Painho Noel: em live, Caetano conta memórias de festas do Natal na Bahia; reveja

Cantor deu presente de Natal antecipado ao país e mais de 165 mil pessoas assistiram à apresentação simultaneamente

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  • Hilza Cordeiro

Publicado em 19 de dezembro de 2020 às 22:47

- Atualizado há um ano

. Crédito: Imagem: Reprodução/Youtube

Sentado num banquinho de madeira rodeado por um cenário minimalista, muito diferente de como costumam ser as espalhafatosas decorações natalinas, Caetano Veloso personificou o Painho Noel dos brasileiros em sua live de Natal promovida na noite deste sábado (19), em parceria com o também baiano Nizan Guanaes. O cantor abriu a apresentação entoando “Muito Romântico”, seguida de duas clássicas músicas natalinas, uma nacional e outra norte-americana, através das quais puxou memórias de como eram as celebrações desta época no Recôncavo.

Ao cantar “Boas Festas”, composta pelo santamarense Assis Valente, Painho contou que essa era a grande canção natalícia de sua infância e mostrou descontentamento com a forma como a tradição do Natal por aqui foi sendo americanizada após o contato das pessoas com os filmes hollywoodianos. “Essa músia de Assis Valente tem o clima do que era o Natal para mim quando eu era criança. Quando jovem, eu detestava o Natal porque começou aquela coisa de árvore, Papai Noel. O meu mundo eram presépios que tomavam a casa toda das pessoas, com manjedoura e em torno disso o mundo: bandas, liras, jogadores de futebol, fotos de revista que as pessoas cortavam, casas, água descendo, area de praia, folhas de pitanga, era o mundo”, lembrou ele.O baiano disse ainda que tinha cerca de 6 anos quando alguém lhe contou que Noel não existia e na juventude não gostava de como a mitologia em volta dessa figura não se parecia em nada com o que havia na Bahia. Ele se incomodava porque Noel vestia roupa de inverno, enquanto por aqui era verão, e ficava revoltado porque não havia pinheiros na região do Recôncavo. "Mas eu aprendi a gostar do Natal de novo, até de gorro de Papai Noel", aliviou.

Em seguida, ao cantar a música White Christmas, famosa na voz de Frank Sinatra, Caetano continuou a comentar sobre a cantiga de Assis Valente, que retrata a desigualdade nos trechos ‘Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel’ e ‘Meu Papai Noel não vem, com certeza já morreu’.

“Nos seus grupos, Brasil e EUA são os dois países mais desiguais do mundo. A canção de Assis diz claramente sobre a desigualdade. Se você contar para um americano que essa é a canção brasileira, é um troço impensável para um americano”, disse.  

Com mais de 165 mil pessoas assistindo simultaneamente só pelo Youtube, a live teve mais gente do que caberia no maior estádio do mundo, em Pyongyang, na Coreia do Norte. Nas redes sociais, fãs fizeram até um bingo para brincar de quem mais acertaria as músicas que Caetano cantaria. O artista atendeu ao pedido da garotinha baiana Lilica Rocha, de 6 anos, que pediu Tigresa. 

“Gente, eu me sinto tão feliz que Caetano me dedicou e ele só topou tocar Tigresa porque eu pedi. Eu me senti tão feliz, mesmo, que eu queria conhecer Caetano pessoalmente", comentou a menina. O cantor executou ainda Você Já Foi à Bahia?, Terra, Tempo, Muito, Reconvexo, Não Identificado, Sampa, Você Não Me Ensinou a Te Esquecer, Trem das Cores, entre outras, com participações dos seus filhos Tom, Zeca e Moreno. Caetano ainda entoou a inédita Alto Acalanto, música dedicada ao neto mais novo, Benjamim, de sete meses.

A música de abertura da live foi uma escolha para homenagear Roberto Carlos, o rei dos especiais de fim de ano. Caetano aproveitou para comentar sobre a beleza e talento de Simone, a majestade do Natal, detentora do disco brasileiro que até hoje é o mais famoso ao retratar essa data comemorativa cristã. "Vi uma foto da Simone outro dia e ela está lindíssima, mais linda do que quando a conheci adolescente, jogando basquete", brincou.

Feliz 2001!

Em um momento, Caetano se confundiu e, ao invés, de desejar Feliz 2021, disse Feliz 2001! O ano foi tão maluco que a frase atrapalhada até pareceu poesia, proposital, porque esse século merecia mesmo ser reiniciado. "Feliz Natal, Feliz 2001. Que possa ser feliz, que possa ser bem diferente de 2000. 2001 há de ser bem diferente em tudo", disse ele, acompanhado de risinhos confusos dos três filhos.

Ao fim, o publicitário Nizan Guanaes, que promoveu a live, conversou com o CORREIO. "Não tenho palavras, só lágrimas. Eu fiz isso para o Brasil chorar. O Brasil precisa chorar para seguir. Caetano é o Brasil que eu acredito. Estamos dançando e chorando, de alma lavada", disse.

A apresentação foi o grande assunto das redes sociais e conectou o país numa celebração antecipada de Natal. O cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho, diretor de Bacurau e Aquarius, disse: "Caetano é um artista que levanta o ânimo desse país tão avacalhado", escreveu.

O governador Rui Costa também assistiu à live e, pelo Twitter, publicou: "Gente é para brilhar. Que live de Natal maravilhosa. A Bahia e os baianos são mesmo incríveis. Muito orgulho!". Também pela rede social, Ciro Gomes escreveu: "Por isto eu não desisto do Brasil! Vai passar tudo de ruim que estamos sofrendo! Viva o povo brasileiro! Viva Caetano".

Até o fim da noite, o vídeo tinha sido assistido mais de 613 mil vezes pelo Youtube. A apresentação também foi transmitida na TV, pela Claro, em parceria com a N.Ideias, a nova empresa de Nizan.