'Orgulho', diz baiana que vive na Itália ao ver foto de Irmã Dulce no Vaticano 

Imagem foi exposta em uma das 11 janelas da Basílica de São Pedro, no Vaticano

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  • Jorge Gauthier

Publicado em 10 de outubro de 2019 às 18:34

- Atualizado há um ano

. Crédito: Jorge Gauthier/CORREIO

Nos últimos 7 anos a baiana Edna Costa contou para milhares de turistas brasileiros e estrangeiros a história do Vaticano. Estudou e decorou nomes, relatos e casos de diversos papas e santos. Nesta quinta-feira (10), quando chegou ao seu local de trabalho como guia cultural do menor país do mundo, viu mais um capítulo dessa história sendo escrito diante dos seus olhos.

Hoje, em uma das 11 janelas da Basílica de São Pedro, no Vaticano, foi hasteada uma flâmula com a imagem de sua conterrânea, Irmã Dulce, que será nomeada santa no próximo domingo (13). “É um orgulho muito grande ver uma baiana nesse posto. O Vaticano reúne histórias da tradição do catolicismo. Irmã Dulce agora faz parte dessa história de uma maneira emblemática”, comenta Edna, que vive na Itália há 15 anos. Quando as portas do Vaticano se abriram nesta manhã, ao lado de Dulce estavam também as imagens dos outros quatro beatos que serão canonizados no domingo: John Henry Newman, cardeal, fundador do Oratório de São Filipe Néri na Inglaterra; Giuseppina Vannini (no século Giuditta Adelaide Agata), fundadora das Filhas de São Camilo;  Maria Teresa Chiramel Mankidiyan, fundadora da Congregação das Irmãs da Sagrada Família e Margherita Bays, Virgem, da Ordem Terceira de São Francisco de Assis. 

A exibição das imagens sempre acontece dois ou três dias antes das cerimônias de canonização nas janelas da basílica que sempre exibem as imagens dos novos santos . “Eu vim por Irmã Dulce, mas acabei me encantando pela história dos outros santos que vão ser canonizados junto com ela. Acho que, no fundo, tudo renova nossa fé. E ver Irmã Dulce neste posto nos enche de alegria”, celebra a empresária paulistana Vanessa Loah . 

Às vésperas das canonizações, as representações dos cinco novos santos não ficaram restritas apenas às janelas da basílica. As lojas de souvernis no entorno da praça de São Pedro estavam lotadas de terços, medalhas e cartazes com as imagens dos cinco.

Católica fervorosa a italiana Paollah Novat gastou 400 euros (cerca de R$ 1,8 mil na cotação atual) para levar lembranças dos novos santos para a família. “Temos que manter nossa fé quente no coração. Comprei para a família toda. Tenho muitos netos e sobrinhos. Vou pesquisar a história de cada santo para contar para eles”. 

O investimento de Paollah foi alto. Afinal, os novos santos estão custando caro. Nas lojas de souvenirs do Vaticano a freira baiana está valendo mais do que o Papa Francisco. No entorno da Praça de São Pedro, um terço com a imagem de Irmã Dulce está sendo vendido por 3 euros (cerca de R$ 15). Já os terços com a imagem do papa saem por 1 euro ( cerca de R$ 5). Na Itália, segundo a cotação desta quinta-feira (10), um euro vale R$ 5. "Com a canonização acaba que os novos santos ficam mais populares. Eu não conhecia Dulce, mas estamos na expectativa de vender bastante os itens com a imagem dela", diz a vendedora italiana Anne Louise. Além do terço - que é de plástico e metal - estão sendo vendidas, pelo mesmo valor, medalhas com a imagem de Dulce e também quadro com a fotografia da nova beata. Até agora, o campeão de vendas é o inglês, mas a aposta é que Dulce e Giuseppina - popular na Itália - assumam a dianteira . "Estamos apostando mais em vender as peças de Dulce. Sabemos que vêm mais brasileiros pra cá do que ingleses. Mas o cardeal é mais conhecido aqui na Europa", estima Valério Apollo que tem no estoque 3 mil terços com a imagem da freira baiana. 

A inflação é romana mas a pechincha é brasileira. Apesar do alto preço é sempre possível negociar. A reportagem do CORREIO, por exemplo, conseguiu comprar seis terços por 15 euros - um saiu de brinde. "Todo brasileiro que chega aqui chora pedindo desconto. Uma brasileira disse que aprendeu com Irmã Dulce a pedir as coisas mais baratas", brinca Apollo.

Canções  Irmã Dulce amava ouvir música brasileira, especialmente o forró e Roberto Carlos. Mas também gostava das canções religiosas que falavam da Virgem Maria. Neste domingo (13), pela voz do cantor lírico carioca João Isaac Marwues, 25 anos, essas canções estarão na cerimônia de canonização da freira baiana que acontecerá no Vaticano.

João conta que ainda não sabe o repertório da missa, mas destaca que a Salve Regina (oração da Salve Rainha) deverá compor o repertório da cerimônia do Vaticano e também da missa que acontecerá na segunda-feira (14), em Roma. João é barítono e estuda composição na cidade italiana. Ele integra dois corais no Vaticano - o coro guia e o cabido da capela Júlia. 

"Vim para cá a convite do cardeal Dom Orani Tempesta, do Rio de Janeiro, para representar o Brasil em um congresso de arte sacra em 2017. Acabei me encantando pela Itália e decidi morar aqui ", explica João, que tem mestrado em música sacra e atualmente faz curso de autoformação em composição na  Academia Nacional de Santa Cecília, em Roma. A instituição existe desde o século 16."É importante para o Brasil ter uma santa brasileira. Vejo esse momento como uma expansão do Brasil dentro da da igreja"Católico, João conta que está lisonjeado de participar das homenagens para Dulce. "Eu não conheço bem a história dela, mas sei que teve uma importante missão em servir ao próximo. Me sinto muito honrado de participar das celebrações para ela" , explica João, que só saberá o repertório que cantará na véspera - fato que é comum nas missas do Vaticano que participa. 

* Jorge Gauthier é chefe de reportagem do CORREIO e está em Roma para fazer a cobertura da canonização de Irmã Dulce

* O projeto Pelos Olhos de Dulce tem o oferecimento do Jornal CORREIO e patrocínio do Hapvida.