Para o amor, no Recife

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  • Kátia Borges

Publicado em 27 de junho de 2021 às 18:24

- Atualizado há um ano

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Quando a tristeza aperreia, fecho meus olhos um pouco. Fico uns minutos quieta até que enxergo no escuro, o mundo, o tempo das coisas. Há praças tão largas nesse onde que abrigo dentro de mim, vento forte que dispara folhas amarelas na cara do cinza, e é sempre setembro ou outubro, nunca se chega a dezembro. E, em cada espelho, perscruto uma indefinida ternura pairando sobre o futuro.

Tudo é questão de escolha, penso, lembrando a menina que fazia desenhos a lápis. Um pássaro, uma árvore, uma pessoa. E as viagens que  guarda no peito, o último verão sem o vírus, da Bahia até Pernambuco. Tão bom viver sem reservas. Aquela noite em que chegamos tarde, todos os hotéis estavam lotados. Saltando de cama em cama, em busca dum porto seguro. Uns dias, uns versos, quem sabe.

Estrada que se abre, tão clara em dias assim de verão. Rimas internas sem medo. Céu de brigadeiro nos ares, azul infinito nos mares. Promessa de diversão, sem pretensão de milagres. Após aquela tristeza, fugimos pra Buenos Aires.  Sempre que a tristeza aperta... Ah, tudo será bem assim, uns dias de férias ao sol, dispersos velhos compromissos, a felicidade no anzol, em versos, sabores e cheiros.

O sotaque das moças, as moças, as batas, o barro moldado, nas feiras, as flores nos vasos, turistas em busca do comum. Os pontos que os guias indicam. Um voo tranquilo, a chegada alegre ao aeroporto. E então a sensação de se perder por entre as ruas modernas e o porto. A parada no Marco Zero, correndo o Paço da Alfândega, as águas do estuário, a coluna de cristal em flor. Burle Max, Brennand.

E o Capibaribe beirando, desejos da vida toda. Uns dias de repouso do medo, e a morte rondando o mundo. Sair correndo as praias e, na pequena cidadela, subir ao Alto da Sé. Os cantadores da Sé improvisando seus versos. “A moça bonita que chega, a moça bonita que parte, deixará algum dinheiro pra pagar por nossa arte”.  Sempre que a tristeza aperreia, eu fecho meus olhos um pouco. Fico uns minutos quieta até que enxergo no escuro, o mundo, o tempo das coisas. E mentalizo com força que voltarei a Recife e que, algum dia, iremos reinventar o país.