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Da Redação
Publicado em 29 de maio de 2020 às 05:30
- Atualizado há 2 anos
O estudante Caio Carvalho, 25 anos, saiu de Cachoeira para cumprir o isolamento social com os pais em Pernambués. Para a surpresa do jovem, o bairro mantém o movimento normal, apesar do novo coronavírus. “Vim para cá em abril e parece que aqui não tem quarentena”, resumiu. Por esse motivo, Caio apoia as medidas mais restritivas de combate à doença, impostas pela Prefeitura de Salvador, que começam a valer na região a partir de amanhã.>
Os números ajudam a entender o motivo de Pernambués ter novas regras, inicialmente, de amanhã até a próxima sexta-feira. Os casos do novo coronavírus no bairro, por exemplo, somaram 53 apenas nos últimos sete dias. Se contar todo o mês de maio, foram 85 infectados. >
O CORREIO esteve ontem em Pernambués. O movimento foi intenso, apesar de que, quem estava nas ruas, geralmente, usava máscara. Alguns, porém, descumpriam as orientações, insistindo em ficar aglomerados e sem o item de proteção. >
A psicóloga Glenda Ferreira, 24, acredita que só por causa da obrigatoriedade do uso de máscaras nos estabelecimentos comerciais que os seus vizinhos utilizam o item. “Aqui as pessoas não se preocupam. Desde a chegada da doença em Salvador, é o mesmo movimento de sempre. A maioria está com máscara porque só pode entrar no lugares com a proteção”, contou. A jovem tem esperança de que as restrições mais duras no local consigam mudar o cenário de contágio da doença. Pessoas caminham sem máscara pelas ruas de Pernambués (Nara Gentil/CORREIO) Dono de uma barraca de farinha na Praça Arthur Lago, na Rua Thomaz Gonzaga, Luiz Carlos Araújo, 50, afirmou estar pagando o preço pelo o desrespeito dos outros ao isolamento. De acordo com ele, parte da população de Pernambués vive uma vida normal, apesar do coronavírus. “Aqui, tem gente bebendo. O movimento até reduziu um pouco no começo da pandemia, mas depois o povo desobedeceu totalmente. No final de semana, ouvi até queima de fogos por causa do São João antecipado”.>
Dentre os desobedientes estão alguns colegas de trabalho na praça, que Luiz Carlos tem que advertir recorrentemente sobre o uso da máscara. O ambulante acredita que vai passar dificuldades apenas com a cesta básica que deve receber da prefeitura, mesmo assim, vai acatar a decisão. “Minha barraca não oferece perigo nenhum, mas os mercados estão cheios. Fui notificado, não concordo com a decisão, mas tenho que obedecer”, comentou.>
Os vendedores ambulantes se preocupam com as perdas que o fechamento do comércio vai causar. Na barraca de frutas de Paulo André, 38, tudo está em desconto e o comerciante espera vender todos os produtos até o fim da tarde de hoje. “Eu estou perdendo dinheiro, comprei o abacaxi por R$ 1,50 e agora tenho que vender por R$ 1. É melhor fazer isso para adiantar as vendas do que deixar tudo estragar”.>
Apesar de ter contas para pagar, Paulo reconhece que as restrições são necessárias pelo grande movimento de pessoas nas ruas. “A tendência era os casos de infectados aumentarem. Durante a quarentena, eu tenho visto que o movimento nas ruas do bairro dobrou pelas manhãs. Só a tarde que tem uma redução”, revelou, relacionando o fluxo de pessoas com a necessidade de muitos moradores precisarem fazer várias compras na semana por não poderem gastar muito de vez em uma grande compra.>
Assim como Paulo, Anderson Almeida, 33, dono do hortifruti Almeida, deve baixar os preços para vender toda a mercadoria até sexta. Ele afirmou que a população local tem desrespeitado o isolamento, o que torna a medida necessária. Entretanto, o vendedor esperava um anúncio mais antecipado por parte da prefeitura. >
“Achei a decisão correta. Algumas pessoas estão se precavendo contra o coronavírus, mas outras não estão se importando. Mesmo assim, a medida tinha que ser avisada antes. Se o prefeito avisasse antes, na segunda, algumas pessoas não iam comprar em grande quantidade”, disse o vendedor.>
*Com orientação da subeditora Clarissa Pacheco>