Paulo Coelho comenta suspeita de que foi entregue por Raul Seixas na ditadura: 'Fiquei quieto por 45 anos'

Documento obtido no Arquivo Nacional mostra que agentes chegaram a Paulo com ajuda de Raul

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  • Da Redação

Publicado em 23 de outubro de 2019 às 11:16

- Atualizado há um ano

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O escritor Paulo Coelho comentou nesta quarta-feira (23) a suspeita de que o parceiro Raul Seixas o entregou aos militares durante a ditadura. 

Ao comentar uma reportagem da Folha sobre o lançamento de “Raul Seixas: Não Diga que a Canção Está Perdida”, do jornalista Jotabê Medeiros, o escritor falou pela primeira vez sobre o caso no Twitter. 

'Fiquei quieto por 45 anos. Achei que levava segredo para o túmulo', escreveu. Paulo não quis participar da reportagem, segundo citou a Folha.

O livro de Jotabê cita que Raul foi chamado para depor no Departamento de Ordem Política e Social (Dops), em 1974. Raul prestou dois depoimento e, em um deles, ligou para que Paulo o acompanhasse. Raul iria depor sobre o conteúdo das músicas feitas pelos dois, entre eles Sociedade Alternativa.

Segundo a reportagem da Folha, ao sair do depoimento, em que ficou por meia hora, Raul tentou dar uma mensagem cifrada para Paulo, que não entendeu. Paulo Coelho (Niels Akermann/Divulgação) A polícia prendeu no mesmo dia a namorada de Paulo, Adalgisa Rios. Ao ser liberado no dia seguinte, o escritor pegou um táxi, mas, ao descer do veículo, foi novamente capturado e mantido em cativeiro por duas semanas, onde sofreu diversas torturas.

“Raul evitou Paulo durante um ano depois do acontecido”, contou Jotabê à reportagem. “Paulo não tinha convicção das coisas, não pensava nisso, estava amedrontado, como talvez esteja até hoje.”, disse.

Um documento obtido no Arquivo Nacional mostra que os agentes chegaram a Paulo 'por intermédio do referido cantor'. À Folha, Medeiros disse que acredita que Coelho “não tem a menor dúvida, hoje, após ver o documento, de que Raul o entregou”.

Tortura Em setembro deste ano, à BBC Brasil, Paulo Coelho relembrou o episódio. "Os militares não entendiam as minhas músicas. Eles diziam 'Quem são esses caras aí? Raul Seixas e Paulo Coelho. Alguma coisa está errada porque a gente não entende o que eles estão falando'."

"Então, chamaram o Raul para depor. O Raul era o cantor. Como diz o Elton John, 'Don't Shoot Me, I'm Only the Piano Player' (Não atire em mim, eu sou apenas o pianista). Mas a eminência parda, o cara perigoso, o ideólogo era o letrista. Então eles me prenderam. Agora, tem que justificar uma prisão. Não acharam nada", contou

"Quando eu estava preso oficialmente, fichado, com impressão digital, meus pais conseguiram mandar um advogado. Aí, me soltaram no mesmo dia e me sequestraram em frente ao aterro do Flamengo. Me arrancaram do táxi, me jogaram na grama, me botaram a arma. Eu estava entregue. Aí eu fui torturado, apanhei, essas coisas todas."

Reação de fãs Imediatamente à publicação, seguidores do escritor comentaram a publicação. "Raul era realmente uma figura "contraditória", pra dizer o mínimo. mas era humano... como todos nós, uns mais, outros menos, tem suas inegáveis qualidades mas tem defeitos. nem todos nós entregamos amigos pra ditadura, mas não da pra dizer que não é algo muito "humano"', escreveu um seguidor. "Que tristeza. Que tristeza... Fiquei arrasada.", escreveu outra.