Passageiros precisam entrar no mar após desabamento no atracadouro

Investimento previsto para reformar a ponteem São Tomé de Paripe é de aproximadamente R$ 2,3 milhões

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  • Da Redação

Publicado em 7 de dezembro de 2021 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/CORREIO

Depois do desabamento de um trecho da ponte do terminal marítimo de São Tomé de Paripe, que costuma ser usada principalmente no transporte de passageiros entre o bairro do Subúrbio Ferroviário e as ilhas de Maré e dos Frades, no último sábado, os populares precisam fazer manobras - dentro do mar e com barcos menores - para chegar e sair do bairro.  Alunos de escolas de Paripe que moram nas ilhas, quando a maré está alta, descem na parte inteira da ponte. Na maré baixa, eles precisam pegar uma canoa que os transporte até a areia, tendo que entrar na água para pisar em terra firme. Na prática, os passageiros das embarcações maiores precisam entrar em um barco menor ainda em alto mar para ir até a areia e fazer o mesmo processo na volta. Vale lembrar que a ponte já estava interditada antes do acidente e assim continua.  No momento do acidente, três carregadores estavam atravessando a ponte com mercadoria. Luís Eduardo, 20 anos, conta que sentiu dor e desespero quando caiu na água. “Quando eu estava descarregando, eu e mais dois companheiros de trabalho, um deles falou: ‘rapaz, eu acho que essa ponte vai cair’, mas nós não acreditamos. De repente só ouvimos o barulho e eu já estava dentro da água”, contou o morador de Paripe.  Segundo ele, as pessoas tiveram que jogar uma boia para que ele conseguisse sair de dentro do mar porque ele caiu em cima da própria perna e não conseguiu nadar. “Machuquei o dedo, a perna, mas nada muito grave. O ruim mesmo foi que perdemos o celular e a mercadoria, e não dá pra salvar. A gente trabalha com dor mesmo e ainda carregando peso nas canoas”, relatou. No local, já havia uma placa para proibir a entrada de pedestres na ponte. 

Os outros dois que caíram  foram os irmãos Raimundo e Raílson de Góes Santos. Raimundo teve mais dificuldade para deixar a água, visto que acabou ‘sugado’ pelo vácuo que a estrutura de concreto provocou, ao cair na água, e ainda teve que se preocupar em salvar a si mesmo, o irmão, e o investimento do pai, dono dos carros pranchas que caíram na água com mantimentos na hora do desabamento.“Trabalhando, eu sofri um acidente. Aqui todo cortado, quase morro. Faltou pouco. Meu irmão me chamando 'me salve, me salve', e o carrinho ainda ficou preso no meu ombro”, contou ele em um vídeo, após receber ajuda de uma embarcação.Ele também perdeu celular e as mercadorias que carregava, além da chave do carro. “Mas a minha indignação é que os poderes públicos viam uma situação daquela e não faziam nada”, protestou Raimundo, que, no vídeo, diz  que vai abrir uma ação judicial contra a Agerba (agência estadual que regula os serviços de transporte na Bahia).

O estado ruim da ponte também é apontado por quem não estava no acidente, mas convive diariamente com ela. O vendedor Edson Ribeiro, 36, dono de uma barraca no local, contou que só ouviu o estrondo. “A ponte já estava muito deteriorada, principalmente a parte da ponta, onde ficava a escada, estava rachada e os pilares também estavam quebrados”, disse. Ribeiro afirmou que o movimento no local já estava menor por conta do perigo e que só se agravou após o acidente.  A auxiliar administrativa, Neida Pereira, 35, contou que faz a travessia quase todos os dias da semana, mas que ela não tinha o costume de usar a ponte por causa da deterioração do equipamento.“Esse acidente foi avisado, a ponte já precisava de manutenção há mais de 10 anos, mas os órgãos públicos não se atentaram a isso e, infelizmente, o acidente aconteceu”, declarou a moradora de Ilha de Maré que estava no local esperando para  fazer a travessia. Já a pousada Casazul  Ilha de Maré, que recebe hóspedes que usam a estrutura, protestou por seu perfil nas redes sociais: “Por sorte, não houve nenhuma morte, mas algumas pessoas ficaram feridas. Agora o cidadão que todo santo dia pega seu barco às 6h/7h da manhã para ir trabalhar na cidade vai ter que tirar os sapatos e a calça para não se molhar ao descer dos barcos. Que lástima!”.

Obra do governo A Secretaria de Infraestrutura da Bahia (Seinfra) informou que a empresa responsável pela recuperação estrutural do terminal hidroviário  já está se mobilizando para iniciar a obra de restauração da ponte e a previsão de duração da reforma é de seis meses. “A execução do serviço, que será realizado em caráter emergencial pela Tecnocret Engenharia, já foi autorizada. O investimento previsto da obra é de aproximadamente R$ 2,3 milhões. A ação não havia sido iniciada anteriormente por conta da tramitação da documentação exigida pela Prefeitura de Salvador. Diante do ocorrido, a Seinfra deu a autorização em caráter emergencial para começar a requalificação”, escreveu a pasta. 

A Prefeitura de Salvador lamentou o ocorrido e afirmou que, mesmo não sendo a responsável pela administração do atracadouro de São Tomé de Paripe, tem acompanhado a situação do equipamento, estando sempre à disposição para auxiliar, dentro da competência municipal, para a resolução do problema.   “No dia 11 de novembro, a Defesa Civil de Salvador (Codesal) fez uma vistoria no local e, através da avaliação técnica que constatou os sérios riscos causados pela falta de manutenção, foi informada a situação à Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder) e à Secretaria de Infraestrutura do Governo do Estado da Bahia (Seinfra), para a tomada das providências necessárias acerca dos riscos encontrados, com o objetivo principal de garantir a segurança civil e preservação da vida dos cidadãos”, escreveu a prefeitura.   

*Sob orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo