'Para o Brasil o voto feminino é um dos maiores males'

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  • Nelson Cadena

Publicado em 21 de julho de 2022 às 05:00

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A sentença é de um dos maiores intelectuais baianos de todos os tempos, o ilustre etnólogo, Edison de Souza Carneiro, incontestável autoridade nos estudos da cultura afro-brasileira em nosso país. Carneiro cerrou fileiras contra o voto feminino quando a comissão encarregada de reformar a Lei Eleitoral no Congresso avançou na proposta que resultaria na promulgação do voto feminino em 1932, efetivado a partir das eleições de 1933. Uma conquista após mais de duas décadas de luta dos movimentos feministas, em prol da causa.

Edison Carneiro era um dos colaboradores da revista E.T.C, fundada por Júlio de Carvalho em 1927, e que contava nos seus quadros com alguns dos maiores expoentes da afamada Academia dos Rebeldes: Jorge Amado, Pinheiro Viegas, Sosígenes Costa, Clovis Amorim, Alves Ribeiro, Gomes da Costa, João Cordeiro, Amilton Castro, De Britto Lopes, Edison Carneiro, dentre outros. O cientista Edgard Roquette Pinto, pioneiro do rádio no Brasil, também era colaborador da revista.

O intelectual baiano, em editorial de primeira página, manifestou a sua contrariedade e ceticismo com o avanço da proposta na casa parlamentar: “O grupelho feminista do Brasil deve estar contentíssimo. A comissão encarregada de reformar a Lei Eleitoral achou de conceder à mulher, embora sob certas condições, os direitos políticos porque elas tanto se bateram e tanto se esganaram”. 

E debochava: “Era fatal. Os homens públicos da República Nova, animados de ideias, democráticas, pensaram com o cidadão Brederodes__ referia-se a um famoso palhaço português__ que se deveria dar a César o que era de César, mas esqueceram de avisar a César o momento preciso para abrir a mão. E aconteceu o inevitável. A mulher brasileira, ainda não preparada para o voto, e para as grandes questões nacionais __ a social, a econômica, a financeira, a administrativa__ continuou na mesma pasmaceira intelectual de sempre, somente com um pouco mais de farofa e de orgulho”.  

Carneiro duvidava da consolidação desse processo: “O eleitorado feminino será mesmo, em algum tempo, uma força? Ai está uma coisa em que ninguém acredita. Porque, quantas mulheres, dentro do Brasil, estarão em condições de votar, livremente. Neste, ou naquele candidato com justiça, com isenção de ânimo. Para o Brasil o voto feminino é atualmente um dos maiores males. Pior do que o amarelão, a gripe, a febre amarela, o déficit, a crise... Agora, para os humoristas nada melhor, porque terão sempre assunto”.

E prossegue: “É essa horda de inconscientes e de irresponsáveis irá. aos poucos, asfixiando o poder masculino que, se não presta para nada, pelo menos sempre é melhor do que o outro,  o delas, viragos valentonas e assexuais, que agora, em virtude da nova Lei Eleitoral, se sentem maiores do que o próprio Brasil, grandes, tão grandes, que não compreendem porque nós outros, os que não somos a massa cretina a adorar o bezerro de ouro, não lhes tiramos o chapéu, quando passam na rua a salvar o Brasil com o bamboleio das ancas sexuais”.

Carneiro duvidava da capacidade das mulheres em tomar as suas próprias decisões: “Elas só poderiam influir para o progresso do Brasil com o auxílio de sua beleza e de sua graça, junto aos homens públicos. Falta-lhes, para agirem por si mesmas, o controle da personalidade, e mais do que tudo a independência moral e intelectual, coisas que só se obtém com o trato diário dos livros, na formação da cultura, e dos homens (e das mulheres no caso), na formação da personalidade”. 

Nelson Cadena é publicitário e jornalista, escreve às quintas-feiras