Pandemia e saúde mental

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  • Da Redação

Publicado em 16 de setembro de 2021 às 05:47

- Atualizado há um ano

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A experiência de conviver confinado foi custosa em termos psíquicos, superando a vivência da solidão. A literatura científica afirma que aumentaram o uso de medicamentos psicotrópicos e outros artefatos que apoiam as dores de existir. Dispararam os quadros de ansiedade, depressão, suicídio, estresse, burnout. Todos, de alguma forma, estavam doentes, ou melhor, sofrentes. E o pior, por muito tempo. 

Ninguém esperava que a pandemia demorasse tanto. A ideia narcísica de superioridade da humanidade em relação às outras espécies não concebia poder a um invisível e insignificante ser vivo, tanto que não param de especular sobre a possível interferência do ser humano na existência de um ser tão poderoso. 

Vivemos nas últimas décadas imersos numa lógica social ancorada no consumo, perspectiva que alterou nossos modos de viver e sofrer. Fomos modelando um modo de viver que desconsiderou o tempo como algo precioso para o funcionamento do coletivo, que desconsiderou a interação com as desigualdades e a importância do saber sobre como as pessoas vivem suas angústias, seus medos e limites. 

O conviver confinado também nos colocou frente à importância de conviver comunitariamente, uma ideia de perspectiva multidimensional. No sentido sociológico, uma comunidade se organiza como um grupo de pessoas que têm coisas comuns, uma genética, uma história, um propósito ou se aglomeram em um território físico ou virtual. A dimensão ecológica, por sua vez, trata a comunidade como espaço onde todos os seres vivos interagem entre si. Interagir foi um aspecto fundamental ao exercício de conviver confinado, considerando que nos últimos tempos a interação entre as pessoas tem sido marcada por uma maneira rápida de fazer e preferencialmente sem muita intimidade. 

Possibilitou uma vivência em modo comunidade que exigiu a afirmação de pactos civilizatórios historicamente constituídos: ninguém pode tudo, não é só o que quero que está em jogo. Foi necessário sustentar diálogos, aceitar tensionamentos, disputas, contradições, num território marcado pelas intenções de sentido coletivo, implicando regras e perspectivas de deslocamento. 

O tempo, a intimidade, a civilidade foram os maiores desafios no processo de conviver durante a pandemia. Ela fez sofrer e a humanidade não mudou, mas alguns puderam ressignificar os sentidos de estar junto, aprenderam sobre o sentido do coletivo. Estão na praia, na manifestação com máscara. Estão indignados com o aumento da pobreza, da angustiante vida na rua. Muitas pessoas foram transformadas com a ideia de que o outro importa, pois estamos juntos numa comunidade. 

Mônica Daltro é psicóloga, psicanalista e coordenadora do Programa de Mestrado em Psicologia e Intervenções em Saúde da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública.