Perturbação faz muito mal ao Tricolor

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  • Paulo Leandro

Publicado em 6 de abril de 2022 às 05:15

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Seriam os pensamentos subproduto dos afetos? Depende.

Sim, supondo-se como premissa a capacidade de o raciocínio tornar-se refém do efeito de subjetividades. As paixões teriam a força de mobilizar a produção de ideias.

Não, se formarmos crença no poder de isolar os sentimentos a ponto de não influenciar nossas convicções. 

Tomemos como laboratório a Torcida Única (Bahia). Duas vitórias sobre o Jacuipense, desmotivado; e o Conquista, rebaixado; e mesmo terminando o Campeonato Baiano em sexto lugar, comemorar sete gols permite pensar positivo na Série A 2023.

Nestes exemplos, a alegria de vencer é condição necessária, inata e hereditária ao tricolor, a inspirar-lhe os melhores aforismos, reforçados com a promessa de professor Guto: vamos subir!

Toca Gêu: vamos fugir deste lugar, bêibe, vamos fugir...uma banda de maçã, outra banda de reggae... Toca Bob: não se preocupe, vai dar tudo certo! Comecemos a trilha pelo Cruzeiro de meu amor platônico, Maria Inês.

Neste tipo de amor, vale o desejo; quando há o encontro, e nele a satisfação, acaba o amor, pois o desejo terá sido saciado. Isto explica por que é conflituoso o relacionamento de gente certinha. O desejo (o "amor"), agora, é pelo acesso.

Quando o Esquadrão de Urânio, com 100 megatons, subir em dezembro, o desejo ("amor”) será outro, pela conquista da terceira estrela de campeão brasileiro a iluminar o ano de 2023, se ainda houver planeta até lá.

Enquanto o desejo e sua gêmea corpórea masculina, a ereção, durar estes oito meses, o deus Príapo, filho de Afrodite e Dioniso, estará no comando, mas vale lembrar a perguntinha lá do início do texto: o afeto manda na razão?

Um tropecinho besta, num batentezinho de nada, nem precisa doer ou sangrar, já terão mudado de ideia os tricolores “racionais”, a xingar todo mundo, nem Huguito “Rodajêga” estaria livre de ter lembrada sua ascendência na Colômbia.

Seria assim o torcedor “emotivo”, “passional”, “louco”, entre outros designadores rígidos de um clube impossível logicamente de ser chamado “Bahia” sem estas doações de sentido de seus mega-afetuosos seguidores.

Com estes supostos “insights” facilitados por esta coluna, em utilidade pública, a 0800, os tricolores poderão tomar consciência deles mesmos e fazer escolhas com responsabilidade dos efeitos de suas louvações ou xingamentos.

Seria oportuno, para reforçar o time do Bahia, evitar exageros, escalando na defesa Zenão, Marco Aurélio, Epicteto e Sêneca. Na frente da zaga, Epicuro faria a contenção, habitando os Jardins da Cidade Tricolor.

Além dos craques da ataraxia (evitar perturbação), contratem Aristóteles, visando ao equilíbrio: nem entusiasmo (quem conversa com deus) nas vitórias, nem a idiotia (quem conversa sozinho ou não di-aloga) nas derrotas.

O fato de o futebol controlar o tempo (e isto não é um poderzinho qualquer) ajuda nesta tomada de consciência, pois o campeonato tem 38 rodadas, feitas de derrotas aqui ou ali, e umas boas vitórias, até de goleada.

Vamos verificar, jogo a jogo, se é possível ao cocheiro da razão controlar os cavalos do ímpeto e do desejo tricolor, ou viria do suposto descontrole a dinâmica de "ser-Bahia", tornando-se impossível reeeducar quem anda sempre carente por ser mimado demais.

Paulo Leandro é jornalista e professor Doutor em Cultura e Sociedade