Para reter talentos, empresas têm de flexibilizar jornada

Pesquisa da seguradora Met Life mostra que qualidade de vida é cada vez mais valorizada pelos trabalhadores

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  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 8 de julho de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução/shutterstock

Equilíbrio entre vida profissional e pessoal. Segurança financeira. Qualidade de vida. De acordo com um estudo realizado pela seguradora Met Life, esses são os três principais aspectos para reter talentos dentro das organizações, incluindo pequenas e micro empresas. 

Cerca de 30% dos entrevistados consideram ter a possibilidade de flexibilizar as suas condições de trabalho como algo fundamental. Essa possibilidade de flexibilização passa por poder personalizar seu pacote de benefícios (61%), mudar seu horário de trabalho (58%) e poder trabalhar de casa (58%). No entanto, 35% dos funcionários entrevistados disseram não perceber preocupação com essa questão por parte dos contratantes. 

Outro aspecto que também influencia na produtividade e na retenção dos funcionários é a insegurança financeira. O estudo da seguradora indica que 37% dos entrevistados concordam que passam mais tempo pensando sobre as finanças pessoais durante o trabalho do que deveriam. 

Reflexo dos aspectos anteriores, a preocupação com a dupla estresse e depressão figura como uma das cinco preocupações mais presentes quando o assunto é risco à saúde. Tanto para empregadores quanto funcionários.

 Valores humanos De acordo com o com o presidente da secção Bahia da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-BA), Wladimir Martins, a falta de mão de obra qualificada, capaz de reunir as qualidades comportamentais e técnicas, torna a retenção uma questão estratégica para as organizações de um modo em geral.  “É preciso que as organizações passem a encarar as pessoas como seu bem maior, afinal, são elas que movem e promovem o crescimento de qualquer organização”, diz. 

Para ele, ainda existe uma cultura de atuar apenas sobre as disparidades, os gaps, esquecendo de se investir nas potencialidades. “Quanto mais esses talentos são trabalhados, mais atrativos eles se tornam”, completa. O representante da ABRH ressalta que a cultura organizacional é extremamente importante na decisão de permanência dos colaboradores. “O ambiente de trabalho que traz felicidade retém talentos. Por isso mesmo é preciso que os líderes comecem a se atentar para o fato de que aspectos pessoais precisam ser considerados e vão para dentro do trabalho, logo, vale criar uma proximidade e empatia com essas questões”. 

No quesito segurança financeira, Martins salienta que o salário pode ser até um atrativo inicial, especialmente em períodos de crise econômica, mas que apostar apenas no retorno financeiro pode não ser uma boa estratégia. “Pode ser um bom atrativo, mas apenas salário pode ser uma questão momentânea. Depois o profissional repensa sua vida e essa questão vira secundária”, completa. 

A própria Met Life sugere que seria interessante que as próprias organizações busquem verificar o nível de conscientização sobre a importância da educação financeira, além de oferecer ferramentas orçamentárias e de planejamento. Dentro dessa perspectiva de participar mais da vida pessoal do colaborador, a sugestão é que os contratantes forneçam programas para incentivar a economia doméstica, salientando a preocupação com a capacidade de planejar e realizar sonhos.

 RHs Protagonistas Com a mudança no perfil dos trabalhadores, principalmente dos mais jovens, os especialistas chamam atenção de que os departamentos de recursos humanos também precisam se atualizar. Afinal, hoje, não há mais a preocupação em “construir carreira” dentro de um único lugar e, por isso mesmo, a precupação precisa ser maior que cuidar da estrutura ou das máquinas.

Psicoterapeuta, coach de carreiras e professor universitário, Victoriano Garrido, chama atenção que para que as empresas, de fato, possam inspirar a permanência dos seus colaboradores é necessário que os departamentos de recursos humanos consigam ir além das tarefas burocráticas, como folhas de pagamento e coisas do tipo. “Eles precisam vencer uma cultura de reatividade e partir para a proatividade, atuando como protagonistas dentro das empresas, atuando com inventividade e deixando o geral para se concentrar no particular”. 

Para ele, enquanto essa mudança não ocorrer, empresas de todos os tamanhos continuarão perdendo talentos ou mantendo uma permanência que pode ser mais danosa que positiva, pois não contempla a oxigenação das funções.  “O trabalho precisa ser visto como um aspecto de autorrealização e concretização de propósitos. Não dá para continuar achando que o happy hour ou a hora feliz está justamente depois que o trabalho termina”, diz. 

Consciente que essa é uma questão delicada e estratégica, Wladimir Martins defende que os RHs, de fato, passem a conhecer com profundidade os negócios onde atuam e comecem a se posicionar como protagonistas, sobretudo, na identificação das pessoas certas para cada função. Eurico Neto mantém há sete anos uma micro empresa de eventos e entende a importância de incentivar os colaboradores como uma forma de reter o apoio (foto: Arquivo Pessoal) Eurico Neto - RelatoResiliência O micro empresário do ramo de eventos Eurico Neto foi um desses talentos que preferiu não perder tempo em atuações que não trouxessem retorno financeiro e nem satisfação pessoal. Residente em Amélia Rodrigues, chegou em Salvador e precisou se virar para se manter na capital. "Passei um ano e meio trabalhando num call center e depois consegui me inserir no ramo de eventos, que fazia como uma forma de garantir uma renda extra, capaz de ajudar a pagar as contas", conta. 

Ele lembra que, na época, o valor das diárias começou a ficar insuficiente para manter os estudos e a em Salvador. "Me dei conta que já estava na hora de ousar mais e começar a fazer algo que não se resumisse à sobrevivência. Gostava de atuar com os eventos, conhecia aquele universo, me dedicava e tinha o reconhecimento dos clientes por isso e eles mesmos me incentivaram a partir em voo solo. Foi o que fiz!".

Hoje, a Ricco Neto Cerimonial possui uma trajetória de sete anos, Eurico conseguiu concluir a graduação em Publicidade e Propaganda como uma forma de obter formação e ao mesmo tempo agregar valor ao seu trabalho e oferta de serviços. Como alguém que já esteve no papel de funcionário, ele reconhece a importância de um ambiente laborativo motivador e humanizado. 

"Quando trabalhava para os outros, me lembro de quanto me dedicava e me esforçava. Sou uma prova viva de quanto as capacidades e talentos pessoais são fundamentais no processo de crescimento de uma empresa. Acho que o ambiente de trabalho precisa dar esse retorno e essa satisfação, do contrário, é possível que esteja perdendo uma engrenagem importante do sucesso", completa. O micro empresário diz que mesmo com a crise, que reduz rendimentos, entende que é preciso ter justiça na contratação salarial e humanidade nas relações cotidianas.  

Para reter as capacidades

Liderança O exemplo de profissionalismo deve vir do próprio empresário. Seja o melhor chefe e terá o melhor funcionário.

Inspiração  Torne-se figura de referência para quem traba- lha na sua empresa, servindo como inspiração para a busca pelo crescimento e evolução profissional.

Satisfação  Crie condições que permitam ao funcionário ter prazer no dia a dia de suas atividades profissionais e que ele não trabalhe apenas pelo salárioTrocas Ouça o funcionário e encoraje-o a expor suas ideias e considere o que é ditoCooperação  Incentive os funcionário da empresa a traba- lharem juntos e não competindo entre si.Ambiente Crie ambiente confortável, tenha um espaço de descanso e invista em uma decoração agradávelFormação  Ofereça cursos e novas oportunidades de aprendizado para sua equipeReconhecimento  Elogie, não seja o tipo de chefe que se apega aos erros. Exalte os  acertos das pessoas que trabalham para você.Motivação Desafie e dê novas oportunidades de trabalho.Respeito  Faça com que o funcionário sinta que tem liberdade para executar seu trabalho.Investimento Gastar com pessoas não representa mais despesas e, sim, um investimento que será reproduzido no desempenho do quadro de funcionários.

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