Os perfis sumiram, o MBL esperneia e a esquerda finge que levita

Malu Fontes é jornalista

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Publicado em 30 de julho de 2018 às 05:03

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arquivo CORREIO

O Facebook derrubou 196 páginas e 87 perfis ligados ao MBL, o Movimento Brasil Livre. O grupo, formado por ativistas engajados de extrema-direita, espalha com vontade notícias falsas, pede censura de exposições e manifestações artísticas que considera desaconselháveis às famílias de bem, prega o estado mínimo e a liberdade máxima do mercado e considera qualquer queixa contra o liberalismo como mimimi de petralha esquerdopata.

O Facebook é uma das mais preciosas joias da coroa do liberalismo econômico global atual, a religião do MBL. No entanto, bastou ter suas páginas propagadoras de desinformação derrubadas que o MBL anunciou que o Facebook é uma empresa de esquerda e correu para os braços de quem? Do Estado brasileiro. O movimento está conclamando a Suprema Corte do país e o Palácio do Planalto a impor cerceamento e regulação às regras do Facebook. Não admite ser punido e derrubado, mesmo tendo violado as regras da comunidade virtual da rede. Alegam ser vítimas de censura e citam a Constituição brasileira para assegurar o direito à liberdade de expressão, que, no caso, é o direito de manter perfis falsos e propagar desinformação.Mentira Na contramão do desejo do MBL de mentir e manipular sem incômodo, o Facebook vê-se pressionado pelo mercado a estancar mentiras e manipulações, sob o risco de continuar perdendo bilhões de dólares em ações, como vem ocorrendo desde o uso indevido de dados da rede pela campanha de Donald Trump. Mentiras e manipulações têm custado caro ao Facebook, portanto não é boa hora para as páginas propagadoras de desinformação reivindicarem liberdade a Zuckerberg para fazerem o que bem entendem abrigadas sob o guarda-chuva de sua empresa. E o próprio Facebook explicou que a derrubada das páginas do MBL não se deu por conta de fake news, como inicialmente se espalhou, mas por manipulação dos dados das contas e perfis: “os perfis envolvidos eram falsos ou enganadores, violando a prática de autenticidade”. 

Globo As páginas continuam derrubadas, o MBL continua esperneando pedindo socorro ao Estado para brigar com uma empresa privada e a esquerda finge que levita sobre as águas da ética nas redes e que só a direita propaga desinformação. E quando se trata da patológica intolerância do ativismo de esquerda contra a Rede Globo, até o MBL e suas mentiras chegam a ser defendidos pela esquerda, desde que eles ataquem o jornalismo global.

Em uma edição recente, o programa Profissão Repórter trouxe como tema as fake news. Ao entrevistar Luciano Ayan, dono da página Ceticismo Político, presente em 11 a cada 10 rankings de produtoras de fake news, um repórter do programa, desses meninos novinhos, é interrompido com o moço dando lição de moral, invertendo as coisas, argumentando o quanto a sua página é séria e que o mentiroso ali não é ele, mas o jornalismo da Globo. Cita um corolário de notícias veiculadas por diferentes plataformas Globo ao longo do tempo e embora não cite UM caso de fake news, jornalistas e militantes de esquerda compartilharam com prazer e aplausos o vídeo do sujeito, supostamente enquadrando a Globo e o jovem repórter. 

Desonestidade Quem compartilha o vídeo de Ayan, desancando a Globo e concordando com sua fala, está do lado de Ayan, é ignorante, é defensor de fake news - desde que elas atinjam aqueles de quem não gostamos -, ou é tudo isso junto? Que o jornalismo da Globo - e nenhum jornalismo feito por corporações ou pela chamada imprensa progressista - é santo, até os embriões abortados sabem que não. Mas entre os exemplos de fake news atribuídos por Ayan à Globo, nenhum ali é.

Ali tem barrigada (quando se noticia algo no ímpeto do furo e o fato não se comprova), informação mal apurada, casos de erros coletivos da imprensa inteira brasileira por acusações falsas de crianças aceitas pela polícia, pela justiça e noticiadas com o aval dessas duas instâncias (Escola Base) e uma série de outras coisas. Notícias propositalmente construídas por jornalistas da Globo para ferrar alguém, ali não há UMA. Concordar com aquela tese é, se não desinformação conceitual, má-fé para desancar veículos dos quais não gostamos por questões ideológicas. 

Malu Fontes é jornalista e professora de jornalismo da Facom/UFBA