Pega na mentira: economia e meio ambiente foram temas recordes da desinformação

Verificações de conteúdo duvidoso foram feitas no segundo semestre pelo Projeto Comprova, que teve o CORREIO como parceiro

Publicado em 29 de dezembro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Óleo nas praias do Nordeste, queimadas na Amazônia e atuação de ONGs na floresta. Temas relacionados ao meio ambiente e à economia - como o desempenho do mercado e reformas - foram os campeões da desinformação esse ano. De um total de 76 verificações feitas de julho a dezembro deste ano na segunda fase do Projeto Comprova - uma coalizão formada por 24 veículos de mídia para combater a desinformação nas redes - quase a metade estava ligada à economia brasileira e ao meio ambiente.

O CORREIO, que integrou esta segunda fase do Comprova, dedicada a verificar conteúdos duvidosos ligados a políticas públicas federais, fez um levantamento dos temas mais investigados pela coalizão e encontrou 15 verificações sobre cada um dos dois temas mais recorrentes.

Questões ligadas à atuação política, à infraestrutura e à educação aparecem em seguida, com oito, sete e seis verificações, respectivamente.

Como combater Como os temas associados a políticas públicas são complexos e o ambiente político continuou tensionado após as eleições, o Comprova optou por fazer nesta segunda fase um jornalismo mais explicativo, agregando mais contexto às verificações.

As checagens em 2019 foram mais complexas. As apurações exigiram mais tempo e esforço e demandaram narrativas mais atraentes. O objetivo era que as reportagens fossem capazes de competir com as informações suspeitas, principalmente quando os conteúdos se mostraram falsos ou enganosos, com potencial de causar danos à sociedade.

O Comprova optou por publicar verificações ainda mais transparentes, convidando os leitores a refazer os caminhos das investigações e compartilhando com eles todos os materiais reunidos nas apurações.

O óleo nas praias do Nordeste brasileiro foi tema de cinco verificações publicadas pelo Comprova, o recorde. Outros temas recorrentes foram a Amazônia e as queimadas na região, as obras na BR-163, no Pará, o desempenho da economia brasileira e a ativista sueca Greta Thunberg. Das 76 verificações, apenas duas receberam integralmente a etiqueta de evidência comprovada - uma sobre o SUS e outra sobre mudanças na lei eleitoral.

O Comprova atuou de 15 de julho a 15 de dezembro e teve patrocínio da Google News Initiative, Facebook Journalism Project e WhatsApp e foi coordenado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), a convite do First Draft, organização internacional que estuda e combate a desinformação nos ambientes virtuais.

Nesta segunda fase, participaram do Comprova os veículos A Gazeta, AFP, Band, Band News, Band News FM, Futura, CORREIO, Correio do Povo, Gaúcha ZH, Folha de S. Paulo, Estadão, Exame, Jornal do Commercio, Metro, Nexo, Nova Escola, NSC Comunicação, O Povo, Poder 360, Rádio Bandeirantes, revista piauí, SBT e UOL.

VEJA AQUI TODAS AS VERIFICAÇÕES DO COMPROVA ESTE ANO

Conheça os temas mais recorrentes: - Óleo nas praias: O óleo que vazou e se espalhou pelas praias do Nordeste foi tema de cinco verificações. A primeira delas mostrou que era falsa a postagem que dizia que um navio venezuelano jogava petróleo no mar do Brasil. Na verdade, as imagens mostravam um navio português fazendo uma operação de dragagem em Portugal. Depois, o Comprova mostrou que uma notícia antiga sobre um vazamento de petróleo da Shell vinha sendo compartilhada como se fosse atual. A Shell voltou a ser alvo de desinformação quando postagens começaram a circular informando que o conteúdo de barris com a marca da empresa era o mesmo óleo vazado nas praias. O Comprova também mostrou que embalagens de uma empresa francesa não indicavam responsabilidade pelo vazamento e que um navio do Greenpeace não tinha jogado óleo no mar. (Foto: Arquivo CORREIO) - BR-163, no Pará: A BR-163, no estado do Pará, foi alvo de duas verificações. A primeira, no final de julho, mostrou que uma montagem que circulava nas redes era, no mínimo, enganosa. A primeira fotografia mostrava a estrada bastante enlameada e com ônibus e caminhões tendo dificuldade para se locomover. Os autores da montagem atribuem essa situação aos governos de Lula e Dilma Rousseff. O Comprova apurou que a foto foi capturada durante o governo de Michel Temer. Na segunda imagem, máquinas trabalham no asfaltamento da pista, o que é creditado ao governo de Jair Bolsonaro, iniciado em janeiro deste ano. No entanto, a foto foi feita em 2008, ano em que Lula era presidente. Outra montagem, em agosto, atribuía a Bolsonaro uma obra na BR-163 feita no governo Dilma.

- Greta Thunberg: A ativista sueca Greta Thunberg, 16 anos, esteve na mira de disseminadores de desinformação no mundo todo. Não foi diferente no Brasil, onde Greta também foi atacada pelo presidente Jair Bolsonaro e por membros da família. A primeira postagem verificada pelo Comprova foi em agosto, quando a sueca participou da cúpula do Clima, da ONU, em Nova York. Postagens afirmavam que ela estudava na escola mais cara do mundo e que possuía um veleiro, além de ser filha de um cientista social gay que havia abandonado as filhas. O Comprova mostrou que as afirmações eram falsas. A segunda verificação foi feita em dezembro, quando começou a circular um vídeo de uma mulher atirando com um fuzil, como se fosse Greta. O Comprova mostrou que a mulher no vídeo é uma engenheira sueca. (Foto: Cristina Quicler/AFP) - Economia: Diversos assuntos relacionados à economia brasileira foram alvo de desinformação e passaram por verificações do Comprova. As postagens foram desde informações enganosas sobre os saques do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) até as regras do programa Emprego Verde Amarelo, lançado em novembro pelo governo federal. Houve, ainda, postagens afirmando que o Brasil tinha se tornado a maior economia do mundo - o Comprova mostrou que o país ocupa apenas a 26ª posição - e que a produção de uma montadora estava esgotada até 2021, graças aos avanços na economia, o que era mentira. Até a alta do dólar virou conteúdo falso. (Foto: AFP) Outras agências de checagem: - Aos Fatos - Lupa - Estadão Verifica - Boatos.Org - e-Farsas - Checamos