Olimpíada: testaram a paixão até (quase) acabar

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  • Gabriel Galo

Publicado em 7 de agosto de 2021 às 05:32

- Atualizado há um ano

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No Rio-2016, eu e minha esposa embarcamos num ônibus fazendo a ponte rodoviária SP-RJ. A acomodação em casa de amigos em Ipanema veio a calhar, o Rio em festa veio mais ainda, e os ingressos garantidos para assistir à disputa do terceiro lugar e à final do basquete masculino aumentavam a expectativa. Meus mais de 2 metros de altura e joelhos operados de herança dos tempos de jogador de basquete empolgavam a memória.

Era domingo, último dia de jogos. O basquete encerraria a disputa, nem dando tempo de sair dali pra pegar a cerimônia de encerramento. Na praça do lado de fora, entre um jogo e outro, vimos o Brasil levar o ouro no vôlei masculino. No dia anterior, num bar abarrotado, geral bradou até afônica com o ouro do futebol.

No tardar do centro olímpico, um vento forte e gelado avisou do fim. Fazia frio e as tendas eram levadas pelo sopro. Na fila para entrar para a decisão da medalha dourada entre EUA e Sérvia encontrei amigos do esporte que também queriam o seu espaço na história olímpica do baloncesto. E de dentro da Arena Carioca I, o vareio americano foi de certa forma um balde de água fria num dia que começou quentíssimo com o bronze espanhol, comemorado com entusiasmo.

Para quem gosta de sinais, estava ali a natureza anunciando a mudança dos tempos. Do calor de um dia festivo para o fim frio, depois com chuva, que mergulharia a todos na tristeza da despedida.

De lá pra cá, basquete e futebol, esportes com os quais tenho maior relação afetiva, continuaram a dominar a preferência. Neste quesito nada mudou. O que mudou mesmo foi a relação com a seleção – e que culmina nestes Jogos Olímpicos com algo que jamais poderia imaginar.

Na edição da Papo de Galo_ revista #5, escrevi que o ludopédio pandêmico e sua relação com os torcedores estava testando a minha paixão pelo futebol. E na final do Pré-Olímpico de basquete masculino na Croácia, a derrota do Brasil para a Alemanha na final arrefeceu a empolgação.

No que, estarrecido, chega-se ao sábado das finais em que somei precisamente zero minuto de atenção aos dois esportes que mais amo. Talvez alimentado pelo desgosto da eliminação do basquete masculino, pela decepção constante do basquete feminino, pela desconexão da seleção masculina com sua gente, pelo erro crasso da seleção feminina em escolher adversário nas quartas de final e cair nos pênaltis para o país que viria a ser o campeão olímpico: carma.

Não que tenha ficado acabrunhado pelo pecado original. Dediquei tempo e torcida a esportes outros que sabia gostar ou que nem ao menos sabia as regras básicas. E decidi, pelo bem do conforto da alma, que foi melhor assim. Quer oportunidade melhor que os Jogos Olímpicos para que o desporto da página 2 se torne protagonista de nossas paixões?

Chega, por este viés, a ser quase poético: que carece de mídia e de conhecimento a escantear os magnânimos do afeto. Então vou nos movimentos de jabs de Hebert e Bia Ferreira, remo junto com Isaquias, abro braçadas com Ana Marcela, subo na cortada de Fernanda Garay. Ali na tela nos conectamos, nos tornamos um. Quer saber? Foi melhor assim mesmo. Amanhã o futebol e o basquete voltam a dominar meu assistir. Mas, por hoje, todo o resto vale muito mais.

Gabriel Galo é escritor e deve espiar de vez em quando as finais do futebol e do basquete, porque é safado e tudo tem limite.