Para ter direito a crer, é preciso verificar evidências e indícios

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  • Paulo Leandro

Publicado em 22 de julho de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Todos precisamos confirmar evidências suficientes antes de formar nossas crenças, pois os sistemas epistêmico e moral devem estar bem coladinhos um com o outro. Para termos o direito de crer em algo dito existente ou real, os indícios têm de nutrir-se de confiabilidade e testemunho.

As fontes de informação confiáveis revestem-se de lídima autoridade, mas interesses em sigilo podem atuar: o caráter visível, aparente, fenomenológico, envernizado em bondade e generosidade, nem sempre garante o acerto de uma crença. Então, confiar na sorte torna-se a opção: mesmo sem direito a acreditar, ao final tudo, tudo, tudo, vai dar pé (Gil)...

Aqui, você pode curtir Gil cantando Não chores mais em 1979:

https://www.youtube.com/watch?v=80G7jbLNc9c

Parece ser polêmico o caso da volta do futebol, para alguns prematura, devido à devastadora pandemia, cuja subtração de vidas deveria tomar um contorno de brutal, em vez de banal, ao produzir diária despopulação. Já teve Fla-Flu decisivo e há competições de volta, tudo com ar de okay, e daí, não somos coveiros, não é mesmo?

Os baixos decibéis dos representantes dos jogadores e a aquiescência dos profissionais representam, com alto grau de fidedignidade – portanto, realidade –, o ethos (jeito de ser) de uma determinada subumanidade, confiante na vacina para seguir liderando o planeta Terra.

Se foi deus, Jah, Olorum, ou alguma entidade mágica quem deu o mimo, agora é o menos importante, pois torna-se cristalina a dificuldade de crer em alguma inclinação para sermos compassivos; ao contrário, a tese vencedora, tudo indica, é a do interesse.

Temos interesse em fazer rodar o moinho da economia, com argumentos, para alguns falaciosos (do particular para o geral), dando conta da necessidade de manter empregos: aos dominantes deve mesmo ser assustador ter de suar para sustentar-se e conseguir renda.

A volta do futebol, cimentada na repetição das ideias mal-explicadas de "novo normal" e "protocolo", reativa, na genealogia (ou arqueologia) a alegria do coliseu, a luta de gladiadores, os leões contra os bichos capturados nas guerras contra povos subjugados: e a plateia toda vibra, viva a filha da chiquita, iê, iê, iê!

Aqui você pode curtir Caetano cantando Chiquita Bacana

https://www.youtube.com/watch?v=YdtG58zVVqU

Em tantos séculos, tivemos tempo demais para desenvolver mentalidade distinta de um animal não-humano, mas verifica-se uma regressão ou a manutenção do padrão romano, quando neste momento mandamos a campo jogadores (pessoas. gente) desafiando com bravura a covid-19.

Alia-se à desmesurada coragem o perigo de a própria pandemia voltar-se contra os mascarados, os ditos racionais superiores da arena, bem protegidos – que não seriam bestas – por não tomar contato direto com os jogos, pois os assistem no youtube.

Vale verificar se temos direito mesmo à crença de produzir a volta do futebol, pois o coronavírus poderia driblar protocolos até alcançar as famílias e os entes queridos destes mesmos espertos senhores dos jogos, junto aos noticiaristas inocente-maliciosos.

A bola do dever de conferir evidências está nos pés da geração do computador, redes sociais, games mortais, objetos sem valor moral: a finitude e o obituário tornam-se detalhes quando falta repertório. Epistemologia e ética, não soltem as mãos!

O ser-no-mundo (viva Heidegger!) e O ser e o nada (viva Sartre!): o reino animal não-humano mostra desenvolvimento afetivo muito mais intenso no convívio em relação à suposta racionalidade de fariseus hipócritas e incapazes de enfrentar um Jesus irado como o de Pasolini.

Aqui, você pode assistir, uma vez mais, O Evangelho, segundo São Mateus:

https://www.youtube.com/watch?v=SSbgwaoq1Yw&t=10s  

Enquanto um grupo, mais cético e desconfiado, grita “Parem os jogos, Jah!”, um outro, por ora, prevalecente, faz sua fezinha na loteria da conservação da espécie, ao realizar competições, apostando na vida e na economia do futebol, em difícil conciliação.

Não vale mentir! Vamos verificar se há premiados entre jogadores e consumidores neste sorteio macabro onde a morte é falsamente lamentada nas propriedades, enquanto homens vestidos em roupas especiais ficam em alerta para recolher quem sente-se mal por falta de ar e de amor, este sentimento sem vez na mecânica de mercado.

Escuta só, já está a caminho: https://www.youtube.com/watch?v=1n8H8KvBLs0

Paulo Leandro é jornalista e professor doutor em Cultura e Sociedade.