Os atletas precisam ter o poder de decidir

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  • Ivan Dias Marques

Publicado em 20 de abril de 2018 às 05:07

- Atualizado há um ano

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Há um cenário no esporte em geral que devia incomodar mais amantes, profissionais de imprensa e, principalmente, atletas. Ainda que as mudanças estejam chegando, racionalmente, é inadmissível os atletas não terem tão pouco peso na hora de decidir os rumos das categorias nas quais se incluem.

Pense bem. O dinheiro das federações vem de onde? Taxas pagas por clubes/atletas, patrocínios, incentivos estatais, capital de giro de eventos realizados pelas próprias entidades... Bem, os patrocínios só existem por causa das competições e visibilidade que os ATLETAS dão. Os eventos só podem dar certo de acordo com a produção dos esportistas, imagem que produzem de acordo com seus resultados, que, previamente, os credenciaram como ídolos.

Ou seja, no fim, toda a grana que gira no esporte depende do atleta. De seu esforço, de seu rendimento, de seus resultados. E por quê, então, ele decide tão pouco nos rumos das suas federações?   

Duas situações nesta semana chamaram atenção. Na terça (quarta, na Austrália), a WSL, finalmente, cancelou o restante da etapa de Margaret River do Mundial. Haviam acontecido dois ataques com tubarões brancos a cerca de 6km do lugar onde ocorriam as disputas das baterias.

Tubarões brancos possuem velocidade máxima de 40 km/h. Em cerca de NOVE minutos, o tubarão percorreria os 6km que separavam as praias do ataque e da competição. E a WSL só interrompeu a disputa feminina por uma hora, após saber do primeiro ataque, retomando as baterias em seguida. 

Margaret River é conhecida pela grande fauna marinha. A carcaça de baleia, culpada pela presença dos tubarões, é um detalhe, assim como a temporada de reprodução de salmão. A praia é arriscada e todos sabem disso.

No entanto, os atletas precisaram fazer posts no Instagram e pressionar a WSL de todas as formas para que ela percebesse o óbvio. Percebesse não. Entendesse que a vida dos surfistas é mais importante que a grana dos patrocinadores e que um possível acidente grave seria um atestado monstruoso de incompetência e falta de sensibilidade.

Antes mesmo do ‘encontro’ de Mick Fanning com um tubarão em Jeffrey’s Bay, em 2015, já sabia dos riscos também da praia sul-africana. Dois anos depois, a bateria entre o próprio Fanning e Gabriel Medina precisou ser interrompida pela aparição de um tubarão. O que a WSL quer? Uma filmagem ao vivo para o mundo todo de um ataque?

Ainda na terça-feira, na CBF, uma eleição de favas contadas para o substituto de Marco Polo Del Nero. As federações, claro, possuem um peso maior que os clubes. Se todos os 40 das Séries A e B quiserem um candidato e as federações quiserem outro, elas ganham. Pensem num absurdo. 

E olhe que os clubes têm seus próprios interesses e os atletas são apenas funcionários desses. No entanto, as agremiações também possuem papel fundamental no futebol, o que as credencia a ter voz e peso na entidade. Pelo menos, isso parece óbvio (não para os cartolas das federações).

Claro que a mudança não é fácil. Como sabemos, quem tem o poder nas mãos jamais irá querer compartilhá-lo, ainda mais quando possui uma bancada no Congresso Nacional fazendo questão de manter a concentração do poder. 

É preciso que os atletas se conscientizem do poder que têm. E, sim, isso é uma metáfora – também – para todos nós.  

Ivan Dias Marques é subeditor de Esporte e escreve às sextas-feiras