Pais abrem mão de descontos ofertados por escolas na pandemia

Na escola da Casa da Infância, os pais cederam o desconto para manter os empregos e ajudarem a escola a dar um percentual maior para quem teve perda de renda

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  • Priscila Natividade

Publicado em 8 de maio de 2020 às 11:10

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação

Enquanto tem pais que questionam o percentual de abatimento das escolas existem outros que estão abrindo mão do desconto. Foi o caso da advogada Marcele Moreira, mãe de Ana Cecília, de 7 anos, que cursa o 2º ano do Ensino Fundamental na escola Casa da Infância, localizada no bairro da Pituba. 

“Por enquanto não tivemos nenhuma redução na renda familiar. Por ter consciência de que todos sofrerão os impactos oriundos da pandemia, decidimos apoiar a escola e tudo o que ela representa, não somente para nós, mas também para as demais famílias de todos os educadores envolvidos neste projeto”, afirma.

Marcele paga por mês R$ 2.711 pelo período integral e participa do Conselho escola-família-cidade formado dentro da cidade, que elaborou uma carta de apoio que defende a não-adesão ao desconto, a fim de garantir o emprego dos professores e a manutenção da estrutura no retorno pós-pandemia.

Também representante do conselho, o procurador Ailton Cardozo Júnior acrescenta ainda que foi acrescido 10% do valor pago na mensalidade para ajudar a manter um fundo de bolsas que as famílias criaram para auxiliar na mensalidade de outras famílias que tiveram reduções nas suas rendas. 

“Nossa família compreende que a escola é uma comunidade de aprendizagem e não uma prestadora de serviços e somos integrantes dessa comunidade e não meros consumidores. No nosso caso a escola agiu de forma muito transparente e abriu canais de diálogo em que pensamos juntos o que é justo e sustentável. Queremos que passada essa crise a escola ainda esteja lá”, afirma o pai de Lila, 9 anos, aluna do 4º ano.

A professora universitária e mãe  de Maiara, 9 anos, 4º ano do Ensino Fundamental e de Naila, 7 anos, 2º ano do fundamental também é mais uma a apoiar o movimento. “A situação que enfrentamos com a pandemia é grave e extrema, precisamos fortalecer as redes de solidariedade e escuta, acolher as pessoas, não excluir do convívio da Escola quem não tem condições de pagar. Essa foi uma decisão coletiva, queremos manter todas as crianças, famílias e educadores e ter uma Escola quando pudermos sair de casa novamente”, defende.

Segundo a diretora da instituição, Marília Dourado, o valor do desconto ofertado foi de 12%. A escola tem 135 alunos matriculados. “Fizemos os primeiros levantamentos de despesas que seriam reduzidas: água, energia, transporte de funcionários e alimentação. Dialogamos com as famílias e decidimos fazer uma pesquisa para compreender a radiografia econômica e financeira da realidade da escola e com isso, buscamos coletivamente alternativas para a preservação de famílias e educadores e da sustentabilidade da escola”. 

A escola não demitiu e não pretende demitir nenhuma educador, mantendo ainda prestadores de serviço e estagiários, como acrescenta a gestora. “Algumas famílias cancelaram o contrato e isso já impactou no orçamento. E outras famílias precisavam de um desconto maior do que o possível de ser oferecido pela escola. Então algumas famílias decidiram pagar integralmente e conseguimos oferecer um percentual de 30% para as que necessitavam, um ajuste maior. Assim, as famílias que mantiveram suas rendas e que não solicitaram descontos contribuíram para que outras pudessem receber esse benefício com menos impacto para a escola”. 

Abatimento dispensado Um movimento parecido está começando também na Escola Kurumi, na Federação. De acordo com a psicóloga Letícia Reis, que tem dois filhos matriculados lá e paga R$ 2,2 mil de mensalidade, alguns pais já começaram a mobilizar a proposta de declínio nos grupos, a fim de ajudar a conter os efeitos das suspensões de matrícula. 

“Tenho conversado com outros pais da escola sobre a possibilidade daqueles que não precisam do abatimento abrirem mão do desconto. O objetivo é que no retorno a gente encontre a escola que escolhemos para nossos filhos”. 

Ela afirma ainda que compreende que tem pais que precisam dos descontos, que na Kurumi foi de 20%. “Eu fico pensando que quando a vida era outra antes da pandemia e lembro de todos esses profissionais da escola com carinho. É preciso ter empatia e solidariedade com todos”, completa.

Na Pan American School of Bahia (PASB), localizada em Patamares, os descontos de 15% e 30% foram doados para associação de pais da instituição. "Até o momento, cinco famílias já abriram mão dos descontos de maio e junho, preferindo doar o valor para ser reinvestido na educação de seus filhos”, conta a a diretora financeira da PASB, Marina Skelton.

A Diretora de Desenvolvimento da PASB, Graziela Arakawa, enxerga a atitude como o retorno que a escola consegue alcançar ao efetivar  uma relação de proximidade na comunicação com as famílias. “Por sermos uma associação de pais, mesmo distantes fisicamente, estamos muito ligados aos familiares de nossos alunos e é este espírito de comunidade que queremos fortalecer”.