Pane em sistema de ventilação do Hospital das Clínicas deixa pacientes no calor

Crianças tomam até cinco banhos por dia e são abanadas com tampas de quentinha

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  • Carolina Cerqueira

Publicado em 26 de abril de 2022 às 12:54

- Atualizado há um ano

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Ar-condicionado quebrado, ausência de ventilador e janelas lacradas. Essa é a situação há cerca de um mês do Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hupes), o Hospital das Clínicas, no Canela, em Salvador. Na Unidade de Pediatria, as mães abanam as crianças com tampas de quentinha na tentativa de aliviar o calor.

Hansa Rocha, de 42 anos, acompanha o filho, de 3 anos, que está internado no hospital há cerca de 1 mês. Segundo ela, desde que chegou, o sistema de ar-condicionado do local está quebrado. “A gente pega a tampa da marmita que vem para o acompanhante, guarda e limpa para abanar as crianças. É o que dá para fazer para tornar a situação menos insuportável”, conta.

Hansa conta que o filho chegou ao hospital com desnutrição, mas o quadro piorou devido à falta de circulação de ar e a criança acabou pegando uma pneumonia bacteriana hospitalar. “Quando meu filho se internou, tinha uma criança espirrando, tossindo e com febre. Dias depois, as duas crianças que estavam nos leitos da frente e o meu filho começaram a apresentar os mesmos sintomas. Meu filho já estava numa situação complicada e esses novos sintomas agravaram o quadro. Aí ele evoluiu para uma pneumonia bacteriana hospitalar”, diz.    “Ele veio para ganhar peso e não consegue porque fica tendo essas infecções. Eu trouxe uma criança ativa, andando e agora meu filho fica sempre com febre e já chegou a ter até convulsão”, desabafa a mãe. 

Ela denuncia ainda que o quarto de isolamento da Unidade de Pediatria, que seria reservado para crianças com doenças infectocontagiosas, fica com as portas abertas. “Meu filho agora está na enfermaria, que fica em frente a esse quarto de isolamento, mas as portas ficam abertas porque ninguém consegue ficar lá dentro com tudo fechado”. 

Joyce Freitas, de 24 anos, também é acompanhante de uma das crianças. Sua filha, de 1 ano, chegou ao Hospital das Clínicas há uma semana com Mastoidite Aguda Bilateral. Ela descreve o calor como insuportável e diz que a sensação é de confinamento. “Não tem ar-condicionado, não pode ventilador, as janelas todas fechadas. Chega a dar fobia. Se uma pessoa que tem problema com isso chegar aqui, passa mal porque a sensação é de que a gente está preso abafado, respirando ar quente o tempo todo”, diz.Segundo Joyce, as mães já tentaram levar ventiladores portáteis de casa, mas não foi permitido pelos funcionários do Hospital, que informou que a proibição é norma da ABNT (ver abaixo). 

“Os próprios funcionários pedem para a gente reclamar na Ouvidoria porque eles mesmos já abriram reclamação. Eles dizem que não aguentam mais, chegam aqui nos quartos pingando de suor para examinar as crianças, é um absurdo”, conta. Joyce diz que, além das tampas de quentinha, adotou outras estratégias para amenizar o calor.“Minha filha fica sem roupa o tempo todo e eu dou cerca de quatro a cinco banhos nela por dia. As crianças ficam muito agitadas e não dormem direito”, finaliza. Procurado, o Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hupes), da Universidade Federal da Bahia e vinculado à Rede Ebserh (UFBA-Ebserh), informou que o sistema de climatização da Unidade Pediátrica encontra-se em fase de manutenção e que a empresa responsável já foi acionada para realizar sua inspeção. A assessoria também disse que o uso de ventiladores em ambiente hospitalar é proibido pela norma ABNT NBR 7256. O Hospital não respondeu se o problema está restrito à Pediatria ou se afeta todas as unidades.