Ocorrências para resgate de felinos durante pandemia é cinco vezes maior

Orla de Piatã abriga comunidade de 150 gatos que foram abandonados e sobrevivem a partir de doações

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  • Vinicius Harfush

Publicado em 23 de abril de 2020 às 07:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho / CORREIO

Em um cenário de isolamento social onde os animais domésticos se tornam grandes companhias para enfrentar a solidão, muitas pessoas têm lidado de uma forma diferente, e nada agradável, com os bichinhos.

Em matéria publicada pelo CORREIO, a partir de uma pesquisa da Brigada K9 do Corpo de Bombeiros, e que também foi divulgada pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-BA), foi constatado que o abandono de cães aumentou em mais de 800% durante o tempo de quarentena. Mas é preciso voltar a atenção em especial para os felinos, que ao serem deixados nas ruas têm um comportamento diferente dos outros amigos de quatro patas.

Segundo José Eduardo Ungar, que é presidente da Comissão de Saúde Pública do CRMV-BA, o mapeamento do abandono de gatos se torna mais difícil que o dos cães pelo seu instinto animal. Circunstâncias como a alta reprodutividade e a capacidade de se adaptarem às vias públicas dificulta a identificação desses animais, o que não acontece tanto com os cachorros de rua.“A população felina tende a crescer muito mais rápido e isso se torna mais grave por conta dos abandonos de animais não castrados, principalmente dos mais jovens. Além de poder procriar a cada três meses, a gata entra no cio a partir do quarto mês de vida”, aponta Ungar. Em números, a brigada K9 do Corpo de Bombeiros, criada e liderada pelo comandante França, informou que, desde o início da pandemia, o abandono dos felinos é quase cinco vezes maior. Somado ao alto índice de abandono de cachorros também, o comandante criou o projeto Doação de Coração, que conta com a ajuda de protetores e clínicas veterinárias particulares, que se engajaram no movimento. “Esse é um projeto em conjunto com a sociedade”, afirmou França. 

Por dia, as duas viaturas da brigada atendem 200 a 500 gatos em situação de rua, levando as rações doadas para pontos de concentração dos bichanos em Salvador, como acontece na Pituba e, principalmente em Piatã. Na orla do bairro, bem próximo à Praça de Piatã, há uma comunidade de 150 gatos, que vive em meio ao mato que cerca a areia da praia."Antes recebíamos ligações para resgatar um gatinho ou dois por dia. Agora chegamos a receber ligações para resgatar na rua até 15 animais, várias vezes por dia", Comandante França Os gatinhos se aglomeram para comer a ração que é colocada no balde (Foto: Vinícius Harfush / CORREIO) Para quem é da região, já se tornou comum ver os animais ali, e também as ações de abandono. Leo Jiménez, 29, e Leila Costa, 26, passeiam constantemente com os cães Leon, Pandora e Amora, e contam que os felinos sempre estiveram ali, e que às vezes a quantidade é ainda maior.“Eu acredito que eles se reproduzem e por isso tem esse número grande”, disse Leila. Com as doações da K9, os gatos se mantém naquele espaço e vivem, principalmente, pelos cuidados quase diários de Rosilene Ribeiro. Rose, como gosta de ser chamada, era moradora de rua daquele local e hoje vive numa casa próxima à praia, mas não deixou de ir ver os animais. Entre os pulos, miados e alguns desentendimentos, ela coloca os quilos de ração no balde para alimentar figuras como Malandro - que, segundo ela, é o chefe da comunidade - Galego, Penélope e Chorão - que mia bastante - e não se queixa do trabalho. 

“Não consigo saber o nome de todos porque toda hora chega um novo, mas vou tentando gravar e dar comida à todos eles”, contou. Ela lembra que já tentou argumentar com pessoas que passam de carro para largar os gatos naquele local, mas muitas vezes foi recebida com atos ofensivos e de violência.

O comandante França reforça que a situação já ocorre há dois anos em Piatã e “o que começou com uma pessoa deixando, virou ponto para largar outros gatos lá”. A comunidade de Piatã reúne gatos de diversos tamanhos. É possível encontrar filhotes no meio deles (Fotos: Arisson Marinho / CORREIO)  Nos abrigos, a situação é a mesma. Urânia Almeida, que é presidente da Associação Brasileira Protetora dos Animais, conta que os números de abandonos são extremamente superiores aos de adoções, principalmente quando se trata de gatos: “Muita gente ainda cria toda aquela mística com os gatos. Preconceitos por achar que vão tomar conta da casa, de que não são afetuosos… e não é bem assim, não são verdades”, afirmou.

Só de felinos, são quase 200 abrigados nas sedes da ONG. E em um único final de semana da pandemia, 12 gatos foram deixados na porta de um dos espaços. 

A saída se prende à consciência social da importância da adoção dos animais. Urânia reforça a necessidade de políticas públicas que estejam voltadas para o fim do comércio animal e que reforcem a importância de ter uma adoção responsável, até porque, como ela destacou “abrigo não é o lugar do animal, essa é nossa visão”.

José Eduardo Ungar destaca que, para aqueles que desejam realizar a adoção responsável, o processo passa por procurar sempre os abrigos, porque são locais que fazem uma triagem nos bichanos e se certificam de que não espalharão doenças que podem afetar até os humanos. Nos casos dos animais de rua, antes de levá-los para casa, se certifique da saúde dele em uma unidade veterinária. Esse ´é o melhor caminho”, completou Ungar. 

Veja onde adotar gatos em Salvador:

*Associação Brasileira Protetora dos Animais na Bahia (ABPA-Bahia) - informações no e-mail: [email protected]

*O site Procure um Amigo oferece diversos serviços e links para Ongs e outras entidades para quem pretende adotar gatos e cães: www.procure1amigo.com.br