia para que não fosse visto, na Casa Pia a intenção é justamente o contrário. Segundo a provedora da instituição, Maria Amélia Tourinho, os seis quatros restaurados ficarão em exposição para o público assim que for possível.

“A casa tem 222 anos, e os quadros estavam precisando de restauro. Conseguimos com a Fundação Gregório de Mattos essa recuperação. Temos muitas obras guardadas, mas a seleção e a restauração precisam ser aos poucos. Estamos escolhendo os espaços em que eles vão ficar, porque o objetivo é que esses quadros fiquem expostos para a visitação pública para serem apreciados”, disse.

A Casa tem 42 telas e mais dez pianos de época. Os restauros foram realizados através de projeto contemplado pelo Prêmio Jaime Sodré de Patrimônio Cultural, da Fundação Gregório de Mattos, por meio da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc, com recursos oriundos da Secretaria Especial da Cultura e Ministério do Turismo. O presidente da Fundação, Fernando Guerreiro, destacou a importância da ação.

“A memória é muito importante, é através dela que a gente se liga com a nossa identidade, a gente reforça nossa história e podemos projetar o futuro. Então, esse trabalho de restauro é importante para a Casa Pia e enfatiza a relevância dessas obras”, afirmou.

A Casa Pia está construindo novas salas, com cozinha escola e outros espaços interativos para as 195 crianças que estudam na instituição. A expectativa é de que as obras sejam concluídas ainda esse ano. Depois que a nova estrutura entrar em funcionamento as salas do prédio antigo serão transformadas em espaços de capacitação com cursos profissionalizantes. Está prevista também o plantio de 300 mudas no terreno ao lado.

Confira as personalidades pintadas:

Antônio Fernandes Cardeira – Benfeitor da Casa Pia, pintado por Vianna de Campos;

Antônio Vaz de Carvalho – O comendador Antônio Vaz de Carvalho foi administrador da Casa Pia no final do século XIX, além de ter sido provedor e benfeitor do lugar. Ele escolheu ser retratado pelo artista José Rodrigues Nunes vestido como juiz, cargo que ocupou em Cachoeira e no Tribunal da Relação da Bahia nos anos 1820; (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Imperador D. Pedro II – Segundo imperador do Brasil. O autor da tela é desconhecido; (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Jesus Abençoa as Crianças – Com 2,26 metros, é a maior das seis telas restauradas. A obra é de João Francisco Lopes Rodrigues; Maria Amélia, provedora da Casa Pia (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Joaquim Francisco do Livramento – Natural de Santa Catarina, foi o fundador da Casa Pia de Salvador. Ele foi retratado por José Teófilo de Jesus; (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) José Antônio Roiz Vianna -  Outro benfeitor da Casa Pia, José Vianna foi retratado segurando a mão de uma criança, como os órfãos que a instituição recebia. A tela é de José Teófilo de Jesus; (Foto: Arisson Marinho/CORREIO)