Olimpíada não é só sobre competir

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Publicado em 4 de fevereiro de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Chegar a uma Olimpíada é coisa para poucos mortais. Ganhar uma medalha olímpica então... Ser um atleta de nível internacional deve ser motivo de muito orgulho, sobretudo para aqueles que não tiveram em sua formação, nas escolas, parques ou clubes, a oportunidade ideal de aprender o básico de algumas modalidades. No Brasil, mais especificamente aqui na Bahia, vivemos essa realidade.

A coluna de hoje, entretanto, não vai falar sobre essas dificuldades ou sobre a falta de estrutura de nossas quadras, campos, pistas, mas sobre um problema importante pouco discutido no nosso repertório esportivo: a cultura olímpica e sua relação com o esporte de alto rendimento. O tema reaparece para mim sempre no início de cada ano olímpico, até por conta da presença maior de matérias e discussões sobre os Jogos na grande mídia.

Há nessa relação algo que já me incomoda há tempos, desde mesmo a minha inexpressiva e fracassada tentativa de ser jogador de basquete: a hipócrita ode ao ideal olímpico de que “O importante é competir” e ao conservadorismo do espírito amador dos Jogos.

Segundo o historiador britânico John Goodbody, o lema de que “Ganhar não é tão importante quanto participar” surgiu nos Jogos de Londres, em 1908. O Barão de Coubertin, principal cabeça no grupo que criou as Olimpíadas Modernas, adotou a frase (com adaptações). Justo, mas também cínico. Por que competir, então? Por que não fazer dos Jogos uma grande exibição? Entendo até que, individualmente, o ideal funcione. Como disse antes, participar da Olimpíada é uma honra e significa pertencer à elite do esporte mundial. O problema é que o COI jamais respeitou esse lema para além disso, organizando o evento com ranking de países e separando atletas e nações entre vencedores e perdedores.

Isso não é ruim. O ambiente esportivo é, por natureza, competitivo. O que incomoda é que o COI insiste em vender essa ideia de evento participativo, como pano de fundo de algo que passa ao largo do romantismo. Com o avançar dos anos, cada vez mais esse caráter idealista e amadorístico se enfraqueceu, com o fim dos cartolas e atletas abnegados, ou com a forte moeda política e econômica que se tornou sediar uma Olimpíada.

E tem mais: o COI sabe - e nada faz - que hoje o esporte de alto nível não é saudável para os atletas. E nem entremos aqui no polêmico tópico do doping. Fiquemos apenas na prática demolidora de músculos, tendões e ossos que é levar o corpo humano ao seu extremo por conta de uma atividade esportiva. O que vale é competir?!!!

Repito. Não vejo, de verdade, um problema na lógica competitiva do esporte. Gosto dela. Reflete um outro ideal olímpico que segue sendo atual e que combina bem mais com os Jogos da antiguidade e da modernidade: a reverência ao “mais alto, mais rápido e mais forte”. Nas narrações de Homero e seus pares gregos, ou nas páginas de jornais dos séculos XIX, XX e XXI, as histórias olímpicas que ficam e que chamam a atenção do mundo são sobre o caminho e esforços para alcançar a excelência numa modalidade.

Que o COI louve a Olimpíada como um encontro, sem igual, entre os melhores do esporte, ou como uma festa abraçada pelo mundo em ode aos atletas e às modalidades, mas não me venha com essa de que o importante é competir. Nunca foi!

Luiz Teles é jornalista e escreve às terças-feiras.