Os animais da casa

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  • Kátia Borges

Publicado em 29 de dezembro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Não consigo, por mais que force a memória, imaginar algum período longo sem bichos morando em nossa casa, durante a infância. De exagero, certa época, tivemos de vez uns cinco animais de estimação.

Minha avó Alice possuía um cágado gigante. E, certa vez, achamos outro, um pouco menor, escondido sob as tábuas de um velho assoalho de madeira, em um dos cômodos. Não me pergunte a razão, virou o Predileto.

Predileto foi resgatado pelo pedreiro quando ninguém mais esperava que ele estivesse vivo, acho que nem ele mesmo. Tinha um jeito humano, demasiado humano, um assombro para as visitas. Era um cágado que pedia carinho, por exemplo.

Sumido tantos anos, preso entre os tacos, no mais absoluto silêncio, ele só queria ficar rondando as pessoas pela casa, lento, bem do jeito dele. Estacionado, longas horas, sob o afeto de quem se dispusesse a coçar a sua diminuta cabeça. Eu amava Predileto.

Mas, de carinho, economizávamos mesmo para os nossos gatos e cachorros. Perdi a conta de quantos foram. Lembro Possante, um felino imenso, amarelo e branco, que gostava de brincar de esconder. Não sei como escolhíamos esses nomes. 

Alguns bichos lá de casa simplesmente apareciam do nada e iam ficando. Certa vez herdamos um cachorro quase selvagem, abandonado pelo dono no quintal de uma casa que alugamos. Só a minha mãe conseguia lidar com ele.

Tempos depois, o meu pai ganhou de presente um pássaro preto inacreditável de tão inteligente. Ele vivia solto na sala. Precaução, talvez. Um dia, soltei das gaiolas todos os pássaros de meu tio. Meu pai também amava os canários e os peixes desses de aquário.

Todo mundo era meio doido nesse quesito de bichos. Mas acho que superei todos eles. Tive um mico, Francisco, trazido de carro de Baixa Grande. Mais de 200 quilômetros na estrada. E uma galinha chamada Gertrudes, que criei desde que era um pinto. 

Também tive  uma vaca, a Diamante, pobre coitada, cresceu na fazenda de um outro tio. Pouco nos vimos. Sinto falta dessa energia de ter animais em casa. Não sei descrever com palavras. Tento. É a sensação de que a gente dorme e acorda no presente feliz de todo.