Parada LGBT+ tem casório em trio elétrico e lembra história de preconceitos

50 depois da primeira parada do mundo, evento em São Paulo reúnes três milhões de pessoas

  • Foto do(a) author(a) Fernanda Santana
  • Fernanda Santana

Publicado em 23 de junho de 2019 às 21:10

- Atualizado há um ano

. Crédito: Daniel Teixeira/Estadão Conteúdo

Quatro casais tiveram, neste domingo (23), talvez o casamento mais disputado da história. Disseram “Sim” de frente para três milhões de pessoas, em cima de um trio, na 23ª edição da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo. O tema da edição deste ano foram os 50 anos da Revolta de Stonewall. A intenção foi relembrar o dia 28 de junho de 1969, quando milhares de manifestantes foram às ruas de Nova York, depois de uma ação policial a um bar, pedir respeito. A manifestação ocorrida há quase exatos 50 anos daria origem às paradas LGBTQIA+ pelo mundo. Todos lembraram a história para que ela não volte a se repetir.

Os papéis dos casórios foram assinados pouco antes do início do evento, às 12h, num cartório itinerante montado em plena Avenida Paulista. O casal Claudio Ferreira e Davysson Jordan, há um ano e oito meses juntos, planejavam dizer sim apenas em 2020. Mas, qual seria a forma mais especial de oficializar a união, senão aquela? 

Então, depois de verem a ação do casamento coletivo divulgada nas redes sociais, decidiram tentar. A ação foi desenvolvida por duas startups, a Popspaces e The Next H."Foi uma experiência incrível, superou todas as nossas expectativas poder desmonstrar noisso amor na frente de tantas pessoas e ter essa festa tão maravilhosa, e tanta gente apoiando, tanta gente unida pela mesma cuasa", contou Claudio, ao CORREIO, por telefone. Claudio e Davysson se casaram durante a Parada (divulgação) A ideia de casar num evento que levanta a bandeira da diversidade também levou Gabriel Utiyana, 31, e Filipe Rezende, 26, de volta à Parada. Depois de seis anos sem comparecer, voltaram vestidos de noivos. No início da cerimônia, e na abertura do evento, relembraram os preconceitos e as conquistas."É justamente isso [direitos] que a gente veio adquirir hoje. Direitos de casamento, direito do casal, direito de saber que estamos assegurados perante a lei", afirmou o publicitário Gabriel à reportagem.O quarteto de casais desfilou no primeiro trio do evento, o Família. Ao todo, foram 19 trios elétricos e três milhões de pessoas na Avenida Paulista unidas para protestar contra o preconceito, mas celebrar as conquistas de direitos até aqui.  É a primeira parada LGBTQIA+ depois de a homofobia ter sido tipificada como crime pelo Supremo Tribunal Federal, no dia 24 de junho. O pedido havia chegado à Corte em 2012.

Os trios foram puxados por artistas como a ex-spice Girl Mel C, Iza, Karol Conká, Alinne Rosa e Luisa Sonza. E também houve espaço para festa de casamento."Estou muito feliz de estar de volta a São Paulo, um lugar que sempre foi generoso comigo", disse Mel C", antes de cantar de "Wannabe", um dos clássico das Spice Girls A festa também foi acompanhada pela madrinha do evento, a apresentadora Fernanda Lima, e a apresentadora oficial da Parada, a Drag Queen Tchaka. "Muitas coisas mudaram desde aquela época, mas a luta contra o preconceito continua e nós vamos não vamos parar, até que a mudança de fato aconteça", escreveu Fernanda no Instagram. A atriz Bruna Linzmeyer, no ar na novela A Dona do Pedaço, e o ator transexual Thammy Miranda também participaram do evento. A ex-Spice Girl Mel C (Carla Carniel/Estadão Conteúdo) O que foi a Revolta de Stonewall

Quando a homossexualidade ainda era considerada crime em muitos países e era comum a internação de gays, a Revolta de Stonewall representou uma total inversão. Era mais uma ação policial contra a comunidade LGBTQIA+. A polícia estava em busca de bares gays que vendiam bebidas alcóolicas sem autorização, já que estabelecimentos do tipo eram terminantemente proibidos. 

Foi no bar Stonewall, no bairro de Manhatann, em Nova York, que tudo começou. O espaço era bastante frequentado pelos LGBTQIA+ e um dos poucos na cidade a receber o público.  Na noite de 28 de junho, a polícia entrou no bar em busca de venda ilegais de bebidas. O bar, afinal, não tinha licença para a comercialização, já que atuava na marginalidade. Os clientes e funcionários, no entanto, resistiram. 

O grupo tomou as ruas logo depois da repressão policial. A partir dali, não havia volta. O confronto entre polícia e manifestantes duraria seis dias a partir dali. A punição para quem mantivesse relações homossexuais, àquela época, incluía desde pena em regime fechado a trabalhos forçados. Foi a primeira vez que a comunidade LGBTQIA+ realizava um protesto daquela magnitude. 

Depois daquele ano, passaram a acontecer, sempre nos meses de junho, as paradas LGBTQI+ ao redor do mundo. Não por acaso, o dia 28 é considerado o Dia do Orgulho LGBTQIA+. A primeira Parada aconteceu, no Brasil, em São Paulo, no ano de 1997.