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Da Redação
Publicado em 2 de setembro de 2019 às 11:14
- Atualizado há 2 anos
Nos anos 1970, um professor universitário decidiu largar seu trabalho e se isolar na floresta como protesto ao massacre vertiginoso da indústria à vida na Terra. Bill Mollison, como se chamava, tinha motivos de sobra para isso. Até seus 29 anos, plantava e colhia os próprios alimentos nas matas da Tanzânia, na Austrália, cercado de uma rica biodiversidade. Anos depois, testemunhou a degradação de rios e florestas que o sustentaram até a vida adulta.>
Em seu período solitário na mata, Mollison se aprofundou nos ciclos do ecossistema, desde o solo, insetos e fungos, raízes, até a regeneração e a rede colaborativa dos vegetais, a produção de alimentos, e o controle natural do que equivocadamente chamam hoje de “pragas”. Dessa percepção, nasceu o conceito da permacultura - a combinação das palavras “cultura permanente” -, que é a proposta de um design de vida conectado ao uso equilibrado e inteligente dos recursos naturais, seja para morar, consumir ou trabalhar.>
Nos anos 1980, Mollison levou essa ideia ao mundo, hoje cada vez mais praticada no meio urbano. Seus princípios foram sistematizados junto do estudioso David Holmgren. Para Mollison e Holmgren, nunca faltaria alimento, água ou energia onde houvesse floresta. Mas a indústria sempre explorou a floresta e seus recursos indiferente à sua necessidade de regeneração. Hoje, com a perda de biomas e a iminente escassez de água e outros bens naturais, as florestas preservadas viram alvo da produção em grande escala. Não à toa, elas se encontram justamente nas reservas indígenas e quilombolas.>
Mudar esse cenário é desafiador. Exige muita vontade e coerência política para a imposição de limites a grandes empresas. Por isso, a permacultura faz parte do que podemos chamar de microrrevolução. Saturadas de um mundo que se torna árido e artificial, as pessoas hoje despertam para o uso indiscriminado de agrotóxicos no meio rural, ou a produção anual de 60 bilhões de animais - quase 10 vezes a população humana - para ser mortos e embalados pela agroindústria.>
Pessoas extremamente urbanizadas têm se sensibilizado a plantar hortaliças na sacada, instalar composteiras em apartamentos, recolher água da chuva, ou trocar o carro por bicicleta. Até mesmo as crias do play buscam cursos para fazer sementes germinarem.>
Soluções para o destino correto de resíduos, produção própria de alimentos e arborização da rua do bairro não são apenas formas de sobreviver na cidade, mas de viver dignamente, minimizando crises de depressão, hipertensão e estresse registradas em pesquisas recentes por conta da falta de áreas verdes no meio urbano.>
A cultura permanente, pautada no cuidado com a natureza e com as pessoas, lembra o que indígenas e quilombolas têm feito para manter em pé as florestas que sustentam as cidades. É necessário que, como indivíduos, nos reconheçamos no papel de transformar nossa forma de estar no mundo.>
Débora Didonê é jornalista, praticante da permacultura, idealizadora do Canteiros Coletivos, e está fazendo uma vaquinha para conseguir participar do Laboratorio de Innovacion Ciudadana - LABIC na Costa Rica (colabore aqui: http://vaka.me/694304).>
Opiniões e artigos expressos nos artigos são de responsabilidade dos autores>