'Perdi meu filho cheio de sonhos', desabafa pai de estudante morto em festa paredão

Crime aconteceu no bairro de São Caetano

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  • Bruno Wendel

Publicado em 9 de setembro de 2021 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/CORREIO

A tristeza no olhar seguido de um desabafo: “Perdi meu filho cheio de sonhos”. Estas foram as palavras do comerciante Marcos Antônio Mota de Souza, 56 anos, pouco antes de subir a rampa do Instituto Médico Legal (IML) para fazer o reconhecimento de seu filho, o estudante Marcos Gabriel Oliveira Mota Souza, 18.  O rapaz foi um dos estudantes baleados durante uma festa de paredão no bairro de São Caetano nesta terça-feira (7). Ele estava junto com o amigo, Lucas Gabriel da Conceição dos Santos, 19, que também foi baleado. Os dois foram socorridos, mas não resistiram. A Polícia Militar informou que ambos não tinham envolvimento com a criminalidade, mas foram vítimas de uma facção que chegou atirando contra todos da festa, que teria sido organizada por um grupo rival.  Segundo a família, Marcos Gabriel fazia o primeiro ano do curso de Engenheira de Produção na Unime de Lauro de Feitas, Região Metropolitana de Salvador (RMS). Ele ganhou uma bolsa parcial e pagava o restante com o salário mínimo de menor aprendiz do Banco do Nordeste. “Ele seria um grande homem, teria um futuro de sucesso. Queria ajudar a família, tinha o sonho como qualquer jovem da periferia: ter uma vida mais digna, casar e construir a própria família, mas não deixaram”, lamentou o pai.  O rapaz era o filho caçula do comerciante, que fez um apelo: “Estou arrasado com essa tragédia em minha família. Peço aos senhores donos da vida alheia que olhem para o outro como um semelhante. Somos iguais e as oportunidades dependem do esforço de cada um. Não decepem vidas, não façam o seu semelhante sofrer. Ame-o. Precisamos de paz”, disse ele, antes de seguir andando para casa, amparado por uma de suas filhas. Comerciante é amparado por filha na hora de reconhecer o corpo do caçula (Foto: Arisson Marinho/CORREIO)  A tia de Marcos Gabriel, Maíse Mota, 57, comentou a morte do sobrinho. “Passei mal. Quando meus filhos me contataram o que havia acontecido, custei a acreditar. Minha pressão subiu e precisei de medicamento. Só Deus sabe o estrago que essa tragédia fez em nossas vidas”, disse ela, que também estava no IML.   Maíse disse ainda que na última sexta-feira (3) a família estava radiante porque a avó de Marcos havia completado 83 anos. “No dia, comemoramos todos e estávamos felizes desde então, mas ontem acabou tudo. A avó está um caco com essa notícia”, contou.  Marcos e Lucas, que era estudante de radiologia, eram amigos inseparáveis. “Eles cresceram juntos. Fizeram juntos o ensino fundamental e o ensino médio. Onde um estava, o outro também estava e ontem não foi diferente. Marcos jogava num time e Lucas estava acompanhando a partida. Quando acabou, os dois combinaram de ir para casa e depois voltarem para a festa”, contou a prima de Marcos, Grazielle Souza, 19.  Grazielle também lamentou as mortes dos jovens.  “Esperava qualquer coisa, menos isso. Perdi meu primo e o meu amigo de anos. Estudamos os três juntos a vida toda”, declarou ela. Procurados, os parentes de Lucas não quiseram dar entrevistas.   Tia de estudante lamenta a morte do sobrinho (Foto: Arisson Marinho / CORREIO) Tiros  Os tiros aconteceram por volta das 18h. Segundo a Polícia Civil, acontecia inicialmente uma partida de futebol no Campo Paraíso, pouco antes do crime. Depois da partida, começou uma festa no local, na Rua Ana Mariani Bitencourt, na região da Gomeia. Cinco homens chegaram em um carro e começaram a atirar na direção das pessoas que estavam no evento. Uma equipe da 9ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM) foi até o local após receber denúncias de tiroteio em um paredão. Eles já encontraram três pessoas baleadas, entre elas Marcos e Lucas.

Os dois foram levados para a UPA de São Caetano e morreram. O terceiro ferido foi encaminhado para o Hospital do Subúrbio e não há detalhes sobre o estado de saúde dele. Por conta do tiroteio e das mortes, os rodoviários pararam de entrar na localidade da Gomeia nessa quarta. Os moradores da região precisram caminhar até a Estrada de Campinas para pegar ônibus pela manhã. O serviço foi normalizado por volta das 9h.   O caso será investigado pela Delegacia de Homicídios/BTS, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).  De acordo com a PM, o policiamento foi reforçado no bairro, mas os responsáveis pelos tiros não foram localizados.