Os profissionais da esperança

Por Rafael Sampaio

  • D
  • Da Redação

Publicado em 14 de agosto de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Em mais de 40 anos de atividade na área, raras vezes percebi tanta falta de esperança entre os profissionais do setor – que é a pior das atitudes para a publicidade

Sem esperança não há publicidade. Como qualquer atividade da área de humanas e arte, mesmo considerando que há sempre a contribuição de uma dose de ciência, a comunicação comercial depende muito da esperança de todos os envolvidos: o anunciante tem que acreditar nos resultados positivos de seus investimentos, os profissionais de agências e produtoras precisam estar imbuídos da certeza de que estarão orquestrando a solução mais eficaz e a área de meios tem que acreditar na possibilidade de seus veículos obterem elevados índices de audiência.

Quando falta crença e esperança nos bons resultados dessa equação virtuosa, tudo já começa de modo desanimado e com menor chance de dar certo.

A combinação da sofrida realidade da economia brasileira nos últimos anos com a situação conjuntural global de ampla revisão nas técnicas e nos recursos da atividade levaram a níveis recordes de desânimo, o que é péssimo para todos, uma vez que está mais do que comprovado pela história da economia moderna os efeitos positivamente catalizadores da publicidade.

Lembro que a única tese acadêmica de fôlego sobre o tema – feita por Maximilien Nayaradou para obter seu doutorado na Universidade de Paris – constatou de forma inequívoca que o aumento dos investimentos em publicidade faz tanto o mercado de consumo como o conjunto da atividade econômica, o PIB, crescerem de modo consistente.

Além disso, historicamente é registrado que em situações de aumento da disputa em uma categoria de mercado ou setor de negócios o resultado via de regra é positivo para o conjunto da categoria ou setor. Quando há um incremento da qualidade publicitaria, como nos Estados Unidos dos anos 1950/60 ou do Reino Unido nas décadas de 1980/90 o mesmo fenômeno de aumento de riquezas acontece. Da mesma forma a expansão de um meio publicitário leva a um incremento do volume e da rentabilidade da publicidade, do setor de anunciantes e até do conjunto do mercado de consumo – como se registrou com a revolução da televisão aberta no pós II Guerra, na explosão da TV a cabo nas últimas décadas do século XX e da revolução digital no começo deste milênio.

Não há dúvidas, portanto, da alta correlação entre crença e esperança no potencial da publicidade, nos resultados obtidos individualmente pelos anunciantes investidores e nos benefícios para o conjunto do mercado.

O primeiro empuxo e o maior nível de animação cabem naturalmente aos publicitários – de agências, veículos e até de anunciantes –, que além de serem os maiores especialistas na atividade são os primeiros beneficiários das riquezas geradas.

Tem sido péssima, portanto, a combinação da desconfiança sobre o potencial de resultados devido ao ambiente econômico desfavorável, às dúvidas sobre os meios e técnicas tradicionais e até ao desencanto registrado com a tecnologia e os meios digitais.

Essa falta de esperança e confiança contagia e leva um ciclo vicioso negativo, que só é quebrado quando o ânimo volta a dominar e dá início ao processo reversivo e ao ciclo virtuoso do alto astral.

Ter esperança, portanto, é praticamente uma obrigação dos profissionais de publicidade, bem como de marketing, sejam os que trabalham em agências, veículos e produtoras, seja até os que estão nos anunciantes.

Porque esse efeito positivo da crença nos efeitos da publicidade são benéficos para as empresas anunciantes e às marcas, ao conjunto do mercado e à própria economia. Efeito

contagiante, no bom sentido, que depende muito do start gerado pelos praticantes dessa atividade cuja principal função é justamente o estímulo à movimentação das engrenagens econômicas.