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Wendel de Novais
Publicado em 3 de março de 2021 às 21:23
- Atualizado há 2 anos
O operário terceirizado Nivaldo da Silva, 52 anos, morreu, nesta quarta-feira (3), pouco antes de iniciar seu primeiro dia de trabalho na obra do Hospital Mater Dei, na Garibaldi. Nivaldo, que era contratado pela Construtora Matos, morava em Jequié e chegou a Salvador na terça (2). A morte ocorreu às 8h50, quando ele ainda estava no refeitório, se preparando para o treinamento de funcionários novos. >
Nivaldo teve um mal súbito e morreu por causa natural, classificada como desconhecida pelo Samu, que foi chamado pela construtora, prestou atendimento, mas não conseguiu evitar a morte do operário. >
Após os procedimentos de avaliação da causa da morte realizados pela equipe médica, que cobriu o corpo de Nivaldo, a construtora responsável pela obra teria dado in[icio ao truno de trabalho.>
A situação foi denunciada e dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção e da Madeira da Bahia (Sintracom) foram até o local e questionaram a decisão de manter funcionários trabalhando com o corpo no local. O sindicato classificou a situação como um "completo desrespeito" para com Nivaldo, a família e seus colegas que presenciaram sua morte.>
A assessoria da obra nega essa versão e diz que após a morte do operário, o trabalho foi interrompido e os funcionários liberados. O sindicato rebate afirmando que a liberação só ocorreu após intervenção do Sintracom.>
Revolta >
Um dos presentes na frente da obra foi Arilson Ferreira, diretor de saúde do Sintracom, que se mostrou perplexo e indignado com toda a situação a que Nivaldo foi exposto após a sua morte e cobrou respeito. "O Samu recomendou a empresa a fazer os procedimentos para tirar o trabalhador da obra para que ele fosse enterrado, mas ficamos indignados porque, no momento em que chegamos, o corpo estava no chão, coberto por um plástico preto e a obra acontecendo normalmente, como se nada tivesse acontecido. Uma obra que, se não fosse pelo Sintracom, não teria sido interrompida até agora, mostrando um completo desrespeito com a vida de um operário", afirmou.>
O diretor criticou o clima de normalidade após a morte do operário. “Nós estamos falando de uma vida, de um trabalhador que morreu em um lugar no qual ele veio ajudar, dar sua parte. Como é que qualquer pessoa pode ignorar isso e continuar uma obra como se nada tivesse acontecido, como se o que estivesse no chão não fosse nada? Isso não pode acontecer e por isso viemos aqui”, ressaltou.>
Avaliação médica>
O Sintracom também questinou o fato do corpo do operário ter sido retirado por uma funerária e não pelo IML. No entanto, João Vitor Mendes, o técnico em segurança do trabalho da obra, que foi o primeiro a prestar socorro para Nivaldo, disse ao CORREIO que os encaminhamentos foram feitos com aval da equipe médica que os orientou após atestar a morte. "O Samu nos comunicou que havia a possibilidade de fazer a queixa na polícia civil, depois ir no cartório e fazer todos trâmites ou chamar a funerária, que resolveria tudo isso por eles mesmos, o que agilizaria o processo até para que o corpo não ficasse por muito tempo porque é uma situação de exposição que queríamos evitar”, relatou. >
Mendes contou ainda que as equipes presentes na hora liberaram os procedimentos por se tratar de um óbito natural, sem suspeita de homicídio por qualquer via. "A Polícia Militar e o Samu chegaram na hora que eu estava fazendo a reanimação." A reportagem do CORREIO procurou a assessoria do Instituto Médico Legal para entender se a forma como o corpo foi encaminhado estava correta e o IML informou que, em casos de morte natural, o corpo não é encaminhado para o instituto e que o Samu pode dar declaração de óbito em casos sem sinais de violência atestados pelos médicos e liberar encaminhamentos, como aconteceu. O Sintracom confirmou a interrupção, mas afirma que esta só ocorreu, após a intervenção do sindicato.>
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro>